Matéria publicada pela Folha de S Paulo, no mês de junho último, de autoria de Luísa Brito, destaca os erros encontrados em diversos livros didáticos de história sobre o islamismo.
A jornalista destaca duas fontes diferentes, a Escola Islâmica Brasileira, localizada na zona leste de São Paulo e uma dissertação de mestrado na USP, da professora Ana Gomes, que analisou 53 livros didáticos, em seus capítulos dedicados ao islamismo, todos com erros.
A reportagem não cita os nomes dos livros, porém cada professor ou estudante pode conferir seu livro a partir do principal exemplo citado: “Um dos erros mais comuns, por exemplo, é dizer que jihad significa guerra santa. A tradução de jihad é esforço”. Segundo a pesquisa, os erros levam a uma imagem negativa dos muçulmanos.
Pensar o Islamismo nos livros didáticos significa em um primeiro momento, mais uma vez, um olhar eurocêntrico. A maioria dos livros didáticos procura compreender o surgimento e a expansão do Islamismo a partir do século VII, tomando como base valores atuais e ocidentais e dedicam pequeno espaço para esse momento histórico e seus desdobramentos imediatos.
A idéia de que “o islamismo não é uma religião original, pois foi influenciada pelo judaísmo e cristianismo” é muito comum, e demonstra desprezo pela nova doutrina.
Ao mesmo tempo os livros omitem que Maomé considera que Moisés e Jesus foram profetas, fato que dá aos muçulmanos um caráter mais universal e tolerante.
Outro erro recorrente é considerar que os muçulmanos defendem a guerra para impor sua religião a outros povos e garantir o reino do céu. A expansão islâmica – na idade média – foi caracterizada pela tolerância religiosa em relação aos povos vencidos e suas guerras estão relacionadas a uma série de motivações, de ordem socioeconômica, política e cultural e não necessariamente por interesse de expandir a fé.
A professora Ana Gomes declarou a Folha que "Os livros estudados reproduziram apenas os significados errados que corriqueiramente são imputados a algumas palavras árabes e que os problemas acontecem por desconhecimento, despreparo e desleixo de alguns profissionais”.
Ainda segundo a mesma matéria, “Para o professor Suhail Majzoub, que ensina cultura geral, o erro, muitas vezes, é intencional e, em outros casos, acontece por desconhecimento.
"Se você fala em guerra santa, sem dúvida alguma, gera uma imagem negativa em quem está lendo. Isso é ruim, os povos precisam viver em paz".
Em um momento marcado pelo aumento das atenções em direção ao “mundo árabe”, principalmente a partir do ataque do 11 de setembro de 2001 e por um discurso preconceituoso em relação aos povos árabes e aos muçulmanos, os livros didáticos não produziram alterações em seus conteúdo e portanto não cumprem o papel de formar cidadãos conscientes e críticos.
“Na minha infância eu não tive oportunidades para ler, mas tinha uma enorme admiração pelas pessoas que liam. Quando dava, eu lia jornais e revistas... Meu pai foi um grande leitor e passou, mesmo que indiretamente, a lição da leitura para minha vida! Enquanto fui crescendo, era muito difícil ter tempo, cuidava de meus irmãos e logo depois vieram os filhos. Casada, aí mesmo é que não encontrava espaço para ler, trabalhava e vivia a dupla rotina de ser mãe e trabalhadora.
Há pouco mais de dois anos sofri um infarto e este acontecimento marcou muito a minha vida, foi quando comecei a ler, durante o repouso que o meu estado exigia e... desde então, nunca mais parei de ler. Li e leio muito. Autores como Nara Roberts, Danielli Stell, zibia Gaspareto e Sdney Sheldon, entre outros. Em dois, três dias, ‘devoro’ um livro, de 300, 400 páginas... Enquanto não consigo terminar, não paro. Começo a ler, entro ‘de cabeça’ na história, e a vivo até o fim! Graças a Deus, tive a chance de passar para minhas filhas esse gosto pela leitura, esse ensinamento sobre o valor do livro”.
OS ALUNOS DA 4ª SÉRIE, DA PROFESORA ROSANA, APRESENTARAM A MÚSICA 'O CADERNO', DE VINÍCIUS E TOQUINHO, CUJA LETRA ESTÁ AÍ EMBAIXO, E DERAM DE PRESENTE UM CADERNO GIGANTE, CHEIO DE DECLARAÇÕES DE AFETO, QUE FIZERAM NA ESCOLA, PARA A DIRETORA DA BIBLIOTECA, PROFESSORA ADRIANE.
O CADERNO Vinícius de Moraes e Toquinho
Sou eu que vou seguir você
Do primeiro rabisco até o be-a-ba
Em todos os desenhos coloridos vou estar
A casa, a montanha, duas nuvens no céu
E um sol a sorrir no papel
Sou eu que vou ser seu colega,
Seus problemas ajudar a resolver
te acompanhar nas provas bimestrais você vai ver
Serei de você confidente fiel,
Se seu pranto molhar meu papel
Sou eu que vou ser seu amigo,
Vou lhe dar abrigo, se você quiser
Quando surgirem seus primeiros raios de mulher
A vida se abrirá num feroz carrossel
E você vai rasgar meu papel
O que está escrito em mim
Comigo ficará guardado, se lhe dá prazer
A vida segue sempre em frente, o que se há de fazer
Só peço a você um favor, se puder:
Não me esqueça num canto qualquer.
O historiador teatrólogo, crítico e regionalista João Cândido Maia, nasceu em Triunfo, no dia 28 de março de 1862, filho de João Felix Maia e Maria Cândido Maia. Estudou na Escola de Guerra de Porto Alegre, mas não terminou o curso. Diplomou-se em Filosofia pela Faculdade de Filosofia de Letras no Rio de Janeiro, em 1934.
Foi redator de ‘O Pampa’, em 1872, e ‘A Idéia’, de 1883 a 1885; Diretor de ‘O Farol’, de Cachoeirinha do Sul, em 1885; e no ‘Serventuário da Justiça’, em Porto Alegre. Redator de ‘A Federação’, de Porto Alegre; Proprietário e fundador do jornal ‘Cruz Alta’, que dirigiu em 1901; Diretor de ‘A Gazeta’, de Porto Alegre’, em 1913, e diretor de ‘O Diário de Guaporé’, em 1920. O Cel. aposentou-se como oficial de órfãos e ausentes da Comarca de Porto Alegre.
João Cândido Maia foi fundador e presidente da ARI Associação Riograndense de Imprensa, da Academia Riograndense de Letras e da Academia de Letras do Rio Grande do Sul, onde durante suas gestões foi o reerguedor dessas entidades, em suas segundas fases. Foi também co-fundador do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, de Porto Alegre, em 1920. E ainda co-fundador e presidente do Instituto Riograndense de Letras, de Porto Alegre, em 1902. Era avô de João Maia Neto.
Faleceu em Porto Alegre, em 06 de maio de 1944, deixando inúmeras obras publicadas.
OBRAS PUBLICADAS:
* A ADÚLTERA, drama estreado pela S.D. União Militar em Porto Alegre, 1887, 35 páginas, tipografia do Jornal do Comércio.
* HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO SUL - para o Ensino Cívico, 1ª edição 1998, 217 páginas, Livraria e Tipografia de Franco e Irmãos (várias edições a partir de 1902).
* NOTÍ CIA HISTÓRICA DO ESTADO, em o Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Editora Globo, Volume I, 1929.
* Letras, Artes e Ciências, Volume I. 1922, Livraria do Globo, Porto Alegre.
* Pampa, episódios e regionais, 1ª edição 1925, 124 páginas, Editora Globo, Porto Alegre.
* Poetisas Rio-Grandenses, biografias e apreciações críticas, conferência no Clube Renascença de Taquari, 1932.
* André, o Farrapo, romance regional, 1932, 107 páginas.
* Formação do Rio Grande do Sul - Resenha Histórica, tese, 1936, volume 1 dos Anais do I Congresso de História e Geografia Sul-Riograndenses, patrocianao pelo IHGRGS.
* Carlos Ferreira, necrologia, Anuário do Estado do RS, Porto Alegre, 1914.
* A Independência, conferência, 1922, nº 8 ano II, revista do IHGRGS.
* Regonalismo em Confronto, ensaio de estudo inédito, 1925, nº 19/20 ano V, revista IHGRGS.
* Aquiles Porto Alegre, necrologia, 1926, nº 21/22 ano VI, revista IHGRGS.
* Tiradentes, conferência em 21/04/1926, nº 21/22, da revista do IHGRGS.
* Saudando Jorge Bahlis, discurso, 1932, nº 40 ano XII, da revista do IHGRGS.
‘Leitura e Arte por toda a Parte’ é o slogan da Biblioteca para o ano de 2010. E agora com o novo mascote, o Súper Leitor, à tiracolo, sua equipe vai poder trabalhar brincando mais ainda e chegar a lugares mais longínquos, na realidade e/ou na fantasia, levando alegria, cultura e sabedoria.
Há 60 anos, a Biblioteca Pública Coronel João Maia vem desempenhando um papel relevante para a cultura do povo de Triunfo. Fundada em 24 de junho de 1950, através da Lei Municipal nº 48, pelo então Prefeito José Luiz de Freitas, funcionou inicialmente em uma sala junto à Administração Municipal.
Em 1977, passou a funcionar no Museu Farroupilha e, em 1985, foi instalada definitivamente na Rua Demétrio Ribeiro, nº 40, próximo à Igreja Matriz, que servira anteriormente de casa canônica, onde residia o Padre Neves.
Vinculada à Secretaria Municipal de Educação, neste momento está sendo dirigida pela professora Adriane Ávila Franco, que conta com uma equipe de funcionários engajada num trabalho que visa elevar o padrão cultural da comunidade, a fim de que a mesma possa perceber e compreender a realidade com mais sensibilidade e exatidão, através do conhecimento, da cultura e da arte.
Atualmente conta com um acervo de aproximadamente 15 mil livros, atendendo a um número considerável de leitores, diariamente, dando acesso à leitura e ao entretenimento. Muitos são os que buscam ali conhecimento e informação qualificada. A sua mais assídua leitora, é Rosineli Beatriz Leal Lopes (Néia) que foi reconhecida publicamente. Leia o seu depoimento, mais adiante.
Segundo a diretora da Biblioteca, para o ano de 2010, foi adotado o slogan “Leitura e Arte por toda a Parte”, expressão e ação que encabeça vários projetos que envolvem as Escolas e a comunidade triunfense em geral. Dentre eles destacam-se o ‘Teatro na Escola’, ‘Mascote da Biblioteca’, ‘Biblioteca na Praça’, culminando com a tradicional e exitosa Feira Municipal do Livro que este ano ocorrerá de 27 a 30 de outubro. “ A Biblioteca Pública é uma instituição que pertence a toda comunidade, por isso devemos incentivar e mediar todas as formas, para que mais pessoas possam conhecê-la e usufruir de seus serviços, através de um trabalho constante de renovação e atualização de seu acervo literário e bibliográfico”, esclarece a professora.
A FESTA DA BIBLIOTECA TEVE DIREITO A UM BONITA ORNAMENTAÇÃO EM P&B E BOLO COM VELINHA E TUDO!
Entre as autoridades que se encontravam na Festa da Biblioteca - que ganhou de aniversário dois valiosos presentes: um mascote, o ‘Super Leitor’, que foi apresentado ao público através de um bunner, mas que brevemente vai ganhar vida, no corpo de um boneco, a exemplo de outros que ela já possui, estavam a 1ª dama, professora Marinês Tavares, e alguns Secretários Municipais.O Súper Leitor vai ajudar com excelência, por certo, a levar ‘Leitura e Arte, por Toda parte’.
O projeto de escolha do ‘Mascote da Biblioteca’ envolveu as escolas municipais. A autoria do nome escolhido coube aos alunos da turma de 2ª série da Escola Cândido Justiminiano de Carvalho e a figura representativa (desenho) escolhida foi do aluno Rafael Sacilloto, da Escola Qorpo Santo. Conheça a fisionomia do Súper Leitor na foto do bunner!
O outro presente foi uma bonita poesia, feita especialmente para essa ocasião, pelo poeta Tabajar Carvalho, “Morada do Conhecimento”, juntamente com a dedicatória:
“ À Biblioteca cel. João Maia/
morada do conhecimento,/
nosso reconhecimento/
e feliz aniversário./
Cada livro no armário com saber, cultura e arte/
da nossa vida faz parte/
nesse acervo literário”.
Confira a beleza da poesia, que conta toda a história da biblioteca e cujo autor leu emocionado para os convidados da festa, confira mais adiante.
O poeta e trovador Germaninho também declamou uma poesia de sua autoria, e Giovani dos Santos Júnior, fez o pré-lançamento do seu livro “Contos e Histórias para Ler e Refletir”, que será lançado oficialmente durante a próxima Feira do Livro(na foto acima). E, durante a tarde, a aniversariante recebeu várias turmas de pequenos alunos, das Escolas Municipais, que após conhecerem ou visitarem a Biblioteca, brincaram muito na rua, que foi fechada para este fim.
O presente artigo, em sua primeira parte, delineia o perfil da escola ideal,explicitando o seu papel ao longo da história e reverenciando como especificidade a sua tonalidade
democrática, aberta a todos os segmentos da sociedade, e viva, em constante construção. Sintetiza também a abordagem neopiagetina do processamento de informações, nas suas perspectivas cognitiva e contextual. Na segunda parte, tentamos resumir a vida e a obra de Jean Piaget e de Lev Vygostsky, respectivamente, levantando os principais aspectos de seus estudos, identificando as suas constribuições na
construção do sujeito cognoscente. No item três, assinalamos as diversidades mais marcantes, e as convergências dos pressupostos teóricos, nas abordagens dstes pesquisadores,
apontando algumas saídas pedaagógicas para o planejamento de ensino e a práxis no dia a dia na escola. E, por último,
abordamos as conclusões a que chegamos através da retomada da bibliografia destes dois autores, com a finalidade de elaborar este estudo.
PALAVRAS-CHAVES
Sujeito - construção do conhecimento – desenvolvimento - interação social – linguagem – pensamento – inteligência
Este é oprojeto do TCC abaixo disponibilizado. Se não conseguir ler aqui, vá direto ao SlideShare, onde a letra é maior e você pode fazer o download . Boa sorte! Projeto de pesquisa inclusão
Quem precisar pesquisar sobre o assunto, sinta-se à vontade, são quase 300 páginas ao seu dispor. Bom Trabalho!
RESUMO
Este trabalho tenta sensibilizar aos professores e professoras para a produção de vídeo na escola, como ferramenta para o sucesso da Inclusão no Ensino Fundamental e Médio, enquanto instrumento de motivação, objeto de estudo e amplo poder de intervenção social, que precisa ser aproveitado e conhecido, para o domínio de seus mecanismos, como linguagem e como tecnologia, para favorecer o espírito crítico dos alunos, especialmente em relação às televisões comerciais. Seus três capítulos, buscam estabelecer a inter-relação da Educação/Comunicação, sob o paradigma de um novo campo de estudos, a Educomunicação,apresentando: uma breve história da Escola, através dos tempos; a influência dos Meios de Comunicação de Massa na Cultura, nos costumes e sobre a forma de aprender e apreender o mundo; e, ainda, uma pedagogia da comunicação a serviço da cidadania.
"A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se
da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida que aos poucos se gasta e, que gasta,
de tanto acostumar, se perde de si mesma. " Marina Colassanti (1937)
BIOGRAFIA Marina Colasanti (Sant'Anna) nasceu em 26 de setembro de 1937, em Asmara (Eritréia), Etiópia. Viveu sua infância na África (Eritréia, Líbia). Depois seguiu para a Itália, onde morou 11 anos. Chegou ao Brasil em 1948, e sua família se radicou no Rio de Janeiro, onde reside desde então. Possui nacionalidade brasileira e naturalidade italiana.
Entre 1952 e 1956 estudou pintura com Catarina Baratelle; em 1958 já participava de vários salões de artes plásticas, como o III Salão de Arte Moderna. Nos anos seguintes, atuou como colaboradora de periódicos, apresentadora de televisão e roteirista.
Ingressou no Jornal do Brasil em 1962, como redatora do Caderno B, desenvolveu as atividades de: cronista, colunista, ilustradora, sub-editora, Secretária de Texto. Foi também editora do Caderno Infantil do mesmo jornal. Participou do Suplemento do Livro com numerosas resenhas. No mesmo período editou o Segundo Tempo, do Jornal dos Sports. Deixou o JB em 1973.
Assinou seções nas revistas: Senhor, Fatos & Fotos, Ele e Ela, Fairplay, Claudia e Jóia.
Em 1976 ingressou na Editora Abril, na revista Nova da qual já era colaboradora, com a função de editora de comportamento.
De fevereiro a julho de 1986 escreveu crônicas para a revista Manchete.
Deixa a Editora Abril em 1992, como editora especial, após uma breve permanência na revista Claudia, tendo ganho três Prêmios Abril de Jornalismo. De maio de 1991 a abril de 1993 assinou crônicas semanais no Jornal do Brasil.
De 1975 até 1982 foi redatora na agência publicitária Estrutural, tendo ganho mais de 20 prêmios nesta área.
Atuou na televisão como entrevistadora de Sexo Indiscreto - TV Rio, e e entrevistadora de Olho por Olho - TV Tupi.
Na televisão foi editora e apresentadora do noticiário Primeira Mão -TV Rio, 1974; apresentadora e redatora do programa cultural Os Mágicos -TVE, 1976; âncora do programa cinematográfico Sábado Forte -TVE, de 1985 a 1988; e âncora do programa patrocinado pelo Instituto Italiano de Cultura, Imagens da Itália- TVE, de 1992 a 1993.
Em 1968, foi lançado seu primeiro livro, Eu Sozinha; desde então, publicou mais de 30 obras, entre literatura infantil e adulta. Seu primeiro livro de poesia, Cada Bicho seu Capricho, saiu em 1992. Em 1994 ganhou o Prêmio Jabuti de Poesia, por Rota de Colisão (1993), e o Prêmio Jabuti Infantil ou Juvenil, por Ana Z Aonde Vai Você?. Suas crônicas estão reunidas em vários livros, dentre os quais Eu Sei, mas não Devia (1992) que recebeu outro prêmio Jabuti, além de Rota de Colisão igualmente premiado.
Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Dentre outros escreveu E por falar em amor; Contos de amor rasgados; Aqui entre nós, Intimidade pública, Eu sozinha, Zooilógico, A morada do ser, A nova mulher (que vendeu mais de 100.000 exemplares), Mulher daqui pra frente, O leopardo é um animal delicado, Gargantas abertas e os escritos para crianças Uma idéia toda azul e Doze reis e a moça do labirinto de vento. Colabora, atualmente, em revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna com quem teve duas filhas: Fabiana e Alessandra.
Em suas obras, a autora reflete, a partir de fatos cotidianos, sobre a situação feminina, o amor, a arte, os problemas sociais brasileiros, sempre com aguçada sensibilidade.
OBRAS
Eu sozinha (1968) Nada na Manga - crônicas (1975) Zoológico - Contos (1975) A morada do ser - contos (1978) Uma idéia toda azul - contos de fadas (1979) A Nova Mulher - coletânea de artigos (1980) Mulher Daqui Prá Frente - coletânea de artigos (1981) Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento - contos de fadas (1982) A menina Arco-Iris - infantil (1984) E por falar em amor - ensaio (1984) O Lobo e o Carneiro no Sonho da Menina - infantil (1985) Uma Estrada junto ao Rio - infantil (1985) O Verde Brilha no Poço - infantil (1986) Contos de Amor Rasgados - contos (1986) O menino que achou uma estrela - infantil (1988) Um amigo para sempre - infantil (1988) Aqui entre nós - coletânea de artigos (1988) Será que tem asas? - infantil (1989) Ofélia a ovelha - infantil (1989) A mão na massa - infantil (1990) Intimidade pública - coletânea de artigos (1990) Agosto 91, Estávamos em Moscou (1991) Entre a espada e a rosa - contos de fadas (1992) Ana Z, Aonde vai você? - juvenil (1993) Rota de Colisão - poesia (1993) Um amor sem palavras - infantil (1995) O homem que não parava de crescer - juvenil (1995) De Mulheres sobre tudo - citações (1995) Eu sei mas não devia - (1997) Gargantas abertas - poesia (1998) O Leopardo é um animal delicado - contos (1998) Um espinho de marfim e outras histórias - antologia de contos de fada (1999) Esse amor de todos nós - coletânea de textos (2000)
TEXTOS Às seis da tarde
Ás seis da tarde as mulheres choravam no banheiro. Não choravam por isso ou por aquilo choravam porque o pranto subia garganta acima mesmo se os filhos cresciam com boa saúde se havia comida no fogo e se o marido lhes dava do bom e do melhor choravam porque no céu além do basculante o dia se punha porque uma ânsia uma dor uma gastura era só o que sobrava dos seus sonhos. Agora às seis da tarde as mulheres regressam do trabalho o dia se põe os filhos crescem o fogo espera e elas não podem não querem chorar na condução
Eu Sou uma Mulher Eu sou uma mulher que sempre achou bonito menstruar. Os homens vertem sangue por doença sangria ou por punhal cravado, rubra urgência a estancar trancar no escuro emaranhado das artérias. Em nós o sangue aflora como fonte no côncavo do corpo olho-d'água escarlate encharcado cetim que escorre em fio. Nosso sangue se dá de mão beijada se entrega ao tempo como chuva ou vento. O sangue masculino tinge as armas e o mar empapa o chão dos campos de batalha respinga nas bandeiras mancha a história. O nosso vai colhido em brancos panos escorre sobre as coxas benze o leito manso sangrar sem grito que anuncia a ciranda da fêmea. Eu sou uma mulher que sempre achou bonito menstruar. Pois há um sangue que corre para a Morte. E o nosso que se entrega para a Lua
Vincent Ciprestes de Van Gogh imóveis labaredas verdes incêndios sobre a tela verdes mulheres nuas em seus cabelos. Ciprestes de Van Gogh bizantinas colunas da paisagem vórtice remoinho erguido como o grito o fallus o arremesso de gozo do pintor.
Dois contos: Um espinho de marfim Amanhecia o sol e lá estava o unicórnio pastando no jardim da Princesa. Por entre flores olhava a janela do quarto onde ele vinha cumprimentar o dia. Depois esperava vê-la no balcão, e, quando o pezinho pequeno pisava no primeiro degrau da escadaria descendo ao jardim, fugia o unicórnio para o escuro da floresta. Um dia, indo o Rei de manhã cedo visitar a filha em seus aposentos, viu o unicórnio na moita de lírios. Quero esse animal para mim. E imediatamente ordenou a caçada. Durante dias o Rei e seus cavaleiros caçaram o unicórnio nas florestas e nas campinas. Galopavam os cavalos, corriam os cães e, quando todos estavam certos de tê-lo encurralado, perdiam sua pista, confundindo-se no rastro. Durante noites o rei e seus cavaleiros acamparam ao redor de fogueiras ouvindo no escuro o relincho cristalino do unicórnio. Um dia, mais nada. Nenhuma pegada, nenhum sinal de sua presença. E silêncio nas noites. Desapontado, o rei ordenou a volta ao castelo. E logo ao chegar foi ao quarto da filha contar o acontecido. A princesa penalizada com a derrota do pai, prometeu que dentro de três luas lhe daria o unicórnio de presente. Durante três noites trançou com fios de seus cabelos uma rede de ouro. De manhã vigiava a moita de lírios do jardim. E no nascer do quarto dia , quando o sol encheu com a primeira luz os cálices brancos, ela lançou a rede aprisionando o unicórnio. Preso nas malhas de ouro, olhava o unicórnio aquela que mais amava, agora sua dona, e que dele nada sabia. A princesa aproximou-se. Que animal era aquele de olhos tão mansos retido pela artimanha de suas tranças? Veludo do pelo, lacre dos cascos, e desabrochando no meio da testa, espinho de marfim, o chifre único que apontava ao céu. Doce língua de unicórnio lambeu a mão que o retinha. A princesa estremeceu, afrouxou os laços da rede, o unicórnio ergueu-se nas patas finas. Quanto tempo demorou a princesa para conhecer o unicórnio? Quantos dias foram precisos para amá-lo? Na maré das horas banhavam-se de orvalho, corriam com as borboletas, cavalgavam abraçados. Ou apenas conversavam em silêncio de amor, ela na grama, ele deitado aos seus pés, esquecidos do prazo. As três luas porém já se esgotavam. Na noite antes da data marcada o rei foi ao quarto da filha lembrar-lhe a promessa. Desconfiado, olhou nos cantos, farejou o ar. Mas o unicórnio comia lírios tinha cheiro de flor, e escondido entre os vestidos da princesa confundia-se com os veludos, confundia-se com os perfumes. Amanhã é o dia. Quero sua palavra comprida, disse o rei- virei buscar o unicórnio ao cair do sol. Saído o rei, as lágrimas da princesa deslizaram no pelo do unicórnio. Era preciso obedecer ao pai, era preciso manter a promessa. Salvar o amor era preciso. Sem saber o que fazer, a princesa pegou o alaúde, e a noite inteira cantou sua tristeza. A lua apagou-se. O sol mais uma vez encheu de luz as corolas. E como no primeiro dia em que haviam se encontrado a princesa aproximou-se do unicórnio. E como no segundo dia olhou-o procurando o fundo de seus olhos. E como no terceiro dia aproximou a cabeça do seu peito, com suave força, com força de amor empurrando, cravando o espinho de marfim no coração, enfim florido. Quando o rei veio em cobrança da promessa, foi isso que o sol morrente lhe entregou, a rosa de sangue e um feixe de lírios. COLASANTI, Marina."Um espinho de Marfim". IN: Um Espinho de Marfim e outras histórias. Porto Alegre: L&PM. p. 39,1999.
Luz de lanterna, sopro de vento Tendo o marido partido para a guerra, na primeira noite da sua ausência a mulher acendeu uma lanterna e pendurou-a do lado de fora da casa. "Para trazê-lo de volta," murmurou. E foi dormir. Mas, ao abrir a porta na manhã seguinte, deparou-se com a lanterna apagada. "Foi o vento da madrugada," pensou olhando para o alto como se pudesse vê-lo soprar. À noite, antes de deitar, novamente acendeu a lanterna que, a distância deveria indicar ao seu homem o caminho de casa. Ventou de madrugada. Mas era tão tarde e ela estava tão cansada que nada ouviu, nem o farfalhar das árvores, nem o gemido das frestas, nem o ranger das argolas da lanterna. E de manhã surpreendeu-se ao encontrar a luz apagada. Naquela noite, antes de acender a lanterna, demorou-se estudando o céu límpido, as claras estrelas. "Na certa não ventará," disse em voz alta, quase dando uma ordem. E encostou a chama do fósforo no pavio. Se ventou ou não, ela não saberia dizer. Mas antes que o dia raiasse não havia mais nenhuma luz, a casa desaparecia nas trevas. Assim foi durante muitos e muitos dias, a mulher sem nunca desistir acendendo a lanterna que o vento, com igual constância apagava. Talvez meses tivessem passado quando num entardecer, ao acender a lanterna, a mulher viu ao longe recortada contra a luz que lanhava em sangue o horizonte, a silhueta escura de um homem a cavalo. Um homem a cavalo que galopava na sua direção. Aos poucos, apertando os olhos para ver melhor, distinguiu a lança erguida ao lado da sela, os duros contornos da couraça. Era um soldado que vinha. Seu coração hesitou entre o medo e a esperança. O fôlego se reteve por instantes entre lábios abertos. E já podia ouvir os cascos batendo sobre a terra, quando começou a sorrir. Era seu marido que vinha. Apeou o marido. Mas só com um braço rodeou-lhe os ombros. A outra mão pousou na empunhadura da espada. Nem fez menção de encaminhar-se para a casa. Que não se iludisse. A guerra não havia acabado. Sequer havia acabado a batalha que deixara pela manhã. Coberto de poeira e sangue, ainda assim não havia vindo para ficar. "Vim porque a luz que você acende à noite não me deixa dormir," disse-lhe quase ríspido. "Brilha por trás das minhas pálpebras fechadas, como se me chamasse. "Só de madrugada depois que o vento sopra posso adormecer." A mulher nada disse. Nada pediu. Encostou a mão no peito do marido, mas o coração dele parecia distante, protegido pelo couro da couraça. "Deixe-me fazer o que tem de ser feito, mulher," disse sem beijá-la. De um sopro apagou a lanterna. Montou a cavalo, partiu. Adensavam-se as sombras, e ela não pode sequer vê-lo afastar-se contra o céu. A partir daquela noite, a mulher não acendeu mais nenhuma luz. Nem mesmo a vela dentro de casa, não fosse a chama acender-se por trás das pálbebras do marido. No escuro, as noites se consumiam rápidas. E com elas carregavam os dias, que a mulher nem contava. Sem saber ao certo quanto tempo havia passado, ela sabia porém que era tanto. E, passado, num final de tarde em que a soleira da porta despedia-se da última luz no horizonte, viu desenhar-se lá longe a silhueta de um homem. Um homem à pé que caminhava na sua direção. Protegeu os olhos com a mão para ver melhor e aos poucos, porque o homem avançava devagar, começou a distinguir a cabeça baixa, o contorno dos ombros cansados. Contorno doce, sem couraça, retendo o sorriso nos lábios- tantos homens haviam passado sem que nenhum fosse o que ela esperava. Ainda não podia ver-lhe o rosto, oculto entre a barba e o chapéu, quando deu o primeiro passo e correu ao seu encontro, liberando o coração. Era seu marido que voltava da guerra. Não precisou perguntar-lhe se havia vindo para ficar. Caminharam até a casa. Já iam entrar. Quando ele se reteve. Sem pressa voltou-se, e, embora a noite ainda não tivesse chegado, acendeu a lanterna. Só entrou com a mulher. E fechou a porta. COLASANTI, Marina."Luz de lanterna, sopro de vento ". IN: Um Espinho de Marfim e outras histórias. Porto Alegre: L&PM. p. 39,1999. BIBLIOGRAFIA SOBRE A AUTORA COELHO, Nelly Novaes. Dicionário crítico da literatura infantil e juvenil brasileira, 1882/1982. São Paulo: Quíron, 1983. p.661-667. CUNHA, Fausto. Sair da Floresta. In: Colasanti, Marina. Nada na manga. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1973. p.11-13. PAIXÃO, Sylvia. Clarice Lispector e Marina Colasanti: Mulheres de Jornal. In: REZENDE, Beatriz (org.). Cronistas do Rio. Rio de Janeiro: J. Olympio: CCBB, 1995. p. 99-116.
Pablo Neruda, nome artístico de Neftalí Ricardo Reyes Basoalto, nasceu a 12 de julho de 1904, em Parral, no Chile. Prêmio Nobel de Literatura em 1971, sua poesia transpira em sua primeira fase o romantismo extremo de Walt Whitman. Depois vieram a experiência surrealista, a influência de André Breton, e uma fase curta bastante hermética.
Marxista e revolucionário, cantou as angústias da Espanha de 1936 e a condição dos povos latino-americanos e seus movimentos libertários. Diplomata desde cedo, foi cônsul na Espanha de 1934 a 1938 e no México.
Pablo Neruda havia chegado à Espanha em 1934, primeiro em Barcelona, nos albores da chamada República dos Trabalhadores, proclamada em 1931. Logo ligou-se ao mundo boêmio e literário de Madri, freqüentando poetas como Garcia Lorca, Rafael Albert, Vicente Aleixandre e Cernuda, - a “Geração de 27” - que, em nenhum momento, fizeram-lhe qualquer restrição por ele vir lá de um fundão como o Chile (“com a cabeça quase enfiada no Polo Sul”, como ele dizia).
Eclodido o golpe do general Franco, Neruda, ainda diplomata, esqueceu-se de manter-se neutro e engajou-se na guerra ao lado do governo republicano acossado, usando como arma palavras e estrofes, compondo o impressionante “Espanha no Coração (“olhem para a minha casa morta/ olhem para a Espanha rota/ mas de cada casa morta sai metal ardendo em vez de flores”).
Antes de retirar-se para Paris, ainda aparceirou-se com o peruano César Vallejo para organizar o Grupo Hispano-americano de ajuda à Espanha. Por fim , com a república em colapso, destruída pelo golpe fascista, nada mais lhe restou senão que salvar o que podia.
Correndo até Marselha, Neruda conseguiu fretar um navio, o “Winnipeg”. Em seguida, tratou de carregá-lo com os refugiados que quisessem ir para o Chile. Homens, mulheres e crianças, num total de 2.500 passageiros, uma autêntica nau de desesperados esperançosos, zarpando do porto francês de Trompeloup-Pauillac, no dia 4 de agosto de 1939, partiu então para Valparaiso, lá do outro lado do mundo.
Um mês depois, no cais do porto chileno, quando desembarcaram em 3 de setembro de 1939, em meio ao regozijo geral, esperava-os um jovem médico de nome Salvador Allende. Neruda, que sempre foi discreto a respeito da sua atuação nesse episódio, confessou que aquilo, ter salvo aquela gente, fora o seu "mais belo poema".
Enquanto os que entraram na lista do poeta se salvavam, milhares de outros espanhóis que não tinham para onde ir, continuaram detidos nos campos de Argéles sur Mer e de Saint Cyprién. Um número impressionante deles apresentou-se como voluntários para ir lutar ombro a ombro ao lado dos franceses, quando a França entrou em guerra e foi invadida pelos nazistas em 1940.
Desbaratada a resistência, feitos prisioneiros de guerra, os voluntários espanhóis foram classificados pelos nazistas como “terroristas” e remetidos para campos de concentração. Sete mil deles morreram no campo de Mauthausen.
Neruda desenvolveu intensa vida pública entre 1921 e 1940, tendo escrito entre outras as seguintes obras: "La canción de la fiesta", "Crepusculario", "Veinte poemas de amor y una canción desesperada", "Tentativa del hombre infinito", "Residencia en la tierra" e "Oda a Stalingrado".
Indicado à Presidência da República do Chile, em 1969, renuncia à honra em favor de Salvador Allende. Participa da campanha e, eleito Allende, é nomeado embaixador do Chile na França.
Outras obras do autor: "Canto General", "Odas elementales", "La uvas y el viento", "Nuevas odas elementales", "Libro tercero de las odas", "Geografía Infructuosa" e "Memórias (Confieso que he vivido — Memorias)".
Seus primeiros trabalhos literários foram publicados na cidade de Temuco. Em 1921 foi para Santiago, continuar seus estudos como professor de francês, e ganhou o seu primeiro prêmio literário.
Ali publicou o seu primeiro livro, "Crepusculario", que se seguiu, em 1924, por "Veinte Poemas de Amor y una Cancion Desesperada", sua obra mais conhecida e um dos mais lindos conjuntos de poemas de amor que já se escreveu. Em 1927 foi nomeado Consul em Rangún (Birmânia), indo depois para Colombo (Ceilão) e para Batavia (Java) e, finalmente, Singapura.
Depois de cinco anos, regressou ao Chile, onde escreve "Residencia en la Terra" e, em 1933 "El Hondero Entusiasta". Em 1934 tornou-se consul em Barcelona e, em 1935 foi transferido para Madrid. Com a guerra civil espanhola foi para Paris e escreve "España en el Corazón", seguida, em 1939 por "Las Furias y las Penas". Em 1940 foi nomeado consul geral no México, onde ficou até 1943. Regressando ao Chile, recebeu, em 1945, o "Premio Nacional de Literatura".
Pelo fato de participar ativamente de atividades políticas e pelo fato do Partido Comunista, ao qual pertencia, ter sido declarado ilegal, teve que sair do Chile. Em 1950, no México, publicou "Canto General". Depois de passar pelo México, pela França e pela Itália, voltou ao Chile em 1952 recebendo, em 1953, o "Premio Stalin da Paz".
A seguir publica "Odas Elementales" e "Las Uvas y el Viento". A partir passou a proferir diversas palestras pelo mundo, tendo publicado, em 1956 "Nuevas Odas Elementales" e "El Gran Oceano". Em 1957 "Tercer Libro de Odas", em 1958 "Navegaciones y Regreso", em 1959 "Cien Sonetos de Amor", em 1960 "Cancion de Gesta", em 1961 "Las Piedras de Chile" e "Cantos Ceremoniales", e em 1962 "Plenos Poderes". Em 1964 publica "Memorial de Isla Negra", seguida de "Arte de Pajaros", em 1966, "Las Manos del Dia" em 1968, "Fin del Mundo" e "Aun", em 1969. Em 1969 foi indicado pré-candidato à presidência do Chile, fato que não chegou a se concretizar e publicou, em 1970 "La Espada Encendida" e "Las Piedras del Cielo".
Ainda em 1970, é designado embaixador na França, recebendo, em 21 de outubro de 1971, o "Prêmio Nobel de Literatura". Em 23 de setembro de 1973, sucumbe à doença e, certamente, à amargura do golpe de estado vitorioso de Pinochet contra o governo de Salvador Allende.
De uma forma geral, pode-se dizer que a poesia de Pablo Neruda tem quatro vertentes. A primeira refere-se aos seus poemas de amor, como em "Veinte Poemas de Amor y una Cancion Desesperada". A Segunda vertente é representada pela poesia voltada para a solidão e a depressão, como em "Residencia en la Tierra". A poesia épica, política, como por exemplo, em "Canto General" representa a terceira vertente e a poesia do dia a dia, como em "Odas Elementales", a Quarta.
Allende e Neruda iriam encerrar suas vidas quase que juntos. Gravemente doente, refugiado na sua morada da Ilha Negra, Neruda não resistiu à notícia do golpe de 11 de setembro de 1973. Seu amigo Allende se suicidara e os tanques governavam o país. Dois golpes militares violentos, o de Franco, em 1936, e o de Pinochet, em 1973, eram demais para um poeta. No dia 23 de setembro de 1973 – há trinta anos passados - removeram-no para um clínica, mas de nada adiantou. As geladas mãos da morte fizeram-no parar de viver.
Morreu a 23 de setembro de 1973 em Santiago do Chile, oito dias após a queda do Governo da Unidade Popular e da morte de Salvador Allende.
A notícia do falecimento dele correu de boca em boca por Santiago. Quem iria se atrever, com aqueles tiros todos nas ruas, com os cadáveres jogados nas calçadas e nas sarjetas, a ir aos funerais de Neruda? Pois foram. Quando o modesto caixão foi levado para o cemitério, a multidão foi se ajuntando ao redor do esquife. Murmurando versos dele, as ruas foram se enchendo de gente, recitando trechos da “Canção Desesperada” , ou ainda a estrofe “Abandonado como um cais ao amanhecer/ É a hora de partir, oh abandonado! ” Durante os quinze anos seguintes nenhum chileno ousou sair á ruas em protesto.
Em nome daqueles espanhóis, deserdados de tudo, que entraram na providencial lista de Neruda - cujos descendentes se tornaram “os filhos de Neruda” - , foi que o juiz espanhol Baltasar Garson entrou em ação.
Em outubro de 1998, quando o ex-ditador estava em Londres para um tratamento de saúde, o juiz enviou um requerimento solicitando ao governo britânico que detivesse e, em seguida, extraditasse o general Augusto Pinochet para a Espanha. Não consegue o intento, mas expôs Pinochet frente ao mundo. Foi a maneira dos espanhóis poderem manifestar, ainda que tardiamente, a sua solidariedade a Neruda.
Cuerpo de mujer, blancas colinas, muslos blancos,
te pareces al mundo en tu actitud de entrega.
Mi cuerpo de labriego salvaje te socava
y hace saltar el hijo del fondo de la tierra.
Fui solo como un túnel. De mí huían los pájaros
y en mí la noche entraba su invasión poderosa.
Para sobrevivirme te forjé como un arma,
como una flecha en mi arco, como una piedra en mi honda.
Pero cae la hora de la venganza, y te amo.
Cuerpo de piel, de musgo, de leche ávida y firme.
¡Ah los vasos del pecho! ¡Ah los ojos de ausencia!
¡Ah las rosas del pubis! ¡Ah tu voz lenta y triste!
Cuerpo de mujer mía, persistiré en tu gracia. Mi sed, mi ansia si límite, mi camino indeciso! Oscuros cauces donde la sed eterna sigue,
y la fatiga sigue, y el dolor infinito.
O Poço
Cais, às vezes, afundas
em teu fosso de silêncio,
em teu abismo de orgulhosa cólera,
e mal consegues
voltar, trazendo restos
do que achaste
pelas profunduras da tua existência.
Meu amor, o que encontras
em teu poço fechado?
Algas, pântanos, rochas?
O que vês, de olhos cegos,
rancorosa e ferida?
Não acharás, amor,
no poço em que cais
o que na altura guardo para ti:
um ramo de jasmins todo orvalhado,
um beijo mais profundo que esse abismo.
Não me temas, não caias
de novo em teu rancor.
Sacode a minha palavra que te veio ferir
e deixa que ela voe pela janela aberta.
Ela voltará a ferir-me
sem que tu a dirijas,
porque foi carregada com um instante duro
e esse instante será desarmado em meu peito.
Radiosa me sorri
se minha boca fere.
Não sou um pastor doce
como em contos de fadas,
mas um lenhador que comparte contigo
terras, vento e espinhos das montanhas.
Dá-me amor, me sorri
e me ajuda a ser bom.
Não te firas em mim, seria inútil,
não me firas a mim porque te feres.
O teu riso
Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.
Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.
Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.
À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.
Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.
EDWARDS, Jorge. ADEUS POETA (UMA BIOGRAFIA DE PABLO NERUDA). São Paulo: Siciliano, 1993.
URRUTIA, Matilde. Minha Vida com Pablo Neruda. São Paulo: Bertrand, 1990.
ENTREVISTA RELÂMPAGO DE
PABLO NERUDA
À CLARICE LISPECTOR
Cheguei à porta do edifício de apartamentos onde mora Rubem Braga e onde Pablo Neruda e sua esposa Matilde se hospedavam - cheguei à porta exatamente quando o carro parava e retiravam a grande bagagem dos visitantes. O que fez Rubem dizer: "É grande a bagagem literária do poeta". Ao que o poeta retrucou: "Minha bagagem literária deve pesar uns dois ou três quilos".
Neruda é extremamente simpático, sobretudo quando usa o seu boné ("tenho poucos cabelos, mas muitos bonés"). Não brinca porém em serviço: disse-me que se me desse a entrevista naquela noite mesma só responderia a três perguntas, mas se no dia seguinte de manhã eu quisesse falar com ele, responderia a maior número. E pediu para ver as perguntas que eu iria fazer. Inteiramente sem confiança em mim mesma, dei-lhe a página onde anotara as perguntas, esperando só Deus sabe o quê. Mas o quê foi um conforto. Disse-me que eram muito boas e que me esperaria no dia seguinte. Saí com alívio no coração porque estava adiada a minha timidez em fazer perguntas. Mas sou uma tímida ousada e é assim que tenho vivido, o que, se me traz dissabores, tem-me trazido também alguma recompensa. Quem sofre de timidez ousada entenderá o que quero dizer.
No dia seguinte de manhã, fui vê-lo. Já havia respondido às minhas perguntas, infelizmente: pois, a partir de uma resposta, é sempre ou quase sempre provocada outra pergunta, às vezes aquela a que se queria chegar. As respostas eram sucintas. Tão frustrador receber resposta curta a uma pergunta longa.
Contei-lhe sobre a minha timidez em pedir entrevistas, ao que ele respondeu: "Que tolice!"
Perguntei-lhe de qual de seus livros ele mais gostava e por quê. Respondeu-me:
- Tu sabes bem que tudo o que fazemos nos agrada porque somos nós - tu e eu - que o fizemos.
- Você se considera mais um poeta chileno ou da América Latina?
- Poeta local do Chile, provinciano da América Latina.
- O que é angústia? - indaguei-lhe.
- Sou feliz - Foi a resposta.
- Escrever melhora a angústia de viver?
- Sim, naturalmente. Trabalhar em teu ofício, se amas teu ofício, é celestial. Senão é infernal.
- Quem é Deus?
- Todos, algumas vezes. Nada, sempre.
- Como é que você descreve um ser humano o mais complexo possível?
- Político, poético. Físico.
- Como é uma mulher bonita?
- Feita de muitas mulheres.
- Escreva aqui o seu poema predileto, pelo menos predileto neste exato momento?
- Estou escrevendo. Você pode esperar por mim dez anos?
- Em que lugar gostaria de viver, se não vivesse no Chile?
- Acredite-me tolo ou patriótico, mas eu há algum tempo escrevi um poema:
Se tivesse que nascer mil vezes.
Ali quero nascer.
Se tivesse que morrer mil vezes.
Ali quero morrer...
- Qual foi a maior alegria que teve pelo fato de escrever?
- Ler a minha poesia e ser ouvido em lugares desolados: no deserto aos mineiros do norte do Chile, no Estreito de Magalhães aos tosquiadores de ovelha, num galpão com cheiro de lã suja, suor e solidão.
- Em você o que precede a criação, é a angústia ou um estado de graça?
- Não conheço bem esses sentimentos. Mas não me creia insensível.
- Diga alguma coisa que me surpreenda.
- 748.
(E eu realmente surpreendi-me, não esperava uma harmonia de números).
- Você está a par da poesia brasileira? Quem é que você prefere na nossa poesia?
- Admiro Drummond, Vinícius e aquele grande poeta católico, claudelino, Jorge de Lima. Não conheço os mais jovens e só chego a Paulo Mendes Campos e Geir Campos. O poema que me agrada é o "Defunto", de Pedro Nava. Sempre o leio em voz alta aos meus amigos, em todos os lugares.
- Que acha da literatura engajada?
- Toda literatura é engajada.
- Qual de seus livros você mais gosta?
- O próximo.
- A que você atribui o fato de que os seus leitores acham você o 'vulcão da América Latina'?
- Não sabia disso, talvez eles não conheçam os vulcões.
- Qual é o seu poema mais recente?
- "Fim do Mundo". Trata do século XX.
- Como se processa em você a criação?
- Com papel e tinta. Pelo menos essa é a minha receita.
- A crítica constrói?
- Para os outros, não para o criador.
- Você já fez algum poema de encomenda? Se o fez faça um agora, mesmo que seja um bem curto.
- Muitos. São os melhores. Este é um poema.
- O nome Neruda foi casual ou inspirado em Juan Neruda, poeta da liberdade tcheca?
- Ninguém conseguiu até agora averiguá-lo.
- Qual é a coisa mais importante do mundo?
- Tratar de que o mundo seja digno para que todas as vidas humanas, não só para algumas.
- O que é que você mais deseja para você mesmo como indivíduo?
- Depende da hora do dia.
- O que é amor? Qualquer tipo de amor.
- A melhor definição seria: o amor é o amor.
- Você já sofreu muito por amor?
- Estou disposto a sofrer mais.
- Quanto tempo gostaria você de ficar no Brasil?
- Um ano, mas depende de meus trabalhos.
E assim terminou uma entrevista com Pablo Nerudo. Antes ele falasse ele mais. Eu poderia prolongá-la quase que indefinidamente, mesmo recebendo como resposta uma única seta de resposta. Mas era a primeira entrevista que ele dava no dia seguinte à sua chegada, e sei quanto uma entrevista pode ser cansativa. Espontaneamente, deu-me um livro. Cem sonetos de amor. E depois de meu nome, na dedicatória, assinou: "De seu amigo Pablo". Eu também sinto que ele poderia se tornar meu amigo, se as circunstâncias facilitassem. Na contracapa do livro diz: "Um todo manifestado com uma espécie de sensualidade casta e pagã: o amor como uma vocação do homem e a poesia como sua tarefa".
Eis um retrato de corpo inteiro de Pablo Neruda nestas últimas frases.
A lista de Pablo Neruda
Uma das mais generosas e exemplares ações de solidariedade humana que ocorreram um pouco antes da 2ª Guerra Mundial eclodir foi a ensejada pelo poeta chileno Pablo Neruda.
Cônsul do seu país em Paris, ele tratou de salvar um número significativo de refugiados espanhóis que se abrigaram na França, após a derrota dos republicanos na guerra civil de 1936-9. Conseguiu milagrosamente, em agosto de 1939, fretar um navio, o Winnipeg, proporcionando a que 2.500 asilados que pudessem começar uma nova vida na América do Sul, poupando-os da guerra mundial e salvando-os dos campos de concentração. Eles formaram a lista de Neruda.
A estrada do sofrimento
"O melhor poeta é o que entrega o pão de cada dia...a entrega da mercadoria: pão, verdade, vinho, sonhos...é uma ração de compromisso"
Pablo Neruda – Discurso de Estocolmo, 1971
A longa coluna estreitava-se pelas passagens sinuosas dos montes Pirineus. Caminhões, carroças, gente montada e gente a pé, misturavam-se naquela estrada do sofrimento em busca de um refúgio seguro nas terras da França. Era a então chamada República dos Trabalhadores que, saindo da Espanha, derrotada pelo levante militar do general Francisco Franco (iniciado em 18 de julho de 1936), arrastava-se para fora do país. Milicianos da UGT e da CNT, carregando seus fuzis, soldados rasos do exército popular, operários das fábricas da Catalunha e de Valência, famílias inteiras de camponeses levando nos ombros um cobertor ou mesmo um colchão, a brava gente pobre da Ibéria, com a cara endurecida pela vida e pela ferocidade da guerra civil, no alto daquelas montanhas, enfrentava o frio glacial daquele de janeiro-fevereiro 1939, para escapar à implacável repressão franquista.
O governo francês, que nada fizera para salvar a república golpeada, ainda lhes aprontou outra. Confinou aquele povo todo - chegaram a ser mais de 400 mil -, em 15 campos de concentração espalhados pelo sul do país. Trataram-nos como se fossem párias. Nessas circunstâncias dramáticas é que Pablo Neruda, poeta já de certa fama que fora nomeado para ser cônsul chileno em Paris, incumbiu-se de uma missão. Determinou-se, com apoio do novo governo do seu país, a não medir esforços para ajudar os refugiados espanhóis que se derramavam em massa pelas fronteiras da França. A posição dele somente foi possível porque o presidente do Chile, Aguirre Cerda - eleito pela Frente Popular, uma coalizão das esquerdas - vencera as eleições de 1938.
O cônsul Neruda
Pablo Neruda havia chegado à Espanha em 1934, primeiro em Barcelona, nos albores da chamada República dos Trabalhadores, proclamada em 1931. Logo ligou-se ao mundo boêmio e literário de Madri, freqüentando poetas como Garcia Lorca, Rafael Albert, Vicente Aleixandre e Cernuda, - a “Geração de 27” - que, em nenhum momento, fizeram-lhe qualquer restrição por ele vir lá de um fundão como o Chile (“com a cabeça quase enfiada no Polo Sul”, como ele dizia).
Eclodido o golpe do general Franco, Neruda, ainda diplomata, esqueceu-se de manter-se neutro e engajou-se na guerra ao lado do governo republicano acossado, usando como arma palavras e estrofes, compondo o impressionante “Espanha no Coração (“olhem para a minha casa morta/ olhem para a Espanha rota/ mas de cada casa morta sai metal ardendo em vez de flores”). Antes de retirar-se para Paris, ainda aparceirou-se com o peruano César Vallejo para organizar o Grupo Hispano-americano de ajuda à Espanha. Por fim , com a república em colapso, destruída pelo golpe fascista, nada mais lhe restou senão que salvar o que podia.
A nau do desespero e da esperança
Correndo até Marselha, Neruda conseguiu fretar um navio, o “Winnipeg”. Em seguida, tratou de carrega-lo com os refugiados que quisessem ir para o Chile. Homens, mulheres e crianças, num total de 2.500 passageiros, uma autêntica nau de desesperados esperançosos, zarpando do porto francês de Trompeloup-Pauillac, no dia 4 de agosto de 1939, partiu então para Valparaiso, lá do outro lado do mundo. Um mês depois, no cais do porto chileno, quando desembarcaram em 3 de setembro de 1939, em meio ao regozijo geral, esperava-os um jovem médico de nome Salvador Allende. Neruda, que sempre foi discreto a respeito da sua atuação nesse episódio, confessou que aquilo, ter salvo aquela gente, fora o seu "mais belo poema".
Enquanto os que entraram na lista do poeta se salvavam, milhares de outros espanhóis que não tinham para onde ir, continuaram detidos nos campos de Argéles sur Mer e de Saint Cyprién. Um número impressionante deles apresentou-se como voluntários para ir lutar ombro a ombro ao lado dos franceses, quando a França entrou em guerra e foi invadida pelos nazistas em 1940. Desbaratada a resistência, feitos prisioneiros de guerra, os voluntários espanhóis foram classificados pelos nazistas como “terroristas” e remetidos para campos de concentração. Sete mil deles morreram no campo de Mauthausen.
Solidariedade a Neruda
Mais de trinta anos depois desse episódio, Neruda, premiado com o Nobel de Literatura em 1971, e Allende, empossado presidente da republica chilena no mesmo ano, iriam encerar sua vidas quase que juntos. Gravemente doente, refugiado na sua morada da Ilha Negra, Neruda não resistiu à notícia do golpe de 11 de setembro de 1973. Seu amigo Allende se suicidara e os tanques governavam o país. Dois golpes militares violentos, o de Franco, em 1936, e o de Pinochet, em 1973, eram demais para um poeta. No dia 23 de setembro de 1973 – há trinta anos passados - removeram-no para um clínica, mas de nada adiantou. As geladas mãos da morte fizeram-no parar de viver.
A notícia do falecimento dele correu de boca em boca por Santiago. Quem iria se atrever, com aqueles tiros todos nas ruas, com os cadáveres jogados nas calçadas e nas sarjetas, a ir aos funerais de Neruda? Pois foram. Quando o modesto caixão foi levado para o cemitério, a multidão foi se ajuntando ao redor do esquife. Murmurando versos dele, as ruas foram se enchendo de gente, recitando trechos da “Canção Desesperada” , ou ainda a estrofe “Abandonado como um cais ao amanhecer/ É a hora de partir, oh abandonado! ” Durante os quinze anos seguintes nenhum chileno ousou sair á ruas em protesto.
Em nome daqueles espanhóis, deserdados de tudo, que entraram na providencial lista de Neruda - cujos descendentes se tornaram “os filhos de Neruda” - , foi que o juiz espanhol Baltasar Garson entrou em ação. Em outubro de 1998, quando o ex-ditador estava em Londres para um tratamento de saúde, o juiz enviou um requerimento solicitando ao governo britânico que detivesse e, em seguida, extraditasse o general Augusto Pinochet para a Espanha. Não consegui o intento, mas expôs Pinochet frente ao mundo. Foi a maneira dos espanhóis poderem manifestar, ainda que tardiamente, a sua solidariedade a Neruda.
(*) A intenção do dr. Garson era levá-lo a julgamento por ter praticado crimes contra a humanidade, especificamente contra 73 cidadãos espanhóis que foram mortos no Chile durante o regime militar. Apesar de concordarem com a demanda, o governo britânico, em vista do delicado estado em que o general Pinochet, um octogenário, se encontrava, permitiu que ele retornasse para Santiago.
Pablo Neruda havia chegado à Espanha em 1934, primeiro em Barcelona, nos albores da chamada República dos Trabalhadores, proclamada em 1931. Logo ligou-se ao mundo boêmio e literário de Madri, freqüentando poetas como Garcia Lorca, Rafael Albert, Vicente Aleixandre e Cernuda, - a “Geração de 27” - que, em nenhum momento, fizeram-lhe qualquer restrição por ele vir lá de um fundão como o Chile (“com a cabeça quase enfiada no Polo Sul”, como ele dizia).
Eclodido o golpe do general Franco, Neruda, ainda diplomata, esqueceu-se de manter-se neutro e engajou-se na guerra ao lado do governo republicano acossado, usando como arma palavras e estrofes, compondo o impressionante “Espanha no Coração (“olhem para a minha casa morta/ olhem para a Espanha rota/ mas de cada casa morta sai metal ardendo em vez de flores”.