23 de março de 2009

Ao viajar, os bons navegantes não decoram todas as ondas e gotas de água, mas norteiam-se pelas estrelas e mapas.



Gladis Maia

Onde está a vida que perdemos vivendo?Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento?Onde está o conhecimento que perdemos na informação? S.Eliot


Estima-se que o volume de informações produzido pela humanidade dobra a cada 20 anos. Mesmo imaginando a impossível atividade de ler 10 h por dia, a uma média de 15 páginas por hora, sem finais de semana livres, que utilidade essa carga de informação teria?

Se pensarmos que cada vez mais o conhecimento deve tender à globalização e não à especialização, como durante muito tempo se admitiu, veremos que é impossível acessar toda a informação ao mesmo tempo. Mais que isso, inútil.
Apesar dessa constatação, nossa escola – do 1º ao 3º Grau - continua tentando formar alunos como se ainda estivéssemos no século passado e não no limiar de uma Nova Era. Ensinando fatos, cobrando sua memorização, num nítido desvio de seu principal papel: o de ensinar a aprender. As datas e os nomes da história são ensinados, mas não se fazem relações críticas entre os diversos fenômenos, entre as épocas.

Como na moral da conhecida historinha onde cinco cegos encontram um elefante e cada um apalpa um pedaço dele e sai relatando às demais pessoas como era o animal que "viu"... Infelizmente o nosso sistema educacional não se diferencia muito dessa visão cognitiva do elefante.

Ensina-se numa disciplina o “rabo”, na outra a “tromba” e espera-se que o aluno faça sozinho a parte mais difícil da tarefa, que é montar o elefante como um sistema completo em seu arcabouço de representação mental.

A interdisciplinaridade, tão falada e tão pouco praticada, não apenas leva à formação mais completa do estudante e do cidadão, preparando-o para interagir com as informações esparsas e construir seu conhecimento, como também permite uma compreensão mais profunda das próprias questões especializadas.

A maior parte da informação transmitida na escola é mero ruído, quando não se encaixa em algum modelo, quando não possui utilidade imediata. O indivíduo deve ser sabedor da existência de determinadas informações e de onde se localizam para que, no momento adequado, as acesse. Nesse sentido, é papel importante da escola criar ambientes de aprendizagem fundamentados na pesquisa, enquanto busca e avaliação de informações.


Com o advento da micro-eletrônica e da informática, a estocagem de informações em memórias quase infinitas, o processamento de dados em frações de minuto e a impossibilidade, no decurso de uma vida, de acesso à cultura universal são reveladores da impropriedade dos métodos escolares vigentes.

A escola está imobilizada na antiquada formação de erudição, que sequer atinge, em vez de se arrojar na formação de sujeitos críticos e dotados de autonomia de aprendizagem.

Com as rápidas transformações nos meios e nos modos de produção, resultado da revolução tecnológica e científica, estamos entrando em uma nova era da humanidade. Neste quadro a educação não apenas tem que se adaptar às novas necessidades como, principalmente, assumir um papel de ponta nesse processo: o papel fundamental do conhecimento nas relações de produção e, por conseqüência, na ordem e no poder mundiais.

Com os progressos da automação, centenas de milhões de desempregados se tornarão delinqüentes, com a redução do trabalho humano na produção e nos serviços, se não criarmos um novo sentido da vida na nova sociedade.

O profissional do futuro - e o futuro já começou - terá como principal tarefa aprender. Sim, pois para executar tarefas repetitivas existirão os computadores e robôs. Ao homem compete ser criativo, imaginativo, inovador.

A carga horária de trabalho desse profissional do futuro digamos que venha a ser de cinco horas diárias - sendo modestos, e o contrário disso é imaginar hordas de desempregados, delinqüência e barbárie. Dessas cinco horas - e sempre falando hipoteticamente - uma hora diária seria dedicada ao que podemos chamar de produção propriamente dita e as demais quatro horas seriam entregues ao estudo, à pesquisa, à aprendizagem.

Isso não é mera futurologia, pois hoje as profissões baseadas no conhecimento - e não na venda de força de trabalho - já funcionam desta maneira. Uma única boa idéia justificará o salário de vários anos de um empregado numa empresa.
A escola tem que preparar seus alunos para esta realidade, eles terão que aprender a aprender, e aprender a fazê-lo com autonomia. O conceito de educação permanente será mais válido do que nunca.

O homo studiosus como realização dos mais velhos sonhos humanistas, libertando o homem das tarefas desumanizantes - que qualquer máquina, robô ou computador pode fazer - e tornando a cultura, o saber e a arte sua principal tarefa. Neste cenário, onde está a diferença entre a escola e a profissão?

A cruel piada de que "quem sabe faz, quem não sabe ensina" reflete bem a desqualificação do profissional da educação. O amadorismo é hoje a maior praga da profissão de professor. A idéia de sacerdócio justifica a incompetência e castiga com os maus salários, a pedagogia do afeto - amor e ódio - asfixia a pedagogia do intelecto. A própria gestalt das escolas reflete sua contradição com a exigência dos novos tempos: seu visual geralmente está mais para um cartório de notas do que para um ambiente estimulador do prazer intelectual.

Para alterarmos este quadro, não basta a lamúria, a mera boa-vontade ou mesmo a determinação política: há que mirar-se nos demais avanços da humanidade e integrá-los na escola. Por que a escola tem que ser mais atrasada e mais enfadonha do que a TV ou um vídeo game ? Afinal, nenhuma criança demonstra atração por esta espécie de sadomasoquismo cognitivo. Uma das alternativas é o uso da tecnologia educacional, assunto para novo artigo.Pensem nisso! Namastê!

15 de março de 2009

Ler é questionar o mundo e ser questionado por ele!



Gladis Maia

E quando falamos em leitor, não estamos referindo-nos a quem se limita a decodificar manuais ou a mascar chicletes do espírito, que ocupam o
sujeito¸ mas não trazem alimento algum.
Ana Maria Machado, in Contracorrente.


O investimento na formação do leitor será sempre uma declaração de crença na democracia e reafirmação na esperança de um futuro mais digno e humano. Na contramão da história, hoje são as crianças que lêem ou contam histórias aos adultos.

A família, embora se posicione a favor, não lê e interfere negativamente no trabalho de formação do leitor, ao privilegiar formas de lazer que, pensa ela, trazem maior prazer do que a leitura. Na verdade, somos todos – pais, professores, babás, avós, irmãos mais velhos... - responsáveis pela leitura, como somos responsáveis pelo nosso país.

No entanto pesquisas comprovam que o professor leitor-crítico é raridade. Podem ser invocadas as mais variadas razões: falta de salário digno, tempo escasso, desinformação, lacunas na formação profissional, mas a verdade é que a constatação da falência do sistema de ensino no Brasil passa, sem dúvida alguma, pela falta de familiaridade dos alunos e dos professores com o livro.

A maioria dos professores apenas lê – quando lê – aqueles livros relacionados com o exercício profissional, ou mais comumente cópias xerocadas de páginas desses, o que não constitui um leitor. Ser leitor pressupõe sempre a capacidade de desempenhar-se bem em múltiplas escritas e competência de ler entrelinhas.

A associação entre divertimento, entretenimento, prazer e livros para consumo é extremamente danosa à formação continuada do leitor. Não estou falando de que os livros não devem nos causar prazer, é claro que sim, mas somente prazer não adianta muito, é prostituir-se o sentido maior do ato da leitura.

Quanto já ouvimos falar de preferências por livros escolhidos pelo número de páginas, pelo colorido e quantidade das ilustrações, pelo enredo repetitivo e o final feliz, muita narrativa e nenhuma poesia e outros fatores relacionados à sensação de leitura prazerosa?

Basta observarmos quais os livros que se tornam best-sellers durante as feiras do livro, cuja maioria não passa de água com açúcar ou receitas para a felicidade, como se isto fosse possível ser prescrito ...

Infelizmente este estado de coisas está arraigado à cultura do nosso tempo: hedonista, egocêntrica, sensorial, imediatista e descompromissada. Nela o prazer é um fim em si mesmo. Nela a leitura desvincula-se de tempo e espaço que não seja o aqui e agora. Tudo converge para uma satisfação momentânea, que desconhece vínculos e diferenças.

É preciso divulgar a noção de que a leitura é trabalho, é atividade, é intervenção do leitor no texto produtivo. Exige empenho, atuação, persistência, vitória sobre desafios. Mas é também encontro de respostas para os problemas da vida, descoberta de que o mundo e o homem podem ser diferentes, é equipamento para a realização de uma trajetória de desafios historicamente estabelecidos.

Ler é exercitar todos os sentidos nesta busca e alimentar o imaginário na interação com as construções literárias inventadas a partir do real. Ler é conhecer, não apenas no sentido de acumular informações, mas de integrar-se à realidade do mundo e da interioridade. É buscar a capacidade de se propor utopias para depois persegui-las, enquanto se for vivo. E quando morrermos, que alguém continue a colher o que semeamos e entusiasmado recomece o plantio.

Nunca se publicou tanto na história da escrita como no século passado, mesmo com a entrada vitoriosa dos computadores na vida moderna, a escrita e a leitura continuam sendo ações indispensáveis ao desenvolvimento humano. No entanto, não tem crescido, proporcionalmente, o número de leitores críticos, com proficiência em textos complexos.

Numa ciranda perversa, o leitor formado ( ?) pela escola somente lê o que lhe cai graciosamente às mãos - geralmente textos com qualidade inferior ou duvidosa – e ainda se acredita um leitor competente. Ao deixar as salas de aula, a falta de exercício da leitura verbal reconverte-o em analfabeto e, muito tragicamente, em um cidadão que sabe ler, mas não lê.

Em paralelo, pesquisas, diuturnamente, dão conta de que entre os alunos egressos do sistema escolar a maior dificuldade apresentada, ao se defrontarem com um texto é interpretá-lo, quando não, simplesmente, entender o que dizem as palavras ali escritas.

Dito isto, tristemente concluímos que as salas de aula – na mais feliz das hipóteses, considerando-se os altos níveis de evasão e de repetência das escolas públicas, especialmente - tem sido apenas alfabetizadoras, isto é, capaz de dar a conhecer às crianças a correspondência entre o som e a letra.

As infinitas possibilidades semânticas das combinações entre o universo e a palavra ficam relegadas ao autodidatismo, ou ao desconhecimento total. Tomara que um dia - espero que seja em breve – autoridades de todos os níveis, federal, estadual e municipal – se dêem conta do quanto é necessário investir, e cobrar os resultados do investimento, nas áreas de formação, informação e atualização dos professores, assim como melhorar seus salários para que estes deixem de trabalhar 40 h, 60 h por semana (operários do saber, explorados, diga-se de passagem...) tenham mais tempo para ler, e, conseqüentemente para ensinarem a ler , de verdade... Pensem nisto! Namastê!

Em tempos de Inclusão, vamos fazer uma pausa para aprender com os índios e seus curumins?


Gladis Maia
A Escola prepara o futuro e, de certo que, se as crianças aprenderem a valorizar e a conviver com as diferenças nas salas de aula, serão adultos bem diferentes de nós, que temos de nos empenhar tanto para entender a viver a experiência da inclusão! Maria Teresa Mantoan


Com raríssimas exceções – e graças a Deus elas existem – nós, os professores brasileiros, atuamos e fomos formados para ensinar em escolas tradicionais e para trabalharmos com alunos com uma identidade fixada em modelos ideais, permanentes e essenciais.

Fomos formados para atuar em escolas que não reconhecem as diferenças culturais, a pluralidade das manifestações intelectuais, sociais e afetivas, basta vermos que todo aquele aluno que destoa do modelo estabelecido para freqüentar as salas de aula, fatalmente será: ou reprovado, ou evadido ou encaminhado às classes especiais e é claro, taxados de portadores de necessidades educativas especiais, PNEE.

Mas na verdade, a grande especialidade deste tipo de ensino seletivo tem sido o fomento a comportamentos indisciplinados, competitivos, discriminatórios e preconceituosos. Diante disto, muitos trabalhadores em educação estão em crise frente a possibilidade de sua escola passar a ser inclusiva. Apavorados dizem não estarem preparados para tal ... São os professores demasiadamente preocupados com o seu saber, a sua disciplina, a MATEMÁTICA , o PORTUGUÊS e tal...

Estes professores parecem não se dar conta de que o papel da escola é formar gerações e desenvolver seus talentos, que não necessariamente coincidem com o conhecimento Nº 1 deles, os doutos ...

À escola cabe estimular as potencialidades dos seus alunos. As disciplinas existem como meios e não como fins em si mesmas. Meios para que a garotada conheça melhor o mundo e as pessoas. Para que se tornem melhores do que nós temos sido e convivam numa sociedade mais evoluída e humanitária do que a que construímos até aqui. Uma sociedade menos violenta e excludente, fraterna, onde a ganância e a violência não ocupem lugar central.

Precisamos melhorar nossa qualidade de ensino, para que os jovens sejam mais justos, mais éticos e mais felizes do que temos conseguido ser, porque a obrigação é nossa, já que a escola deve constituir-se num espaço privilegiado para a construção de personalidades humanas, autônomas e críticas.

E enquanto construímos a Escola que deverá se constituir num lugar para sermos e fazermos os outros felizes, para onde nos dirijamos, diariamente, alegres para estudar e/ou trabalhar, vamos aprender a ser gente com os primeiros habitantes de muitas terras neste planeta, inclusive da nossa, Brasil, Rio Grande do Sul, Triunfo: os índios.

O conceito de Espaço Sagrado não é somente uma crença filosófica entre os nativos americanos. Desde a mais tenra infância as crianças indígenas aprendem a ouvir e a respeitar as palavras dos outros, especialmente dos seus anciões. Aprendem a valorizar os seus pertences pessoais, e ninguém mexe em suas coisas sem lhes pedir permissão.

Em conseqüência deste exemplo, elas também não mexem nos objetos alheios sem pedir licença. Os adultos permitem que as crianças tenham suas próprias idéias, seus pertences, suas áreas de trabalho e de brincadeiras, assim como seus próprios direitos, que devem ser sempre respeitados. O fato de uma criança ainda ser pequena não justifica que o seu Espaço Sagrado não seja respeitado.

O dano causado a uma criança que foi invadida pode levar uma vida inteira para ser sanado ou nunca chegar a sê-lo. Dano causado por abuso físico ou emocional, pela destruição dos seus objetos, pela recusa de suas opiniões, pelo favoritismo dos pais por algum irmão, pelo desrespeito do direito dela a escolher suas próprias roupas ou brinquedos, ou ainda a negligência ou repressão materna.

As crianças indígenas são muitas vezes encorajadas a descobrirem um lugar que seja só seu e onde possam ficar sozinhas, de vez em quando, para aprenderem a fazer escolhas próprias e a ter prazer na companhia de seu ser interno. Os pais só irão conhecer este lugar quando ela resolver convidá-los. Os adultos providenciam todos os materiais que a criança necessita para fazer a construção e a orientam sobre como usá-los, mas estimulam-na a usar a sua própria criatividade na construção.

É muito importante que os pais elogiem os esforços da criança. Elas amadurecem se lhes é permitido desenvolver sua criatividade, imaginação, intuição e autoconfiança. Um dos elementos mais importantes para fazer as crianças entenderem o conceito de Espaço Sagrado é levá-las a desenvolver seus talentos, levantando questões que lhes permitam chegar às suas próprias conclusões.

Quando as crianças nativas agem de forma tola, ou não conseguem chegar a alguma conclusão sozinhas, seus avós podem simplesmente ignorá-las e falar como se elas não estivessem presentes, mesmo que estejam ao seu lado.

Esta situação pode estender-se por dias, enquanto ela vai elaborando sua própria resposta às perguntas colocadas. Depois que encontra a resposta, através do seu próprio esforço, ela é recompensada, tornando-se visível outra vez. Neste momento ela se sente valorizada e realizada. Este tipo de lição também ensina a ter respeito pelos avós e a valorizar a sabedoria dos mais velhos. E nós, os brancos e os negros ensinamos bonito assim? Os amarelos, nós sabemos que ensinam! Pensem nisto! Namastê!

13 de março de 2009

Lia Luft: da mulher tímida à escritora vigorosa, que faz das palavras arma a favor da vida e da humanidade.



Por Arnaldo Nogueira Jr.

Não existe isso de homem escrever com vigor e mulher escrever com fragilidade. Puta que pariu, não é assim. Isso não existe. É um erro pensar assim. Eu sou uma mulher. Faço tudo de mulher, como mulher. Mas não sou uma mulher que necessita de ajuda de um homem. Não necessito de proteção de homem nenhum. Essas mulheres frageizinhas, que fazem esse gênero, querem mesmo é explorar seus maridos. Isso entra também na questão literária. Não existe isso de homens com escrita vigorosa, enquanto as mulheres se perdem na doçura. Eu fico puta da vida com isso. Eu quero escrever com o vigor de uma mulher. Não me interessa escrever como homem.


Lya Luft nasceu no dia 15 de setembro de 1938, em Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul.Por se tratar de cidade de colonização alemã, as crianças, em quase sua totalidade, falavam alemão, e os livros utilizados nas escolas vinham da Alemanha. Com onze anos, Lya decorava poemas de Goethe e Schiller. Posteriormente, estudou em Porto Alegre (RS), onde se formou em pedagogia e letras anglo-germânicas.

Iniciou sua vida literária nos anos 60, como tradutora de literaturas em alemão e inglês. Lya Luft já traduziu para o português mais de cem livros. Entre outros, destacam-se traduções de Virginia Wolf, Reiner Maria Rilke, Hermann Hesse, Doris Lessing, Günter Grass, Botho Strauss e Thomas Mann.

Ela diz que traduzir é sua verdadeira profissão. E que faz tradução para ganhar dinheiro. Mas também porque gosta. Um trabalho que exige respeito. Seu desejo é aproximar o escritor estrangeiro do leitor brasileiro. Confessa que não pode ser inteiramente fiel, porque pode-se correr o risco de ninguém entender nada. Mas não faz um carnaval em cima do texto alheio, não inventa, não cria frases que não existem.

Conheceu Celso Pedro Luft, seu primeiro marido, quando tinha 21 anos. Ele tinha quarenta. Era irmão marista. Foi numa prova de vestibular. Achou-se ridícula quando pensou: esse é o homem da minha vida! O irmão marista tirou a batina para casar com ela em 1963.

Nessa paixão, começou a escrever poesia. Os primeiros poemas foram reunidos no livro "Canções de Limiar" (1964).

Tiveram três filhos: Suzana, em 1965; André, em 1966; e Eduardo, em 1969.
Em 1972 lança mais um livro de poemas, "Flauta Doce".

Em 1976, escreveu alguns contos e mandou para Pedro Paulo Sena Madureira, que era editor da Nova Fronteira. Pedro Paulo respondeu dizendo que os contos eram todos “publicáveis”. Pedro Paulo, no entanto, aconselhou Lya a escrever um romance, dizendo que ela era romancista. Dois anos depois ela escreveu "As Parceiras".

Em 1978 lança seu primeiro livro de contos, "Matéria do Cotidiano".

A ficção entrou em sua vida dois anos depois de um acidente automobilístico quase fatal em 1979. Como teve uma visão mais próxima da morte, diz a autora que começou a fazer tudo que evitava.

Primeiro foram crônicas, com o lançamento de "As Parceiras", em 1980, e "A Asa Esquerda do Anjo", em 1981. Textos amenos. Uma espécie de fingimento de que na vida tudo é bom. A morte é encarada como uma coisa normal. Mas gostaria que todos os seus amigos fossem eternos. Mesmo assim, acha a morte uma coisa mágica.

Em apenas oito anos Lya Luft sofreu duas perdas grandes demais. Dos 25 aos 47 anos foi casada com Celso Pedro Luft. Separou-se dele em 1985 e foi viver com o psicanalista e escritor Hélio Pellegrino, que morreu três anos depois. Em 1992 voltou a casar-se com o primeiro marido, de quem ficou viúva em 1995.

A escritora é conhecida por sua luta contra os estereótipos sociais. "Essas coisas que obrigam as pessoas a ser atletas. Hoje é quase uma imposição: a ordem é fazer sexo sem parar, o tempo todo. A ordem é não fumar, não beber. É essa loucura o dia inteiro na cabeça. Quem não for resistente acaba enlouquecendo. E a vida fica para trás. Hoje as pessoas estão sofrendo muito. Um sofrimento absolutamente desnecessário. Especialmente as mulheres que fazem plástica logo que vêem uma ruga no rosto. Plásticas de inteira inutilidade".

Lya Luft deixa claro que nada tem contra as cirurgias plásticas, mas contra o rumo disso tudo.
"Na ambição de serem sempre jovens, as mulheres acabam perdendo o próprio rosto. São os falsos mitos da juventude para sempre. E isso também inclui a febre atual da mídia, particularmente nas revistas femininas. Só se fala como se pode ter vários orgasmos numa única noite. Só se fala em como a mulher deve agir para segurar seu homem pelo sexo, especialmente o oral. São fórmulas de um mundo conturbado, que foge ao afeto, distante de qualquer felicidade. Essa é outra coisa para o enlouquecimento. Em todo lugar, o que existe é a supervalorização do sexo. Quem não estiver fazendo sexo sem parar o tempo todo passa a ser anormal. Muita gente fica complexada porque não consegue vários orgasmos numa noite. É tudo uma imposição".

A autora diz ser uma constatação precária dizer que ela escreve sobre mulheres. Mulheres não são seus personagens exclusivos. “Escrevo sobre o que me assombra”, observa. E nisso está a infância. O importante é o compromisso com a dignidade. Toda a sua obra poderia ser resumida — como afirma — num livro de indagações.

Em 1982 publica "Reunião de Família", e em 1984 outros dois livros: "O Quarto Fechado" e "Mulher no Palco". "O Quarto Fechado" foi lançado nos E.U.A. sob o título "The Island of the Dead".


Quem é Lya Luft?

Uma mulher gaúcha, brasileira, que faz cada vez mais, aos 70 anos, o que desde os três ou quatro desejava fazer: jogar com as palavras e com personagens, criar, inventar, cismar, tramar, sondar o insondável. "Tento entender a vida, o mundo e o mistério e para isso escrevo. Não conseguirei jamais entender, mas tentar me dá uma enorme alegria. Além disso, sou uma mulher simples, em busca cada vez mais de mais simplicidade. Amo a vida, os amigos, os filhos, a arte, minha casa, o amanhecer. Sou uma amadora da vida.

O que você nunca vai esquecer?

Escutar o vento e a chuva nas árvores do imenso jardim que cercava a casa de meu pai, na minha infância". Puro maravilhamento. O que lhe causa repugnância? Preconceito, hipocrisia.

Vale a pena escrever?

"Não escrevo porque “valha a pena”, mas porque me faz feliz, simplesmente". O que falta à literatura brasileira? "Nada, não falta nada. Ela é o que é, simplesmente, cheia de graça, desgraça, florescente, múltipla, lutando com a crise econômica que atinge também as editoras, mas, como não se escreve para ficar rico, tudo bem". E Deus? "Deus eu imagino como força de vida: luminosa, positiva, imperscrutável".

E o Brasil?

Brasil cujo jeito é parecer não ter jeito. "Não quero jamais ter de morar longe dele. Aqui tudo é possível. E tanto está ainda por fazer". O que fazer para reverter esse quadro de miséria? "Que os responsáveis por isso criem vergonha na cara". Quem não merece respeito algum de ninguém? "Todos merecem algum respeito, no mínimo compaixão".

Você costuma rezar?
"Não tenho nenhuma religião instituída, mas tenho uma profunda visão “religiosa”, sagrada, da natureza, das pessoas, do outro". Qual é seu momento ideal para escrever? "O momento em que meu livro quer ser escrito. Mas normalmente produzo mais de manhã bem cedo. Gosto de ver o dia nascer, aqui na minha mesa de trabalho e do meu computador". Se confessa uma mulher tímida, embora não pareça.

Em 1987 lança "Exílio"; em 1989 o livro de poemas "O Lado Fatal" e, em 1996, o premiado "O Rio do Meio" (ensaios), considerado a melhor obra de ficção do ano.
Lya Luft afirma que hoje prefere ficar quieta consigo mesma. Já casou demais. Já enviuvou demais. Não se imagina mais vivendo ao lado de ninguém. Mas não quer desprezar os encantamentos que surgem por seu caminho.

Lya afirma ter sido um privilégio ter conhecido e vivido com dois homens que muito lhe ensinaram. Sua visão do masculino é muito positiva. Foram três homens, na verdade, que a influenciaram e percorreram sua vida, erguendo seu rosto, seu percurso, abrindo seus rumos: seu pai, Arthur Germano Fett, que considerava um homem culto, amigo e também solitário; seu cúmplice, Celso Pedro Luft, de quem herdou o sobrenome; e Hélio Pellegrino. Três homens inesquecíveis. Que sempre vão permanecer nas palavras, nos pensamentos, nos acenos possíveis.

Não faz tarde de autógrafos, sente-se desconfortável com isso. Não gosta de discutir teorias literárias, especialmente quando se referem à sua obra. Nunca pensou em tradição literária ou, especialmente, em tradição literária gaúcha. Não quer fazer literatura regional. Não quer ser representante de descendentes. Não quer pertencer a grupo nenhum. Quer mesmo é ser livre. Quer ficar quieta no seu canto. No livro "Secreta Mirada", lançado em 1997, ela se deixou com ela mesma e discorreu sobre temas que nunca fala em discussões literárias, em entrevistas, depoimentos.

"Sou dos escritores que não sabem dizer coisas inteligentes sobre seus personagens, suas técnicas ou seus recursos. Naturalmente, tudo que faço hoje é fruto de minha experiência de ontem: na vida, na maneira de me vestir e me portar, no meu trabalho e na minha arte.

Não escrevo muito sobre a morte: na verdade ela é que escreve sobre nós - desde que nascemos vai elaborando o roteiro de nossa vida.

O medo de perder o que se ama faz com que avaliemos melhor muitas coisas. Assim como a doença nos leva a apreciar o que antes achávamos banal e desimportante, diante de uma dor pessoal compreendemos o valor de afetos e interesses que até então pareciam apenas naturais: nós os merecíamos, só isso. Eram parte de nós.

O amor nos tira o sono, nos tira do sério, tira o tapete debaixo dos nossos pés, faz com que nos defrontemos com medos e fraquezas aparentemente superados, mas também com insuspeitada audácia e generosidade. E como habitualmente tem um fim - que é dor - complica a vida. Por outro lado, é um maravilhoso ladrão da nossa arrogância.

Quem nos quiser amar agora terá de vir com calma, terá de vir com jeito. Somos um território mais difícil de invadir, porque levantamos muros, inseguros de nossas forças disfarçamos a fragilidade com altas torres e ares imponentes.

A maturidade me permite olhar com menos ilusões, aceitar com menos sofrimento, entender com mais tranqüilidade, querer com mais doçura.

Às vezes é preciso recolher-se".

Em 1999 a escritora lança o livro "O Ponto Cego".

“A vida é maravilhosa, mesmo quando dolorida. Eu gostaria que na correria da época atual a gente pudesse se permitir, criar, uma pequena ilha de contemplação, de autocontemplação, de onde se pudesse ver melhor todas as coisas: com mais generosidade, mais otimismo, mais respeito, mais silêncio, mais prazer. Mais senso da própria dignidade, não importando idade, dinheiro, cor, posição, crença. Não importando nada”.


Bibliografia:
No Brasil:

- Canções de Limiar, 1964
- Flauta Doce, 1972
- Matéria do Cotidiano, 1978
- As Parceiras, 1980
- A Asa Esquerda do Anjo, 1981
- Reunião de Família, 1982
- O Quarto Fechado, 1984
- Mulher no Palco, 1984
- Exílio, 1987
- O Lado Fatal, 1989
- O Rio do Meio, 1996
- Secreta Mirada, 1997
- O Ponto Cego, 1999
- Histórias do Tempo, 2000
- Mar de dentro, 2000

(Todos os livros foram publicados pelas Edições Siciliano e Mandarim, São Paulo - SP)

- Perdas e ganhos, 2003 - Editora Record

No exterior:

- The Island of the Dead (O Quarto Fechado), E. U. A.

Os dados acima foram obtidos em livros da autora, páginas da Internet e em artigo publicado por Álvaro Alves de Faria, jornalista, poeta e escritor.

Fonte: http://www.releituras.com/biografias.asp

Os donos de pequenos animais reclamam menos da vida, gastam menos com Saúde e possuem auto-estima maior.



Gladis Maia

O título deste artigo não é conversa fiada não, fala de dados comprovados por pesquisas de Turner, autor de diversos livros sobre animais domésticos. Presidente da IAHAIO, Associação Internacional das Organizações para a Interação Homem-Animal, entidade que reúne PHDs do mundo inteiro para divulgar resultados de estudos e experiências em que animais atuam como co-terapeutas para crianças, delinqüentes juvenis, idosos, mulheres com câncer de mama, deficientes e até casais em crise.

O cientista comportamental tenta convencer desde ministros da Saúde de países do Primeiro Mundo até líderes de pequenas comunidades na África do Sul a investirem em programas de Terapia Assistida por Animais (TAA). Poderia auxiliar na utilização da grande quantidade de animais abandonados no mundo todo e que representam um grave problema para os governos e sociedades, podendo ser portadores de doenças, barulhentos e constituírem fonte de poluição.

As orientações da IAHAIO apontam para a necessidade de permitir às crianças o contato com animais de estimação em algum momento, no ambiente da escola. Qualquer programa que envolva contato entre as crianças deve levar em conta que os bichinhos envolvidos sejam: seguros (especialmente selecionados e/ou treinados); saudáveis (confirmado por laudo veterinário); preparados para o ambiente escolar ( estejam adequadamente alojados (na sala de aula ou em casa) e estejam sempre sendo supervisionados por um adulto preparado para isso (seja o professor ou o dono); que a segurança, a saúde e os sentimentos de cada criança na classe em relação a eles sejam respeitados.

Turner entende que a participação dos animais de estimação no currículo escolar estimula o desenvolvimento moral, espiritual e pessoal de cada criança, além de trazer benefícios sociais à comunidade escolar, aumentando as oportunidades de aprendizagem em diferentes áreas do currículo. Já é comprovado que crianças que têm contato com animais em Escolas tendem a melhorar em todos os sentidos e a vontade de aprender pode ser aumentada pela simples presença de um cachorrinho.

As escolas que adotam animais precisam fazê-lo com consciência. A comunidade escolar deve estar convencida de que a prática é um benefício e os animais adotados devem ser bem tratados, castrados. A castração evita riscos à saúde do animal, como tumores decorrentes de gravidez psicológica e doenças venéreas.

Ainda segundo o cientista há casos de crianças hiperativas, agressivas, portadoras de NEE em que o animal de estimação, adotado como co-terapeuta em tratamentos especializados, ajuda a melhorar sensivelmente os problemas identificados.

As Escolas que adotam animaizinhos de estimação precisam ter também os objetivos de aprendizagem bem definidos e precisos, abrangendo: o melhor desempenho cognitivo da criança; o aumento da motivação para o aprendizado, em várias áreas do currículo escolar; encorajamento do respeito e do sentido de responsabilidade em relação a outras formas de vida; considerações a respeito do potencial expressivo e do envolvimento de cada criança. Sem esquecer nunca que a segurança e o bem-estar dos animais envolvidos devem ser garantidos em todos os momentos.

Turner acha que as escolas podem contribuir não só dando exemplo como adotantes, mas desenvolvendo programas de conscientização a respeito do assunto. Já existem muitos projetos voltados para as escolas desenvolvidos em todo o mundo. Um dos objetivos principais é ensinar às crianças a respeitarem e protegerem os animais.

Estatísticas demonstram também a importância e os benefícios do animal de companhia na terceira idade. Estudos dão conta ainda do sucesso da maioria dos casos de pessoas com necessidades especiais que receberam terapia assistida com animais como co-terapeutas; doentes psíquicos que não se comunicam; crianças hiperativas ou agressivas; portadores da síndrome de Down; pacientes de Alzheimer; pacientes com problemas neurológicos e deficientes físicos.

A Terapia Assistida por Animais representa uma tremenda economia para a saúde pública e vem obtendo sucesso até nos casos em que métodos tradicionais de tratamento falharam. E, além de tudo, a companhia de animais beneficia não apenas deficientes ou portadores de doenças graves, mas também o cidadão comum seja qual for a sua renda familiar. Pensem nisto! Namastê!