24 de outubro de 2009

BONS PROFESSORES EDUCAM PARA UMA PROFISSÃO, PROFESSORES FASCINANTES EDUCAM PARA A VIDA!




                       Gladis Maia

 “O sistema social não os valoriza na proporção da sua grandeza, mas tenham a certeza de que, sem vocês, a sociedade não tem horizonte, nossas noites não têm estrelas, nossa alma não tem saúde, nossa emoção não tem alegria.(...) O mundo pode não os aplaudir, mas o conhecimento mais lúcido da ciência tem de reconhecer que vocês são os profissionais mais      importantes da sociedade.”  

Augusto Cury, autor da epígrafe, psiquiatra, cientista, autor de Inteligência Multifocal no seu livro Pais brilhantes& Professores fascinantes, da editora Sextante – obra que nenhum professor deveria deixar de ler –  alerta a sociedade  e governos para resgatarem não só os salários, mas a dignidade dos professores e sua saúde, pois a maioria dos mestres brasileiros está estressada, portadores da SPA, Síndrome do Pensamento Acelerado, que afeta também a maioria dos alunos.

Segundo ele, na Espanha as estatísticas revelam que 80% dos professores estão estressados. Na Inglaterra, o governo está tendo dificuldades para formar professores, especialmente para o Ensino Fundamental e Médio, porque poucos querem abraçar nossa profissão. No Brasil, 92% apresentam três ou mais sintomas de estresse e 41 % , dez ou mais.

“É um número altíssimo, indicando que quase a metade dos professores não deveria estar em sala de aula. Mas internada numa  clínica antiestresse”, afirma Cury.  “Os números gritam. Eles indicam que os professores estão quase duas vezes mais estressados do que a população de são Paulo, que é uma das maiores e mais estressantes cidades do mundo”, acrescenta. Em são Paulo, 22, 9% da população apresenta dez ou mais sintomas de estresse. 
        
No capítulo DESTRUÍRAM A QUALIDADE DE VIDA DO PROFESSOR, somos acariciados... “Que tipo de batalha estamos travando para que nossos nobres soldados que se encontram no front – os professores – estejam adoecendo coletivamente? Que tipo de educação é esta que estamos construindo e que vem eliminando a boa qualidade de vida de nossos  queridos mestres? Damos valor ao mercado de petróleo, de carros, de computadores, mas não percebemos que o mercado da inteligência está falindo?”  

E também nos dá um recado:  “Por favor, tenham paciência com seus alunos. Eles não têm culpa dessa agressividade, alienação em sala de aula. Eles são vítimas. Detrás dos piores alunos há um mundo a ser descoberto e explorado. Há uma esperança no caos. Precisamos construir a Escola de nossos sonhos.”

Vou tentar descrever abaixo sucintamente o que o psiquiatra chama de SPA,  Síndrome do Pensamento Acelerado:

Causada pelo excesso de estímulos proporcionados  pelos meios de comunicação (especialmente  a TV , independente do conteúdo que esteja transmitindo), que acabam gerando  uma compulsão por novos estímulos no telespectador, que  numa tentativa de aliviá-la - semelhante ao  caso das drogas químicas, lícitas ou não, onde o uso das doses tende a ser cada vez maior -  se  instala a SPA . 

Segundo Cury, há um século a velocidade dos pensamentos das crianças  era bem menor do que a atual, motivo pelo qual  o modelo de educação do passado,embora não fosse ideal, funcionava.

 Os portadores de SPA adquirem uma dependência por novos estímulos e por isto eles se agitam na cadeira , têm conversas paralelas, não se concentram,  mexem com os colegas.

 “Estes comportamentos são tentativas de aliviar a ansiedade gerada pela SPA. (...)  Pensar é excelente, pensar muito é péssimo. Quem pensa muito rouba energia do córtex cerebral e sente uma fadiga excessiva, mesmo sem ter feito exercício físico. Este é um sintoma.” 

Os demais sintomas são: déficit de concentração;  irritabilidade; sofrimento por antecipação; sono insuficiente; aversão à rotina; esquecimento; e,  às vezes,  sintomas psicossomáticos acompanham,  tais como,  taquicardia, gastrite,   dor de cabeça,  dores musculares.

 “Por que um dos sintomas é o esquecimento? Por que o cérebro tem mais juízo do que nós e bloqueia a memória para pensarmos menos e gastarmos menos energia”.

 A  SPA seria uma hiperatividade de origem não-genética,funcional. Além da TV,  com seu natural excesso de estímulos visuais, o excesso de informações também é causa da SPA. Uma criança de 7 anos tem mais informações do que um adulto de 60 anos,   há um século atrás...

Outra causa está na paranóia do consumo e da estética que dificulta a interiorização. Isto tudo excita por demais esses jovens que é claro não querem, melhor dizendo não podem, assistir impávidos às nossas preleções, se não forem das mais animadas numa sala de aula....

A intranqüilidade da mente não o permite.  A SPA compromete a saúde psíquica de três formas: ruminando o passado e desenvolvendo sentimento de culpa, produzindo preocupações sobre problemas existenciais e sofrendo por antecipação.

Como diz Cury, não basta ser um bom professor, tem que ser fascinante para transformar a sala de aula num oásis e não numa fonte de estresse. Além de conhecer a alma humana, é preciso munir-se de ferramentas pedagógicas eficientes para conseguirmos  prender a atenção do  aluno, pois caso contrário alunos e professores estarão fadados à falta de comunicação necessária para que a construção do conhecimento se processe. Pensem nisso! Namastê!

19 de outubro de 2009

BLOG DA BIBLIOTECA COMPLETA UM ANO

Há dois dias atrás,este blog esteve de aniversário.Um ano de vida! Não teve bolo, velinhas, balões, parabéns... Mas, sem falsa modéstia, ele merece!






Celebrei a data com muito trabalho como nos seus primórdios, quando - em 17 de outubro de 2008 - preparei seu arcabouço, cabeçalho, as fotos dos escritores na borda direita, os bunner no pé do blog, e fiz a primeira postagem,  seguida de muitas, até o dia 31 de outubro, quando demos o pontapé inicial. Nascia o blog! Ganhara visibilidade! Que todos os seres iluminados o protejam e zelem pela sua flexibilidade, comunicabilidade e funcionalidade!


A comemoração foi trabalho e mais trabalho, até para compensar a minha pouca freqüência por aqui, devido a um sério problema de saúde em minha família, que tomou-me muito tempo e dedicação, no primeiro semestre do ano.


Voltando um pouco atrás, o blog da Biblioteca de Triunfo nasceu em meio aos preparativos da XXII Feira do Livro, quando fui convidada para fazer parte do júri do projeto CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS.


Naquela ocasião, deparei-me com um lindo trabalho sendo desenvolvido nas Escolas do município, que partiu da Biblioteca, voltava à ela e era coroado na Feira. Eram crianças do pré, do fundamental, do médio e do EJA a contar com desenvoltura as criativas histórias que criaram, a partir de obras selecionados pela Biblioteca para serem trabalhadas nas Escolas.


Emocionante, saí dali com a cabeça fervilhando de idéias e ... mãos à obra! Foi a forma que encontrei de falar do meu encantamento com os livros, estudantes, professores, com a equipe da biblioteca, e, em especial , com a sua diretora: professora Sandra Essewein.


Da mesma forma foi o dia de hoje, quando voltei à Biblioteca como jurada para outra edição do mesmo concurso e lembrei-me de que já se passara um ano...


Da bastante trabalho construir um blog deste porte, por que envolve muita pesquisa, muitas horas no computador – e, responsabilidade, pois estamos conectados com o mundo e representamos uma instituição pública - mas é muito, muito bom vê-lo crescer e se tornar também uma fonte de pesquisa, participar de seu crescimento e ao mesmo tempo assistir o seu desabrochar. É como um filho!


Pra quem não sabe, e critica por que seu cabeçalho é assim tão pessoal, digamos, torno hoje público o motivo. Ele não foi sempre assim... Foi a forma que arranjei para corrigir o meu ímpeto. Ou seja, ele nasceu como a foto abaixo mostra, não era meu: 






Passou a ter o atual formato, por que a Secretária de Educação, professora Liliana Ferrarese Tavares, achou melhor, pois poderia trazer algum problema à Administração, segundo ela. Sua postura estaria ligada a uma consulta que fizera à Procuradoria ou algo equivalente.

São pontos de vista diferentes, e eu aceitei o dela, embora haja muitos blogs de várias bibliotecas públicas na internet. Mas o nome da biblioteca permaneceu no link, motivado pelo fato de que se eu o substituísse por outro, perderia todo o trabalho postado até então, e tinham sido muitas horas de efetiva pesquisa, elaboração e postagem.


Até mais! Paz &Luz! Namastê!
Gladis Maia

10 de outubro de 2009

DE CLARICE PACHECO

Viajar pela leitura sem rumo, sem intenção. Só para ter a alegria que é ter um bom livro nas mãos. É uma pena que só saiba disto quem gosta de ler. Experimente! Assim sem compromisso você vai me entender. Mergulhe de cabeça na imaginação!


DE WILIAN MENDES

Ler é bom demais. A gente aprende a ler a vida e a recriá-la.


DE J. A. RUIZ

A leitura amplia e integra os conhecimentos. Quem lê, constrói sua própria ciência; quem não lê, memoriza elementos de um todo que não se atingiu.


DE RENÉ DESCARTES

A leitura de todos os bons livros é uma conversação com as mais honestas pessoas dos séculos passados.


DE JULIEN GREEN

São necessários anos de leitura atenta e inteligente para se apreciar a prosa e a poesia que fizeram a glória das nossas civilizações. A cultura não se improvisa.


DE FRANCIS BACON

A leitura faz ao homem completo; a conversa, ágil, e o escrever, preciso.


DE VOLTAIRE

A leitura engrandece a alma.


DE JOSEPH ADDISON

A leitura é para o intelecto o que o exercício é para o corpo.


DE PAULO FRANCIS

Quem não lê não pensa, e quem não pensa será para sempre um servo.



DE MARQUÊS DE MARICÁ

Uma boa leitura dispensa com vantagem a companhia de pessoas frívolas.


DE ALEXANDER SOLJENITSYNE

Uma literatura que não respire o ar da sociedade que lhe é contemporânea, que não ouse comunicar à sociedade os seus próprios sofrimentos e as suas próprias aspirações, que não seja capaz de perceber a tempo os perigos morais e sociais que lhe dizem respeito, não merece o nome de literatura: quando muito pode aspirar a ser cosmética.



DE ÉMILE ZOLA

Os governos suspeitam da literatura porque é uma força que lhes escapa.



DE JOHAN WOLFGANG VON GOETHE

O declínio da literatura indica o declínio de uma nação.



DE ANDRÉ MAUROIS

A leitura de um bom livro é um diálogo incessante: o livro fala e a alma responde.


DE SALAMAH MUSSA

Não é a beleza, mas sim a humanidade o objetivo da literatura.


DE LUIS GARCIA MONTERO

A leitura é muito mais do que a relação dos olhos com os livros... A leitura é um espaço, um lugar predileto, uma luz escolhida, um ritual em que importa até a época do ano.

DE MÁRIO VARGAS LLOSA

Um público comprometido com a leitura é crítico, rebelde, inquieto, pouco manipulável e não crê em lemas que alguns fazem passar por idéias.

DE JULIAN CORREA

A leitura não é uma atividade elitizada, mas uma ferramenta de transformação social dos indivíduos.

DE SAMUEL JOHNSON

A maior parte do tempo de um escritor é passado na leitura para depois escrever, uma pessoa revira metade de uma biblioteca para fazer um só livro.

DE ZIRALDO

O importante é motivar a criança para a leitura, para a aventura de ler.


Descobrindo a escrita e os livros



Entrevista concedida pelo Professor João Batista Araújo.

1. Como é o ambiente familiar “letrado”? Como as coisas se passam nesses ambientes? Como é a experiência das crianças com livros e materiais impressos ANTES de virem para a escola?

A desigualdade social no Brasil também se reflete na desigualdade dos alunos em suas experiências com livros e ambientes letrados. Algumas crianças – menos de 30%, possuem uma experiência muito rica com livros, textos, leitura pelos pais, familiaridade com letras, lápis, papel, enfim, com o mundo da leitura e da escrita. Mas a maioria das crianças – inclusive muitas que passaram pela pré-escola, não possuem essa familiaridade. Não sabem para que serve a escrita, não curtiram uma boa história lida para eles num ambiente de aconchego. Para elas, aprender a ler e a escrever não faz muito sentido – às vezes não faz qualquer sentido – pois não estão habituadas com esse mundo.

2. O que as crianças aprendem a partir do convívio natural com livros e textos impressos? Como essas competências são importantes para a alfabetização?

A convivência com livros e materiais impressos transmite quatro conjuntos importantes de competências. De um lado, transmite o hábito pela leitura. Esta é a base mais importante para o sucesso escolar. De outro lado, e idealmente, transmite o gosto pela leitura. O hábito mais o gosto são os dois ingredientes fundamentais para a criança se dispor a ler. Em terceiro lugar, desenvolve e enriquece o vocabulário e a sintaxe. Um livro ou texto impresso qualquer normalmente possui um vocabulário mais rico e refinado do que o vocabulário que usamos na fala normal – mesmo em ambientes familiares altamente escolarizados. Isso ajuda a criança a aprender novas palavras e a usá-las, e, dessa forma, ampliar seu vocabulário. Além disso, a linguagem escrita é mais formal, e ajuda a criança a se aproximar e se familiarizar com a linguagem falada padrão, que é mais estruturada, e sobretudo com a linguagem formal dos livros e da escrita – que é o aspecto central do ensino escolar. Finalmente, o convívio com livros e textos impressos transmite conhecimentos específicos sobre os livros, o que se encontra neles, como os textos se dispõem no papel, a direção da leitura, o princípio, meio e fim de um texto, o que fica á direita e à esquerda da página, como funciona uma história, a relação entre as figuras e o texto, e, enfim, a metalinguagem.

3. O que é metalinguagem? O que são competências metalingüísticas?

Metalinguagem é a linguagem que usamos para falar sobre a língua. Por exemplo, conceitos como palavra, vírgula, frase, parágrafo, pontuação, etc. fazem parte da metalinguagem. Conhecer a metalinguagem é fundamental para o aluno compreender as instruções e comandos do professor e a conversar e refletir sobre aquilo que ouve e lê.

4. O que acontece com a criança que não teve um ambiente estimulante antes da escola?
Os prejuízos são imensos, frequentemente são irrecuperáveis. O primeiro deles refere-se ao vocabulário. Os livros constituem excepcional veículo para o desenvolvimento do vocabulário, e são particularmente valiosos para crianças que vivem em ambientes em que a linguagem falada não expõe o aluno a um vocabulário rico e variado. Estudos a respeito da linguagem dos livros revela que um livro infantil possui 30 vezes mais palavras “raras” do que a fala normal de pais de nível universitário com seus filhos. Palavras “raras” é um termo usado para designar palavras menos freqüentes numa língua, palavras importantes para o desenvolvimento do pensamento e da linguagem, mas que não fazem parte do nosso quotidiano.

O segundo prejuízo refere-se à sintaxe. Uma criança que foi exposta apenas à linguagem oral, especialmente em famílias e comunidades de nível sócio-cultural com limitada escolaridade, não está muito habituada a ouvir e usar construções sintáticas mais elaboradas, adequadas a modos de pensar mais complexos. Numa fala normal – mesmo entre pessoas de nível escolar elevado – usamos relativamente poucas frases compostas, frases subordinadas e pronomes, ao passo que as elipses e sobretudo os dêiticos são largamente utilizados. Quando digo hoje, na fala, todos sabem a que me refiro. Num texto escrito a palavra “hoje” tem um referente que precisa ser identificado, para que o texto faça sentido. Na linguagem oral tendemos a ser simples, diretos, redundantes, inclusive complementando a fala com expressões não-verbais. A linguagem escrita exige mais reflexão e análise do leitor, habilidades fundamentais para desenvolver o raciocínio e para o sucesso escolar.

Finalmente, o ambiente estimulante contribui para criar o gosto e hábito da leitura – peças fundamentais para sustentar um processo de aprendizagem bem sucedido e uma trajetória escolar que nos conduza à autonomia para ler e compreender o que lemos.

5. Qual a importância dos livros, da leitura e da “escrita ambiental”, aquela que se encontra nos rótulos, nos letreiros, nas placas
?
Todas as oportunidades para chamar a atenção para a escrita, para as letras e para as palavras devem ser usadas pelos pais e pelas pessoas que interagem com as crianças. Isso ajuda as crianças a descobrir a especificidade do código alfabético – palavras são diferentes de desenho. Também ajuda a descobrir as letras, e, posteriormente, o papel que cada letra tem numa palavra ou frase.

Num primeiro momento a criança pode pensar que as palavras são como desenhos – a palavra Coca Cola ou Padaria, por exemplo, são vistas pela criança como um todo. Mas aos poucos, na medida em que ela é exposta a outras palavras e letras, começa a descobrir que as palavras se compõem de letras, e que as mesmas letras servem para compor diferentes palavras. Ou seja, ela começa a aprender a especificidade do código alfabético e sua diferença com outras formas de grafismo, especialmente o desenho. Cartazes, letreiros, sinais, placas, nomes de produtos em caixas de supermercado, listas de compras, receitas – tudo isso ajuda a criança a aprender sobre o alfabeto. E, mais do que isso, ajuda a criança a aprender sobre os “usos sociais” da escrita, ou seja, que a linguagem escrita serve a várias funções diferentes de comunicação. Normalmente isso é o suficiente para levar a criança a querer aprender a ler, a descobrir os segredos do Código Alfabético.

Mas a “escrita ambiental” não é suficiente. Não existe substituto para a leitura e a imersão nos livros. A leitura ambiental é pobre em vocabulário e sintaxe. Não leva ao desenvolvimento do espírito analítico, próprio da leitura. E, sobretudo, não estimula a imaginação, aos sonhos, à fantasia e à busca da compreensão dos outros e do mundo.

6. Que tipos de livros as crianças devem ler antes de chegarem à idade escolar?

Na verdade esta pergunta precisa ser reformulada, pois a criança normalmente aprende a ler na escola. O que a pergunta quer dizer é: a que livros a criança deve ter sido exposta antes de começar a aprender a ler? A única resposta correta a esta pergunta é: tudo o que for possível ler para ela – desde que ela curta essas leituras. No entanto, a psicologia do desenvolvimento e a psicologia cognitiva nos permitem estabelecer um “cardápio” mais bem estruturado de leituras para crianças.

Hoje sabemos com bastante precisão sobre os tipos de livros mais adequados para crianças de diferentes idades. Diversos programas de leitura para crianças – desde a gestação – têm proporcionado um conhecimento bastante interessante a respeito dessas questões. Por exemplo, hoje sabemos que as crianças de poucas semanas de idade reconhecem um texto de poesia que a sua mãe costumava ler ou recitar durante a gravidez. Quando expostas a dois textos – o familiar e um texto novo – as crianças reagem ao texto familiar, demonstrando que o desenvolvimento das competências lingüísticas antecede ao parto.

O conceito de atividade ou livro apropriado ao nível de desenvolvimento da criança é perigoso, na medida em que pode sugerir etapas estanques ou fixas do desenvolvimento. Ou seja, não é adequado dizer que um livro só pode ser lido ou usado para uma determinada idade. Mesmo porque os bons livros são para pessoas (e não somente crianças) de todas as idades.

Mas a observação e a experiência nos indicam que tipos de livros são mais interessantes e preferidos por crianças ao longo dos primeiros anos de vida. Pelo menos sabemos a partir de que idade certos conteúdos e formatos de livros são mais apreciados pelas crianças. Por exemplo, crianças de 6 meses adoram livros com fotos de outras crianças; crianças de dois anos gostam de livros sobre plantas, animais, meios de transporte; crianças de três anos gostam de livros que explicam os porquês das coisas, e assim por diante. Tudo isso é bem mapeado e nos permite escolher e oferecer livros adequados às crianças das várias idades. Mas nada substitui o prazer da própria criança escolher o que ela quer ver, folhear ou a história que ela quer ouvir – mesmo repetidamente pela enésima vez.

Finalmente cabe ressaltar a variedade como um critério importante na escolha de livros para crianças antes da idade escolar. Os livros de histórias (narrativas) são muito apreciados e muito importantes. Mas não basta ler histórias. Crianças também gostam de poemas – especialmente poemas com rimas, que as ajudam a brincar e entender o funcionamento da língua. Gostam de parlendas e travalínguas. Mas os livros informativos e descritivos são essenciais na biblioteca infantil, pois são eles que ajudam a desenvolver vocabulário, conceitos e instrumentos e informações relevantes para pensar a respeito do mundo que os rodeia.

7. Qual a diferença entre ler e contar histórias? Isso faz diferença?
Ambos são importantes, mas são muito diferentes em seus objetivos e em seus resultados. Contar histórias ajuda a estimular a atenção e a imaginação. Quando a própria criança conta a história, ela precisa organizar o pensamento – ainda que limitado às categorias do princípio-meio-fim próprias do discurso narrativo. Mesmo com uma sintaxe repetitiva (aí, aí, aí, então, depois, etc.) a criança vai aprendendo a justapor e encadear idéias, e chegar a um final. Histórias bem contadas por adulto ajudam a criança a imaginar, sonhar, completar o que falta, ler a linguagem embutida nos gestos, na entonação, nos movimentos.

Já a leitura de texto escrito tem outras características, pois o texto escrito obedece a normas formais do discurso. O vocabulário é mais rico, as construções sintáticas, mais elaboradas. Nos livros bem ilustrados, a ilustração permite uma leitura diferente ou complementar do texto pela criança.

Os estudos sobre a eficácia da leitura em voz alta para crianças chamam atenção para dois aspectos importantes. Em primeiro lugar – e da mesma forma que a fala do adulto com a criança – a leitura é muito mais eficaz quanto ela é interativa, dialogada, quando a criança participa desde antes de abrir o livro, até depois, tecendo ilações, paralelos e identificando situações semelhantes fora do contexto da leitura.

Ou seja: a boa leitura é sempre pretexto para uma boa conversa. Desde cedo os adultos devem acostumar as crianças a participarem da leitura, escolhendo os livros, identificando as características da capa, discriminando o que é ilustração e o que é palavra, nomeando os objetos, fazendo e verificando predições, adivinhando o que vai acontecer, completando palavras ou frases já lidas repetidas vezes, comentando, dando opiniões, demonstrando seus sentimentos e interpretações.

Ou seja: a boa leitura é uma boa desculpa para espichar uma boa conversa. O segundo aspecto é a fidelidade ao que está escrito. Crianças policiam os pais quando eles alteram o texto de histórias bem conhecidas. A característica do texto escrito é a imutabilidade – os adultos devem acostumar as crianças a ler o que está escrito – inclusive explicando palavras difíceis ou usadas em contextos pouco usuais. É esse respeito pela palavra que vai ajudar a criança, mais tarde, a desenvolver o espírito analítico e a precisão, e ser capaz de ler o que está escrito, e não o que ela pensa, acha ou gostaria que estivesse escrito.

8. A criança que chega a escola sem saber ler é capaz de compreender alguma coisa?
Aprender a Ler. Ler para Aprender. Esta é a logomarca do Instituto Alfa e Beto. Ela chama atenção para essas duas importantes dimensões do processo de aprendizagem: ler e compreender. Vamos refletir sobre isso? Leia o texto a seguir:

"...os físicos vão brincar de Deus com o LHC. Eles aceleração seus hádrons em sentidos opostos dentro de anéis gigantescos, levando-os a 99,9% da velocidade da luz. Então, com a ajuda de um poderoso Ímã, vão obrigá-los a mudar de sentido e se chocar. O choque espatifará os hádrons diante de placas sensíveis, que vão registrar e analisar o resultado da trombada - restos de matéria e energia miraculosamente encapsuladas, cada um produzindo uma assinatura de sua natureza e de sua hierarquia no momento da criação do universo. De todas as particular a ser produzidas na colisão monumental a que mais interessa aos físicos é um certo “bóson de Higgs”, que por enquanto existe apenas nas equações geniais de um físico infles de 79 anos chamado Peter Higgs... Os bosons podem ir do genérico fóton de luz ao especialíssimo bóson de Higgs... Ele foi a partícula mensageira que carregou a energia de um campo que também tem o nome de Higgs. É por meio da interação com esse campo que as outras partículas ganham massa no começo de tudo. Quanto maior a interação, maior a massa da partícula. " (Revista Veja, 25 de junho de 2008, p. 89)

Você certamente leu todo o texto. Agora, será que você entendeu o que leu? Você saberia dizer o que é fóton, massa, ou porque a partícula é maior em função da interação com o campo de Higgs? Você saberia explicar o experimento ou justificar a importância de acelerar os hádrons à velocidade da luz? Enfim, se você estivesse diante de alunos de física do ensino médio, você seria capaz de recontar esse texto usando suas próprias palavras?

Possivelmente a resposta a todas essas perguntas é NÃO. E a razão é que você sabe ler, mas quem sabe ler não é capaz de entender tudo o que lê. A compreensão depende de outros fatores, além da leitura. Ler e compreender são competências distintas – e, como você acaba de experimentar – independentes. Você leu, e não entendeu.

Aprender a Ler refere-se ao estágio da alfabetização – e, em parte, às atividades que o precedem na infância. As famílias, creches e pré-escolas muito podem contribuir para preparar e facilitar o processo de alfabetização. Mas a função mais importante da infância – e dos responsáveis pela criança nesse período de seu desenvolvimento – é ensinar a criança a ler o mundo e compreender as coisas, mesmo sem saber ler.

É claro que a criança que chega a escola sem saber ler compreende muita coisa sobre si, sobre as pessoas, sobre o mundo. Quando maior o seu vocabulário e sua capacidade de pensar e articular idéias, mais será capaz de aprender – no mundo, na escola e nos livros. O processo de compreensão se inicia no nascimento e termina com a morte. Ele não para nunca. O processo de aprender a ler é finito, e tem o seu ápice no 1º ano da vida escolar. Podemos compreender muita coisa sem aprender a ler e sem ler. Podemos ler muita coisa sem compreender. Mas só podemos compreender o que lemos se soubermos ler muito bem.

9. O que é “escrita espontânea”? Qual a sua importância para a alfabetizaçã
o?
A escrita espontânea é uma das manifestações do grafismo, da tendência a desenhar, rabiscar ou imitar pessoas escrevendo.

As crianças que vivem em ambientes que valorizam a leitura, e escrita e a escola estimulam as crianças desde cedo a desenhar, rabiscar, copiar letras, fingir que estão escrevendo. As próprias crianças, normalmente a partir de 4 anos, adoram fazer isso. Elas colocam um traço num desenho e dizem que o traço é o nome dela. Ou garatujam uma série de rabiscos e pedem para você ler a história que ela escreveu. A escrita espontânea é isso – parte da pré-história do processo de alfabetização.

Ela ajuda a preparar a criança para o mundo da escrita, lida com os instrumentos da escrita como o lápis e o papel, e com alguns processos da escrita, como a idéia de representar, por meio de desenhos especiais (que chamamos de letras e palavras) as idéias da criança. Antes de iniciar o processo da alfabetização, a escrita espontânea pode ajudar as crianças a desenvolver curiosidade, motivação e interesse pela escrita e por aprender a escrever.

Ao iniciar o processo da alfabetização, a escrita espontânea perde o interesse e o sentido, pois alfabetizar significa exatamente o contrário do processo espontâneo – trata-se de um processo deliberado de dar as crianças instrumentos robustos para que ela adquira os segredos do funcionamento do código alfabético. Tudo a seu tempo e em seu próprio lugar.

10. Qual a diferença entre ser capaz de contar uma história e ser capaz de escrever uma história?

Escrever é muito mais difícil do que ler. Desde cedo as crianças são capazes de inventar, contar e recontar histórias, trechos de histórias ou completar detalhes que faltam. Basta memória e imaginação. A estrutura narrativa é parte de nosso discurso.

A escrita pressupõe muitos outros recursos. De um lado, há os aspectos mecânicos, como a capacidade de escrever (grafar) de forma legível (caligrafia). De outro, há aspectos técnicos, como a forma correta de escrever (ortografia) e sinalizar a pontuação. Isso, claro, depois que o sujeito lembra a forma da palavra a ser escrita. Há aspetos formais, como a disposição do texto na página – um convite se dispõe de forma diferente de um conto ou de um cartaz.

Os aspectos mais críticos residem na organização das idéias, na escolha de palavras, no domínio da sintaxe. Tudo isso requer a mobilização de complexas estruturas cognitivas que, embora mobilizadas ao mesmo tempo na hora de planejar e escrever, requerem um processo de aprendizagem mais longo do que o processo de aprender a ler. Esta é mais uma razão para se aproveitar bem os anos antes da escola e criar nas crianças enormes repertórios de textos lidos – o que vai ajudá-las, e muito, na hora de escrever.

FONTE: http://www.alfaebeto.com.br/imprimeEntrevista.php?id=1

Algumas Considerações a Respeito da Aprendizagem da Leitura e da Escrita


Por Adriana Francisca de Medeiros

A leitura e a escrita, como tantas outras criações humanas, são uma invenção social. Na visão de Tfouni (2004,p.10):

A escrita é o produto cultural por excelência. É de fato, o resultado tão exemplar da atividade humana sobre o mundo, que o livro, subproduto mais acabado da escrita, é tomado como uma metáfora do corpo humano: fala-se nas “orelhas” do livro; na sua página de “rosto”; nas notas de roda “pé”, e o capítulo nada mais é do que a “cabeça” em latim.

Como sabemos, a escrita foi criada há milhões de anos por pessoas que sentiram a necessidade de registrar nas paredes das cavernas as impressões de seu mundo.
O processo de difusão e adoção dos sistemas escritos pelas sociedades antigas, no entanto, foi lento e sujeito, é obvio, a fatores político-econômicos. O mesmo se pode dizer sobre os tipos de códigos escritos criados pelo homem : pictográficos, ideográficos ou fonéticos , todos eles, quer simbolizem diretamente os referentes concretos , quer “representem” o “ pensamento”(ou idéias), ou ainda os sons da fala, não são produtos neutros; são antes resultado das relações de poder e dominação que existem em toda sociedade.(TFOUNI,2004,p.11)

A princípio, os desenhos representavam algo para quem os fazia, mas não eram por si uma escrita, porque não existia uma convenção dos símbolos escritos, e dessa forma não poderiam ser compreendidos, ou seja, lidos. A partir do momento que se procurou entender e interpretar essas inscrições nasceu a leitura. Desde o período da pré-história até os dias atuais os processos de leitura e da escrita evoluíram muito.

Cagliari (1998) levanta a hipótese de que, quem inventou a escrita foi a leitura. Segundo ele, no momento em que alguém teve que explicar para um estranho o que significavam aqueles desenhos, ele se pôs, de certo modo, a lê-los. “(...) Na verdade, a escrita só existe no momento em que alguém lê!” (op. cit., p. 28).

Ainda de acordo com Cagliari , as mais antigas manifestações de escrita, feitas com a intenção de leitura, eram executadas com símbolos, de representação figurativa de coisas da natureza. “(...) a escrita que começou ideográfica, acabou alfabética. (...) a finalidade de qualquer escrita é primariamente a leitura”.

Para responder às exigências de uma comunicação mais eficiente, inventaram-se as consoantes e as vogais e, no ocidente a linguagem tornou-se alfabética – cada som passou a ser representado por uma determinada letra.

Em Morais (1997) vamos encontrar o seguinte esclarecimento: A especialização e o aprofundamento das ciências em torno do universo humano deram lugar de destaque às atividades gráficas já que se tornou impossível transmitir todos os conhecimentos através da fala. Aprender a ler e a escrever deixou de ser privilégio dos mais abastados para se tornar uma preocupação de todos os governos, pois se transformou num termômetro de desenvolvimento social. (op. cit., p. 18)

No decorrer dos séculos, a escola conseguiu fazer transladação da função da escrita. Transformou-a de objeto social em objeto exclusivamente acadêmico.
A partir de reflexões a respeito da origem da escrita, perguntamos: qual tem sido ao objetivo da alfabetização, ou seja, da apropriação da leitura e da escrita para a criança ou para o homem na atualidade? Geralmente esses objetivos se delineiam de forma muito geral nos planos e programas educacionais e de forma muito contraditória na prática de sala de aula e nos exercícios propostos para aprendizagem.

É comum encontrarmos nos objetivos de planos de trabalho, que a criança deve alcançar “o prazer da leitura” e “que sejam capazes de fazer produções textuais”. Portanto, as práticas educacionais denunciam uma verdadeira contradição, os alunos na verdade, na maior parte do tempo que permanecem no âmbito escolar, são obrigados a reproduzir exercícios estereotipados, tirando do quadro “o que vai cair na prova”, para estudar em casa; os momentos destinados à produção e leitura significativa são mínimos e quase não existem. Esporadicamente somos testemunhas de produções do tipo “escreva como foram suas férias”.

A comunicação que é praticada na escola é fora de contexto, sem significado, sem sequer objetivar o acesso a informação, pois a maioria dos textos, trabalhados na escola são narrativas ou literatura de ficção descontextualizados, esquecendo dessa forma que, uma das funções principais da leitura ao longo de toda a escolaridade é a obtenção de informação a partir de escritos.

Resultados de pesquisas em nível nacional têm mostrado o déficit de leitura e escrita que nossos alunos chegam ao final da educação básica ou até mesmo à universidade. A maioria dos alunos apresenta inibição ao escrever com medo de cometer erros de ortografia e dificuldade de dizer por escrito o que são capazes de dizer oralmente. Sentem dificuldades em resumir texto, como também em reconhecer as idéias principais, e as conclusões que se apresentam ao final de cada texto.

A forma como se têm trabalhado os textos desde as séries iniciais, a ênfase na cópia, excluindo tentativas de criar representações significativas, sem levar em consideração o contexto e atualidade, faz com que a escrita se apresente como um objeto alheio à própria capacidade de compreensão. Está ali para ser copiado, reproduzido, porém não compreendido, nem recriado. Este pode ser um dos motivos que tem levado ao alto índice de analfabetos funcionais.

Um dos objetivos sintomaticamente ausente nos planos de trabalho dos professores de alfabetização e de Língua portuguesa, de crianças e jovens é o de compreender as funções da língua escrita e a empregabilidade da mesma na sociedade. Se há séculos a intencionalidade da escrita para o homem tem sido a leitura, se a escrita desde o seu cerne apresentou-se como uma forma de comunicação entre as pessoas, por que a escola não cumpre com esse papel? Por que na escola não se valoriza a função social da escrita? Por que as crianças escrevem tantas coisas sem nexos nos bancos escolares? Será que nós professores estamos sabendo o que ler e escrever?

Referências

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FONTE: http://www.amigosdolivro.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=5976

O GENE DA LEITURA


por Maria Almira Soares*

Existirá? Haverá um gene da leitura? Será o gosto da leitura de ordem genética? Estará no nosso corpo o desejo de ler e a satisfação com a leitura?

Há leitores analfabetos. Há gente que não sabe ler, mas tem em si o gosto de ler. O Amor de Perdição era nacionalmente conhecido e querido num país cuja taxa de analfabetismo rondava os 90%. Não possuíam a técnica, mas como tinham o gosto, pediam-no emprestado a quem o tinha e tornavam-se leitores pelos ouvidos.

Hoje ainda há gente que tem todo o perfil do bom leitor, mas, como não sabe ou mal sabe ler, não pode ler. Será a leitura uma aquisição meramente social, cultural?

O que é um leitor? Pode ter-se adquirido a técnica da leitura, que é oficialmente obrigatória, e não se ser leitor.Os números das estatísticas estão à vista e comprovam-no.

Pode, por outro lado, não se ter essa técnica e ser-se um leitor impotente…Como é ser-se leitor? É gostar de se achegar ao aconchego de uma boa história generosamente dada pela faculdade das palavras; é gostar de gastar os olhos nas letrinhas do jornal, molhar os dedos para lhes soltar as folhas; estreitar a vista coluna acima, coluna abaixo, perder-se na busca da continuação.

Ser leitor é: gostar de estar sossegado e só esforçar os olhos e a cabeça para ficar a saber coisas que, magicamente, sem pincéis nem tinta, têm cor e forma e, sem projetor, têm movimento; é ser-se curioso, e gostar de seguir roteiros e de encontrar respostas; é ser infantil na abertura à fantasia e adulto no jogo dos sonhos escondidos; é o gosto da intriga, do enredo, da novidade e da descoberta; é o gosto dos nomes, das referências, das frases bem-dizentes; o gosto das palavras bem-soantes; o gosto da fuga, de ultrapassar o real pela fuga e lhe fazer uma espera mais à frente, já ficticiamente senhor das suas estratégias.

Ideal é que o ensino da técnica garanta a realização do desejo. Mas o desejo, esse, não se ensina. Provoca-se. Desperta-se. Pro­voca-se a curiosidade, proporciona-se o agrado com o efeito de surpresa. Faz-se com que ler seja acontecer.

A escola pode ser um lugar onde, enquanto se ensina o ler, se desperta a fantasia. O tempo e o modo de ler podem ser vividos na escola como quem aviva um desejo, um fogo que velaremos ao abrigo das coisas da vida que tendem a apagá-lo, fazendo dos livros um espaço pessoal de liberdade, aprendendo que ninguém está no espaço incolor em que as histórias que lemos se tornam reais, senão nós. Só se quisermos e quando quisermos o partilhamos.

A escola pode ensi­nar que ler é uma porta que se abre, um acesso, uma entrada; que, quando alguém abre um livro e se põe a ler, como que fica intocável. Mas não só a escola. Desejável é que aqueles que parecem geneticamente mais dados à leitura contrariem a tendência social para ler pouco, peguem ostensivamente em livros, jun­tem dinheiro para comprar livros, a prestações, se for preciso, como fazem com outros bens; em segredo primeiro, se tiverem vergonha, e, depois, à vista de todos, causem o escândalo da leitura, numa sociedade que não lê, e, depois, talvez, o respeito.

Se não há um gene da leitura reconhecível num exame médico, que se garanta, pelo menos, meios de transmissão social: a escola, e todos os que gostam de ler. Que ninguém diga: quem não quer ler que não leia, colocando no mesmo leque de opções coisas ontologicamente distintas.

Pasmoso é o esforço insano que fazem as escolas para desenvolverem práticas, às vezes espantosas, e espantoso é que ninguém se lembre da hipótese de haver nelas coisas como, por exemplo, a Leitura ao Fim da Tarde.

Ler já foi uma arma da adolescência. Esta perdeu-a, mas deve re­cuperá-la. A leitura já foi um espaço de mudez-surdez, tão caro aos adolescentes, habitado por sonhos e ousadias; era um espaço de imobilidade pesada, atirada contra a presteza e prontidão dos adultos; era um espaço de atraso e de demora, de desculpa, de teimosia, de ultrapassagem subterrânea dos legítimos superiores.

Hoje, o adolescente não suspeita de quão estrategicamente útil lhe poderia ser a leitura, e foge a desgastar-se noutras andanças. Há um vazio imenso a fingir que é movimento e alta voz.

Ler não é uma atividade essencialmente grupal, mas garante ao grupo a existência do indivíduo. Um grupo não é só uma coincidência de gente na mesma escola, na mesma rua, na mesma praia, na mesma discoteca. Não é apenas uma simultaneidade.

No equilíbrio das forças que sustentam um grupo tem de haver um lugar para a distância, para a pertença a si próprio. A lei­tura é um elo que nos solda a alguma coisa de sólido que vai havendo em nós, enquanto a diversidade nos interpela, ao som de uma voz pública que nos pretende ditar, como se fôssemos só uma folha branca onde nos vão inscrevendo. Porque ler é também rejeitar, revelar, identificar, abrir, descobrir.

É muito provável que não haja o gene da leitura, mas tem de haver a educação para a leitura, como imperativo de uma cultura humanista.


*em Como motivar para a Leitura, Lisboa, Ed. Presença, 2003.
FONTE: http://arevoltadasfrases.blogspot.com/2009/05/o-gene-da-leitura_02.html

Luis Fernando Verissimo: de músico tímido a escritor irreverente!


Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou com a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria sua patroa! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção de lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias para saber quem é que manda. In O Gigolô das palavras.


Por Armando Nogueira Júnior


Luis Fernando Verissimo nasceu em 26 de setembro 1936, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Filho do grande escritor Érico Veríssimo, iniciou seus estudos no Instituto Porto Alegre, tendo passado por escolas nos Estados Unidos quando morou lá, em virtude de seu pai ter ido lecionar em uma universidade da Califórnia, por dois anos. Voltou a morar nos EUA quando tinha 16 anos, tendo cursado a Roosevelt High School de Washington, onde também estudou música, sendo até hoje inseparável de seu saxofone.

Jornalista - casado com Lúcia, com quem tem três filhos - iniciou sua carreira no jornal Zero Hora, em Porto Alegre, em fins de 1966, onde começou como copydesk, mas trabalhou em diversas seções ("editor de frescuras", redator, editor nacional e internacional). Além disso, sobreviveu um tempo como tradutor, no Rio de Janeiro.
A partir de 1969, passou a escrever matéria assinada, quando substituiu a coluna do Jockyman, na Zero Hora.

Em 1970 mudou-se para o jornal Folha da Manhã, mas voltou ao antigo emprego.
Em 1975 passou a ser publicado no Rio de Janeiro também. O sucesso de sua coluna garantiu o lançamento, naquele ano, do livro A Grande Mulher Nua, uma coletânea de textos.

Produziu também para a Televisão, criando quadros para o programa Planeta dos Homens, na Rede Globo e, mais recentemente, fornecendo material para a série Comédias da Vida Privada, baseada em livro homônimo.
Escritor prolífero, dentre outras obras escreveu:

O Popular
A Grande Mulher Nua
Amor Brasileiro
As Cobras e Outros Bichos
Pega pra Kapput!
Ed Mort em:
Procurando o Silva
Disneyworld Blues
Com a Mão no Milhão
A Conexão Nazista
O Seqüestro do Zagueiro Central e Outras Histórias,
O Jardim do Diabo
Pai não Entende Nada
Peças Íntimas
O Santinho
Zoeira
Sexo na Cabeça
O Gigolô das Palavras
O Analista de Bagé
A Mão Do Freud
Orgias
As Aventuras da Família Brasil
O Analista de Bagé
O Analista de Bagé em Quadrinhos
Outras do Analista de Bagé
A Velhinha de Taubaté
A Mulher do Silva
O Marido do Doutor Pompeu
A Mesa Voadora
Traçando Paris

Além disso, tem textos de ficção e crônicas publicadas nas revistas Playboy, Cláudia, Domingo (do Jornal do Brasil), Veja, e nos jornais Zero Hora, Folha de São Paulo, Jornal do Brasil e, a partir de junho de 2.000, no jornal O Globo.

Na opinião de Jaguar, Verissimo é uma fábrica de fazer humor. Muito e bom. Meu consolo — comparando meu artesanato de chistes e cartuns com sua fábrica — era que, enquanto eu rodo pelaí com minha grande capacidade ociosa pelos bares da vida, na busca insaciável do prazer (B.I.P.), o campeão do humor trabalha como um mouro (se é que os mouros trabalham). Pensava que, com aquela vasta produção, ele só podia levantar os olhos da máquina de escrever para pingar colírio, como dizia o Stanislaw Ponte Preta. Boemia, papos furados pela noite a dentro, curtir restaurantes malocados, lazer em suma, nem pensar. De manhã à noite, sempre com a placa "Homens Trabalhando" pendurada no pescoço.

Extremamente tímido, foi homenageado por uma escola de samba de sua terra natal no carnaval de 2.000.

BIBLIOGRAFIA:

Crônicas e Contos:


- A Grande Mulher Nua (7)

- Amor brasileiro (7)

- Aquele Estranho Dia que Nunca Chega (2)

- A Mãe de Freud (1)

- A Mãe de Freud (1) (ed. de bolso)

- A Mesa Voadora (6)

- A Mulher do Silva (1)

- As Cobras (1)

- A velhinha de Taubaté (1)

- A versão dos afogados – Novas comédias da vida pública (1)

- Comédias da Vida Privada (1)

- Comédias da Vida Privada (1) (ed. de bolso)

- Comédias da Vida Pública (1)

- Ed Mort em “O seqüestro o zagueiro central” (ilust. de Miguel Paiva) (1)

- Ed Mort em “Com a Mão no Milhão” (ilust. de Miguel Paiva) (1)

- Ed Mort e Outras Histórias (1)

- Ed Mort em “Procurando o Silva” (ilust. de Miguel Paiva) (1)

- Ed Mort em Disneyworld Blues (ilust. de Miguel Paiva) (1)

- As Cobras em “Se Deus existe que eu seja atingido por um raio” (1)

- As Aventuras da Família Brasil, Parte II (1)

- História de Amor 22 (com Elias José e Orlando Bastos) (3)

- Ler Faz a Cabeça, V.1 (com Paulo Mendes Campos) (5)

- Ler Faz a Cabeça, V.3 (com Dinah S. de Queiroz) (5)

- Novas Comédias da Vida Privada (1)

- O Analista de Bagé em Quadrinhos (1)

- O Marido do Dr. Pompeu (1)

- O Popular (7)

- O Rei do Rock (6)

- Orgias (1)

- Orgias (1) (ed. de bolso)

- O Suicida e o Computador (1)

- O Suicida e o Computador (1) (ed. bolso)

- Outras do Analista de Bagé (1)

- Para Gostar de Ler, V.13 - "Histórias Divertidas", com F. Sabino e M. Scliar (3)

- Para Gostar de Ler, V.14 (3)

- Para Gostar de Ler, V.7 – "Crônicas", com L. Diaféria e J.Carlos Oliveira (3)

- Peças Íntimas (1)

- Separatismo; Corta Essa! (1)

- Sexo na Cabeça (1)

- Sexo na Cabeça (1) (ed. de bolso)

- Todas as comédias (1)

- Zoeira (1)

- A eterna privação do zagueiro absoluto (2)

- Comédias para se ler na escola (2)

- As mentiras que os homens contam (2)

- Histórias brasileiras de verão (2)

- Aquele estranho dia que nunca chega (2)

- Banquete com os Deuses (2)

Romances:

- Borges e os Orangotangos Eternos (8)
- Gula - O Clube dos Anjos (2)
- O Jardim do Diabo (1)
- O opositor (2)

Poesia:

- Poesia numa hora dessas?! (2)

Infanto-Juvenis:

- O arteiro e o tempo (ilust. de Glauco Rodrigues (9)
- O Santinho (ilust. de Edgar Vasques e Glenda Rubinstein) (1)
- Pof (ilust. do autor) (10)

Viagens – Culinária:


- América (ilustrações de Eduardo Reis de Oliveira) (4)
- Traçando Japão (ilust. de Joaquim da Fonseca) (4)
- Traçando Madrid (ilust. de Joaquim da Fonseca) (4)
- Traçando New York (ilust. de Joaquim da Fonseca) (4)
- Traçando Paris (com Joaquim da Fonseca) (4)
- Traçando Ponto de Embarque para Viajar 1 (4)
- Traçando Ponto de Embarque para Viajar 2 (4)
- Traçando Porto Alegre (ilust. de Joaquim da Fonseca) (4)
- Traçando Roma (ilust. de Joaquim da Fonseca) (4)

Antologias:


- Para gostar de ler Júnior - Festa de criança (ilust. de Caulos) – (3)
- As noivas do Grajaú – (11).
- Todas as histórias do Analista de Bagé (1)
- Ed Mort - Todas as histórias (1)
- Comédias da vida privada (edição especial para escolas) – (1)
- Para gostar de ler, v. 14 - O nariz e outras crônicas (3)
- Pai não entende nada - Coleção Jovem – (1)
- Zoeira (seleção de Lucia Helena Verissimo e Maria da Glória Bordini)- (1)
- O gigolô das palavras (seleção de Maria da Glória Bordini). (1)
Participações em Coletâneas:

Para entender o Brasil - Organização de Luiz Antonio Aguiar. Alegro, 2001. Texto: “O cinismo de (todos) nós”.

Os cem melhores contos brasileiros do século - Organização de Ítalo Moriconi. Objetiva, 2000. Texto: “Conto de verão nº 2 - Bandeira branca”.

O desafio ético - Organização de Ari Roitman. Garamond, 2000. Texto: “O poder do nada”.

Para gostar de ler, volume 22 - Histórias de amor - Ática, 1999. Texto: “Uma surpresa para Daphne”.

Porto Alegre - Memória escrita - Organização Zilá Bernd. Universidade Editorial, 1998. Texto: “Bola de cristal”.

Contos para um Natal brasileiro - Relume Dumará, 1996. Texto: “White Christmas”.

Contos brasileiros - Organização de Sérgio Faraco. L&PM, 1996. Texto: “A missão”.

Democracia: Cinco princípios e um fim - Ilustrações de Siron Franco. Organização de Carla Rodrigues. Moderna, Coleção Polêmica, 1996. Texto: “Igualdade”.

Continente Sul/Sur - IEL, 1996. Texto: “Conversa de velho”.
O Rio de Janeiro continua lindo - Memória Viva, 1995. Texto: “Vitória carioca”.

Passeios pela Zona Norte - Centro Cultural Gama Filho, 1995. Texto: “As noivas do Grajaú”.

E o Bento levou (charges) - Mercado Aberto, 1995.

Amigos secretos - Artes e Ofícios, 1994. Texto: “Casados x solteiros”.

A cidade de perfil - Organização de Sérgio Faraco. Centro Cultural Porto Alegre, 1994. Textos: “A mal entendida”, “A compulsão” e “Soluções”.

Separatismo - Corta essa! (cartuns) - L&PM, 1993.

Para gostar de ler, volume 13 - Histórias divertidas - Ática, 1993. Textos: “Atitude suspeita” e “O casamento”.

O humor nos tempos do Collor - Com Jô Soares e Millôr Fernandes. L&PM, 1992.

Nós, os gaúchos - Editora da Universidade, 1992. Texto: “A cidade que não está no mapa”.

Cronistas do Estadão - Organização de Moacir Amâncio. O Estado de S. Paulo, 1991.Texto: “Negociações”.

A palavra é humor - Scipione, 1990. Texto: “Lixo”.

Ler faz a cabeça, volumes 1, 2 e 3 - Pedagógica e Universitária, 1990.

Crônicas de amor - Ceres, 1989. Textos: “Amores”.

Sombras e luzes - Um olhar sobre o século - Organização de Hélio Nardi Filho. L&PM, 1989. Texto: “À beira do tapete, à beira do espaço”.

O novo conto brasileiro - Nova Fronteira, 1985.

Rodízio de contos - Mercado Aberto, 1985. Texto: “Tronco”.

Memórias (Revista Oitenta nº6) - L&PM, 1982.

Temporal na Duque (Revista Oitenta nº 5) - L&PM, 1981.

Para gostar de ler, volume 7 - Crônicas. Ática, 1981. Textos: “Confuso”, “Futebol de rua”, “Comunicação”, “Emergência” e “Matemática”.

Toda a verdade sobre Brigitte D’Anjou (Revista Oitenta nº 3) - L&PM, 1980.

Condomínio (Revista Oitenta nº 2) - L&PM, 1980.

Humor de sete cabeças (charges e cartuns) - Sulbrasileiro Seguros Gerais, 1978.

Antologia brasileira do humor - L&PM, 1976.

O tubarão - L&PM, 1976.

QI 14 - Garatuja, 1975.
Editoras:

(1) – L&PM Editores, Porto Alegre (RS)
(2) – Editora Objetiva, Rio de Janeiro (RJ)
(3) – Ática, São Paulo (SP)
(4) – Artes e Ofícios, Rio (RJ)
(5) – Epu, São Paulo (SP)
(6) – Globo, Porto Alegre (RS)
(7) – José Olympio, Rio de Janeiro (RJ)
(8) – Cia. das Letras, São Paulo (SP)
(9) – Berlendis, São Paulo (SP)
(10) – Projeto, Porto Alegre (RS)
(11) – Mercado Aberto, Porto Alegre (RS)

Após mais de 20 anos tendo seus trabalhos publicados pela L&PM Editores, de Porto Alegre (RS), foi anunciada, em 05/07/2000, sua contratação pela Editora Objetiva, do Rio de Janeiro (RJ).

Fonte: http://www.releituras.com/biografias.asp

Otto Lara Resende, mestre das palavras e do jocoso enquanto professor, jornalista e escritor.



"Uma criança vê o que um adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que de tão visto ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher. Isso exige às pampas. Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos.É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença".
(Vista cansada).

Por Armando Nogueira Júnior

Otto de Oliveira Lara Resende nasceu no dia 1°. de maio de 1922, numa casa na Rua da Matola, 9, em São João del Rei, Minas Gerais, onde veio a falecer em 28 de dezembro de 1992. Seu pai, Antônio de Lara Resende, era professor, gramático e memorialista, além de legítimo representante da Tradicional Família Mineira (TFM). Casado com D. Maria Julieta de Oliveira teve 20 filhos, dos quais Otto era o quarto.

O longevo professor — morreu em 1988, com 94 anos de idade — fundou seu próprio colégio em São João del Rei, o Instituto Padre Machado, que teve como aluno, entre outros, o futuro escritor João Guimarães Rosa. O Instituto foi transferido para Belo Horizonte quando a família para lá se mudou, em 1938. Tempos depois, foi entregue ao controle dos padres barnabitas.

Foi em 1938, através de Benone Guimarães, um dos professores do colégio, que Otto fez contato com alguns autores cujos livros o acompanharam por toda sua vida. No colégio estreou como jornalista, tendo desempenhado as funções de "gerente", eleito por voto secreto, do jornalzinho feito pelos alunos.

O professor Benone dirigia o jornal, orientava os colaboradores e exercia as funções de copidesque, pois não permitia de forma alguma a publicação de algo que julgasse impróprio. Com ele, tiveram início as agruras de Otto Lara na imprensa. Não se vendo nos textos publicados, após terem sido alterados pelo rígido professor, o autor chegou a inventar um pseudônimo, que mais era um trocadilho do que qualquer outra coisa:Oh Tu!

Foi através do professor e orientador que teve contato com o Boletim de Ariel, a revista literária dos anos 30, e com a obra de Agripino Grieco, do qual se tornou admirador.

Segundo Otto, foi aí que resolveu ser escritor. "Eu estava convencido de que tinha vindo ao mundo para escrever, para lutar com as palavras, por mais vã que fosse essa luta".

Também por influência de Benone, tornou-se um leitor voraz de Machado de Assis. "A descoberta de Machado de Assis, de sua visão cética, amarga, de sua ironia, de seu sense of humour, desvendou um mundo para mim. Aos catorze, quinze anos, eu talvez fosse mais amargo e mais pessimista do que Machado...".

Nessa época, para deslumbramento do jovem escritor, Alceu Amoroso Lima, ou Tristão de Athayde, famoso autor e pensador católico, vai até São João del Rei para proferir uma conferência no Centro Dom Vital, organização de direita católica da qual seu pai fazia parte, e faz uma visita à sua casa. Vê-lo de perto, engalanado com seu fardão da Academia Brasileira de Letras, levou Otto a constatar que é possível ter duas caras: "Uma convencional, acadêmica e fardada; outra, jovial, humana e simpática".

Seguindo os passos de seu pai, aos 14 anos o biografado já era professor de Francês, que aprendeu por conta própria.

Vale lembrar que, com a Revolução de 30, Minas assumiu o poder cultural do país. Getúlio Vargas nomeou Gustavo Capanema para dirigir sua política educacional e cultural, colocando-o à frente do Ministério da Educação e Saúde Pública. Com carta branca do governo, o Ministro fez sua própria revolução no empoeirado meio cultural da época. Cercou-se de mineiros, nomeando Carlos Drummond de Andrade como seu chefe de gabinete.

Tido como comunista, o poeta não era muito benquisto pela nata da sociedade conservadora, incluindo-se aí os velhos mandarins dos círculos literários oficiais e os representantes da direita católica.

Outro mineiro levado por Capanema ao Ministério foi o escritor e jornalista Rodrigo Melo Franco de Andrade, que foi o criador, em 1937, do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico, hoje Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN. Ajudou-o nessa tarefa o escritor paulista Mário de Andrade, que se tornou uma espécie de mentor e orientador intelectual do grupo de jovens mineiros de que Otto fazia parte.

Em 1938 Otto, no esplendor de seus 16 anos, muda-se com a família para Belo Horizonte, onde morou por sete anos.

"Na carreira literária a glória está no começo. O restante da vida é aprendizado intensivo para o anonimato, o olvido", disse Paulo Mendes Campos, que já era conhecido do biografado desde os tempos de São João del Rei.
Numa Belo Horizonte pequena, com menos de 200.000 habitantes, cuja população era oriunda de outras cidades mineiras que para lá — como a família Lara Resende — havia se mudado em busca de novas oportunidades, ele inicia sua carreira literária.

Naquela época, o poema "No meio do caminho", de Drummond, ainda provocava escândalo. A Tradicional Família Mineira (TFM) e a Igreja, esta representada pelo poderoso arcebispo dom Antônio dos Santos Cabral, exerciam forte patrulha sobre a população.

Otto, que havia nascido com vocação para a galhofa, era um jovem esperto e aplicado. Lecionava Português e Francês no Instituto Padre Machado, do qual era um dos herdeiros, o que levava a crer que seguiria a carreira de professor.

Conhece Fernando Sabino e juntos aderem à causa do escotismo, face ao incentivo da respeitada educadora Helena Antipoff. Nascida na Rússia, a fundadora dos institutos Pestalozzi, após algum tempo no Rio de Janeiro mudou-se para Minas, em 1920, e acabou por transformar-se em uma autêntica mineira.

Freqüenta, com Paulo Mendes Campos, velho conhecido, o curso de inglês. Juntou-se ao grupo Hélio Pellegrino, futuro psicanalista de renome. Os quatro, amigos por toda a vida, formaram o mais célebre quarteto que o Brasil já conheceu. Nas palavras de Otto, os "adolescentes definitivos". Amantes ardorosos da literatura, eram também portadores de feroz sentimento antifascista.

Passando do campo das idéias para o campo das ações, Otto e Hélio, com o suporte financeiro de alguns políticos, entre eles Afrânio de Melo Franco, publicam e distribuem clandestinamente o jornal "Liberdade", contra o Estado Novo. Além de Wilson Figueiredo, outros jovens se juntaram à dupla, cabendo citar Sábato Magaldi, Autran Dourado e João Etiene Filho. Este último teve grande influência na formação intelectual dos "Quatro Mineiros".

Além de professor, a partir de 1939 o autor aceita um convite para trabalhar no Serviço do Imposto Territorial da Secretaria de Finanças de Minas. "Sempre fui funcionário, que fatalidade" — diria ele anos depois. Dessa época vem a amizade com o jornalista Carlos Castello Branco, o "Castellinho", vindo do Piauí para estudar Direito na capital mineira e que trabalhava no jornal "Estado de Minas".

Aos dezoito anos, começa a trabalhar como jornalista no periódico "O Diário", de Belo Horizonte, ao mesmo tempo em que é professor, funcionário público e estudante de Direito. Sua estréia na imprensa, em 1940, se dá com o artigo "Panelinhas literárias". Dai por diante nunca mais deixou de ser jornalista, tendo chegado a editar o suplemento literário do "Diário de Minas". No Rio, anos depois, trabalhou no "Diário de Notícias", "O Globo", "Diário Carioca", "Correio da Manhã", "Última Hora", "Manchete", "Jornal do Brasil" e "TV Globo". Morreu como cronista do jornal "Folha de São Paulo".

Otto dizia ter tido sorte de ter virado jornalista num momento em que as mudanças começavam a acontecer na "lerda e acolhedora" capital mineira.
Já com Gustavo Capanema à frente do Ministério da Educação e Saúde Pública, outro mineiro se sobressai no âmbito regional: Juscelino Kubitschek de Oliveira, nomeado prefeito de Belo Horizonte pelo interventor Benedito Valadares.
Com menos de 40 anos, Juscelino era o único alvo visível quando se queria atingir o Estado Novo, e assim "Os quatro mineiros" agiram. Surpreendidos com a visita do prefeito à mesa onde, entre cafezinhos, discutiam sobre política e literatura, na leiteria "Nova Celeste", fizeram questão de demonstrar a Juscelino que ele não era bem-vindo.

Hélio Pellegrino, em especial, aproveitou a oportunidade para um ajuste de contas com o Estado Novo. Juscelino ouviu, com tranqüilidade, o inflamado Hélio e, vendo que ali não teria espaço para expor suas idéias, levantou-se de repente dizendo: "Entrego os pontos", e foi-se embora.

Entre outras realizações, Juscelino promoveu uma espécie de feira cultural — conhecida como "semaninha" — que pretendia ser um reprodução, em tamanho menor, da Semana de Arte Moderna de 1922. Nela, Otto e amigos tiveram oportunidade de conhecer Oswald de Andrade. Mário já mantinha, nessa época, correspondência com Fernando Sabino, tendo conhecido, depois, os outros membros do grupo.

Em 1945, já formado em Direito, Otto muda-se para o Rio de Janeiro, onde já moravam seus amigos Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos. Vai trabalhar como repórter no "Diário de Notícias". Ao mesmo tempo, permanecia em seu emprego público, tendo em vista que, não se sabe como, havia conseguido a transferência de sua matrícula para o Rio. Depois de servir em diversas secretarias, é nomeado, em 1960, procurador do Estado da Guanabara.

Otto tinha o talento de colecionar e cultivar amizades. Além dos velhos amigos mineiros de infância, logo conquistou Augusto Frederico Schmidt, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Rubem Braga, João Cabral de Melo Neto, Carlos Lacerda, Samuel Wainer e muitos outros mais.

Em 1946, começa a namorar Helena, filha de Israel e neta do ex-governador de Minas, João Pinheiro. Casa-se em 1948, na Igreja do Mosteiro de São Bento, no Rio. Ficaram casados por 44 anos e tiveram quatro filhos: André, Bruno, Cristiana e Heleninha.

Considerava-se "casadíssimo" e não se cansava nem se envergonhava de alardear seu amor pela família. "Como pai, me considero, modéstia à parte, uma mãe exemplar", dizia ele. Levava os filhos à missa dominical, cortava-lhes as unhas, acompanhava o andamento de seus estudos na escola.

Helena leu, antes dos amigos, seus primeiros trabalhos literários. Seu primeiro livro de contos, "Lado Humano", é lançado em 1952 pela "Editora A Noite".

Cinco anos depois, em 1957, a "Editora José Olympio" publica seu segundo livro de contos, "Boca do Inferno". Consta que, logo após seu lançamento, o autor saiu, de livraria em livraria, recolhendo os exemplares, insatisfeito com sua publicação. Se ele ficou insatisfeito, seu pai ficou mais ainda. Em carta, deu um puxão de orelhas no filho, embora já estivesse com 35 anos. Outra reclamação veio de Heráclito Sobral Pinto, militante católico.

Trabalhava na revista "Manchete" nessa ocasião, já há três anos, tendo iniciado como redator-chefe e depois como diretor. Otto cativou Adolpho Bloch, dono da publicação, com sua conversa e, segunda consta, teria Adolpho proposto a ele que construíssem um mausoléu comum, para que ele pudesse continuar ouvindo as histórias do biografado pela eternidade afora.
A revista, nas mãos de Otto, melhorou. Levou para lá o artista plástico mineiro Amílcar de Castro, para cuidar da parte gráfica, e colaboravam Rubem Braga, Lúcio Rangel, Flávio de Aquino, Darwin Brandão e Irineu Guimarães, entre outros.

Alegando estar à beira da estafa, e ainda sob o impacto do lançamento do livro "Boca do Inferno", se demite da "Manchete" e parte com a família para a Bélgica, onde vai exercer as funções de adido cultural brasileiro junto à Embaixada em Bruxelas. Com isso, não teve o desprazer de ver o fim do escândalo: segundo Autran Dourado, a porta do apartamento de Otto aparece coberta de fezes, obra, talvez, da "filial" carioca da TFM.

Terminado, em 1960, o mandato de Juscelino, o escritor, contra a vontade, volta ao Brasil. Sua mulher, Helena, o convence a cancelar contrato já assinado com a UNESCO e a retornar ao Rio de Janeiro.

Cheio de dúvidas quanto a seu futuro e a profissão que iria exercer, sente-se completamente perdido. Disse: "Caí em depressão. Fui para a Procuradoria como advogado substituto". O destino acaba levando-o para o Banco Mineiro da Produção, onde exerceu, por curto período, o cargo de diretor, nomeado pelo amigo Magalhães Pinto, à época governador de Minas Gerais.

José Aparecido de Oliveira, secretário de imprensa do recém empossado Presidente Jânio Quadros, convence-o a fazer do escritor um membro de sua equipe. Mesmo contra sua vontade foi nomeado, à revelia, coordenador da Assessoria Técnica da Presidência. Não chegou a tomar posse, pois logo Jânio renunciou.

Os dias tumultuados que se seguiram fizeram com que Otto fosse chamado pelo amigo Magalhães Pinto, governador de Minas Gerais, para redigir uma declaração que esclarecesse a posição do governador em relação à posse do vice-presidente João Goulart, o Jango. Consta desse documento uma pérola de exemplo da posição "em cima do muro" escrita por Otto: "Minas está onde sempre esteve".

Anos depois, Otto declarou ser, à época, a favor da posse de Jango, tanto que, nada tendo contra ele, a pedido do amigo Jorge Serpa, havia montado uma entrevista (as perguntas e respostas) publicada pela revista "Manchete" pouco antes da deposição do presidente pelos militares. Carvalho Pinto, ministro da Fazenda, não concordou com as declarações de Jango (que na verdade eram de Otto) e demitiu-se.

Seria chamado novamente, em 1964, pelo governador mineiro, para escrever uma carta a João Goulart alertando-o dos riscos da agitação no campo. Dias depois, no Rio, sem saber de nada, João Pinheiro Neto, ministro de Jango, solicita a Otto o favor de escrever uma carta em resposta àquela que Jango havia recebido do governador de Minas Gerais.

Assume a função de editorialista do Jornal do Brasil. Funda, com Rubem Braga e Fernando Sabino, entre outros amigos, a Editora do Autor. Por ela são publicados "O retrato na gaveta" (1962), "O braço direito" (1963). Em 1964 escreveu "A cilada", um conto sobre a avareza no livro "Os sete pecados capitais", publicado pela Civilização Brasileira, em companhia de Guimarães Rosa (soberba), Carlos Heitor Cony (luxúria), Mário Donato (ira), Guilherme Figueiredo (gula), José Condé (inveja) e Lygia Fagundes Telles (preguiça).

Disse Nelson Rodrigues: "A grande obra de Otto Lara Resende é a conversa. Deviam pôr um taquígrafo atrás dele e vender suas anotações em uma loja de frases".
O relacionamento dos dois merece um capítulo especial. Conheceram-se na redação de "O Globo" e a todos espantava o fato de terem se tornado amigos, pois eram pessoas completamente diferentes. Nelson tinha uma vida sentimental tumultuada, enquanto Otto era o exemplo do bom cristão, voltado para a família, um intelectual cuja literatura mesclava prazer, dever e até tortura. Um escritor medido, perfeccionista. Nelson era um vulcão. Escrevia aos borbotões, sem que aparentemente houvesse por trás um projeto literário ou um método.

Nelson adorava pôr amigos (e inimigos também) como personagens em suas peças, crônicas e romances. Aproveitava a oportunidade que seus livros lhe davam para pôr casualmente na boca de personagens, inventados ou não, o que gostaria de dizer por própria conta.

Otto tornou-se um dos personagens da predileção do dramaturgo. Citado em "Asfalto selvagem" (que tem como subtítulo "Engraçadinha, seus amores e seus pecados") e em crônicas, culminou por ser "homenageado" e ter uma peça com seu nome: "Bonitinha mas ordinária ou Otto Lara Resende". O biografado, para sua surpresa e desgosto, figurou escandalosamente em cartazes e no letreiro do Teatro Maison de France, no Rio de Janeiro, em 1962, quando a peça estreou e ficou em cartaz por cinco meses. O nome do escritor é citado 47 vezes pelos atores.

O homenageado detestou a brincadeira. Em represália, não foi assistir ao espetáculo. Com o tempo, o caso foi esquecido e os dois continuaram bons amigos até o fim.

Em 1967, estréia seu programa "O pequeno mundo de Otto Lara Resende" na "TV Globo". Uma participação diária de 60 segundos, onde falaria sobre os acontecimento do dia. Sua maior dificuldade foi a de adaptar-se ao tempo disponível, já que adorava falar pelos cotovelos.

Ainda naquele ano, Otto despede-se temporariamente do "Jornal do Brasil" e da "TV Globo" e muda-se com a família para Portugal, onde residiria por dois anos, exercendo as funções de adido cultural junto à nossa Embaixada naquele país, em pleno governo Costa e Silva. Lá nasceu sua filha mais nova, Heleninha, a temporã que deixou o escritor, então com 45 anos, deslumbrado. Dizia que ter filhos após os 40 era uma beleza. "Consegui ser avô de minha filha e pai de minha neta, eliminando a intermediação antipática do genro".

Quando retornou ao Brasil, em 1969, não trazia consigo nenhuma crise profissional. Só a alegria de um pai extemporâneo. Voltou a trabalhar no "Jornal do Brasil", agora como diretor. Foi de extrema importância sua atuação junto à autoridades que detinham o poder, pois era obrigado a lidar com a censura, atos institucionais, desmandos e tudo o mais que compunham o ambiente da época.

Saiu do "Jornal do Brasil" em 1974 e, logo depois ingressou nas organizações "Globo".

Em 1975, publica o livro de contos "As pompas do mundo".

Em 03 de julho de 1979 é eleito membro da Academia Brasileira de Letras. Toma posse em 2 de outubro do mesmo ano, na cadeira 39, vaga com a morte de Elmano Cardim, em solenidade concorridíssima onde estiveram presentes — fato inédito — seus pais. Apesar de não ter sido um acadêmico exemplar, pois comparecia muito pouco às reuniões, segundo colegas, Otto levou um pouco de graça e brilho à vetusta Academia Brasileira de Letras.

Após ter trabalhado por dez anos nas organizações "Globo" (1974/1984), foi demitido sem saber porquê. A verdade é que tal fato o deixou abaladíssimo. Durante seis anos remoeu essa mágoa e, em 1991, voltou a brilhar em nova fase profissional, quando foi contratado pelo jornal "Folha de São Paulo" como colunista.

Seu retorno põe fim a um período difícil em sua vida. Angustiado, queixava-se da falta de dinheiro e dizia não estar satisfeito com a vida que viveu até então. Deixou a barba crescer, começou a beber além de seu normal e, profundamente deprimido, chegou a se trancar em seu escritório e não participar da passagem de ano com sua família.

Em maio de 1985, um grupo de amigos liderados por José Aparecido de Oliveira, então governador de Brasília, movimentou-se para tirar o escritor da reclusão em que se encontrava, mediante sua nomeação para o cargo de Ministro da Cultura do governo José Sarney. Tudo parecia acertado. Sarney ligou para Otto e formulou o convite. Ele não disse nem que sim e nem que não. Viajou para Petrópolis e depois para Tiradentes (MG) e nunca mais tocou no assunto.

Como se não bastasse, no início de 1989, Otto atropelou uma criança na movimentada Avenida Brasil, no Rio de Janeiro, quando voltava de sua casa de veraneio, em Petrópolis. O escritor prestou-lhe imediato socorro, mas o menino morreu. Ficou comprovado que não teve nenhuma culpa no infausto acontecimento. Em novembro do mesmo ano, seu apartamento foi assaltado e os ladrões levaram tudo o que existia de valor na casa.

Seu velho conhecido, o jornalista Jânio de Freitas, vem de São Paulo com a tarefa de convidar Otto a participar do grupo de articulistas do jornal "Folha de São Paulo". Apesar da má vontade externada pelo escritor em aceitar, Jânio sentiu que com um pouco de insistência o acordo seria fechado.
Veio, então, ao Rio, o editor-executivo da Folha, Matinas Suzuki Jr., para fechar o negócio. A proposta era um desafio: escrever crônicas em seis dias da semana, com não mais de 30 linhas datilografadas. Tudo acertado, o primeiro artigo, publicado no dia 1° de Maio, quando completava 69 anos, intitulava-se "Bom dia para nascer". Ou renascer, como diriam alguns.

A coluna, como não poderia deixar de ser, teve grande aceitação e o número de leitores — e em especial, de leitoras — cresceu sensivelmente. Logo estaria entre os três colunistas mais lidos do jornal. O sucesso, como era da personalidade de Otto, lhe trouxe felicidade e tormento.
Apesar de sua bibliofobia crônica, publicou mais um livro, "O elo partido e outras histórias". Escreveu quase 600 crônicas no período em que lá esteve, de Maio de 1991 a novembro de 1992.

Deixa o jornalismo aos 70 anos e, logo em seguida, a vida. Internado para uma operação sem importância, falece inesperadamente aos 28 de dezembro de 1992, segundo os médicos de "embolia pulmonar" mas, segundo a família, de infecção hospitalar.

Em 1992, a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro homenageou o escritor dando seu nome para uma pracinha no bairro do Jardim Botânico.

O acadêmico Josué Montello, em fala ressaltando as qualidades do amigo falecido, citou os dois versos em que Afrânio Peixoto resumia sua própria biografia: "Estudou e escreveu./Nada mais lhe aconteceu".

Nos tempos de juventude, numa brincadeira, Fernando Sabino fez a seguinte quadrinha para adornar a lápide de Otto:

Aqui jaz Otto Lara Resende
mineiro ilustre, mancebo guapo.
Deixou saudades, isso se entende:
Passou cem anos batendo papo.

Bibliografia:

- O lado humano (contos, 1952)
- Boca do inferno (contos, 1957 e 1998)
- O retrato na gaveta (contos, 1962)
- O braço direito (romance, 1964)
- A cilada (conto, 1965, publicado em "Os sete pecados capitais)
- As pompas do mundo (contos, 1975)
- O elo partido e outras histórias (contos, 1991)
- Bom dia para nascer (Crônicas na Folha de S. Paulo, 1993)
- O príncipe e o sabiá e outros perfis (História, 1994)
- A testemunha silenciosa (Novelas, 1995).

Dados extraídos de livros do autor, da Internet e, em especial, do livro "Otto Lara Resende - A poeira da glória", de Benicio Medeiros, coleção "Perfis do Rio", Relume-Dumará - Rio de Janeiro, 1998.
Fonte: http://www.releituras.com/biografias.asp