21 de novembro de 2008

Moacyr Scliar: um médico que se dedica à Literatura, ou um escritor que se dedica à Medicina?


"Acredito, sim, em inspiração, não como uma coisa que vem de fora, que "baixa" no escritor, mas simplesmente como o resultado de uma peculiar introspecção que permite ao escritor acessar histórias que já se encontram em embrião no seu próprio inconsciente e que costumam aparecer sob outras formas — o sonho, por exemplo. Mas só inspiração não é suficiente".

Por Armando Nogueira Júnior

Moacyr Jaime Scliar nasceu em Porto Alegre (RS), no Bom Fim, bairro que até hoje reúne a comunidade judaica, a 23 de março de 1937, filho de José e Sara Scliar. Sua mãe, professora primária, foi quem o alfabetizou. Cursou, a partir de 1943, a Escola de Educação e Cultura, daquela cidade, conhecida como Colégio Iídiche. Transferiu-se, em 1948, para o Colégio Rosário, uma escola católica.

Em 1955, passou a cursar a faculdade de medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre (RS), onde se formou em 1962. Em 1963, inicia sua vida como médico, fazendo residência em clínica médica. Trabalhou junto ao Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência (SAMDU), daquela capital.

Publica seu primeiro livro, “Histórias de um Médico em Formação”, em 1962. A partir daí, não parou mais. São mais de 67 livros abrangendo o romance, a crônica, o conto, a literatura infantil, o ensaio, pelos quais recebeu inúmeros prêmios literários. Sua obra é marcada pelo flerte com o imaginário fantástico e pela investigação da tradição judaico-cristã. Algumas delas foram publicadas na Inglaterra, Rússia, República Tcheca Eslováquia, Suécia, Noruega, França, Alemanha, Israel, Estados Unidos, Holanda e Espanha e em Portugal, entre outros países.

Em 1965, casa-se com Judith Vivien Oliven.

Em 1968, publica o livro de contos "O Carnaval dos Animais", que o autor considera de fato sua primeira obra.

Especializa-se no campo da saúde pública como médico sanitarista. Inicia os trabalhos nessa área em 1969.
Em 1970, freqüenta curso de pós-graduação em medicina em Israel, sendo aprovado. Posteriormente, torna-se doutor em Ciências pela Escola Nacional de Saúde Pública.

Seu filho, Roberto, nasce em 1979.

A convite, torna-se professor visitante na Brown University (Departament of Portuguese and Brazilian Studies), em 1993, e na Universidade do Texas, em Austin.

Colabora com diversos dos principais meios de comunicação da mídia impressa (Folha de São Paulo e Zero Hora). Alguns de seus textos foram adaptados para o cinema, teatro e TV.

Nos anos de 1993 e 1997, vai aos EUA como professor visitante no Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros da Brown University.

Em 31 de julho de 2003 foi eleito, por 35 dos 36 acadêmicos com direito a voto, para a Academia Brasileira de Letras, na cadeira nº 31, ocupada até março de 2003 por Geraldo França de Lima. Tomou posse em 22 de outubro daquele ano, sendo recebido pelo poeta gaúcho Carlos Nejar.

OBRAS DO AUTOR

Conto


O carnaval dos animais. Porto Alegre, Movimento, 1968.

A balada do falso Messias. São Paulo, Ática, 1976.

Histórias da terra trêmula. São Paulo, Escrita, 1976.

O anão no televisor. Porto Alegre, Globo, 1979.

Os melhores contos de Moacyr Scliar. São Paulo, Global, 1984.

Dez contos escolhidos. Brasília, Horizonte, 1984.

O olho enigmático. Rio, Guanabara, 1986.

Contos reunidos. São Paulo, Companhia das Letras, 1995.

O amante da Madonna. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1997.

Os contistas. Rio, Ediouro, 1997.

Histórias para (quase) todos os gostos. Porto Alegre, L&PM, 1998.

Pai e filho, filho e pai. Porto Alegre, L&PM, 2002.


Romance

A guerra no Bom Fim. Rio, Expressão e Cultura, 1972. Porto Alegre, L&PM.

O exército de um homem só. Rio, Expressão e Cultura, 1973. Porto Alegre, L&PM.

Os deuses de Raquel. Rio, Expressão e Cultura, 1975. Porto Alegre, L&PM.

O ciclo das águas. Porto Alegre, Globo, 1975; Porto Alegre, L&PM, 1996.

Mês de cães danados. Porto Alegre, L&PM, 1977.

Doutor Miragem. Porto Alegre, L&PM, 1979.

Os voluntários. Porto Alegre, L&PM, 1979.

O centauro no jardim. Rio, Nova Fronteira, 1980. Porto Alegre, L&PM.

Max e os felinos. Porto Alegre, L&PM, 1981.

A estranha nação de Rafael Mendes. Porto Alegre, L&PM, 1983.

Cenas da vida minúscula. Porto Alegre, L&PM, 1991.

Sonhos tropicais. São Paulo, Companhia das Letras, 1992.

A majestade do Xingu. São Paulo, Companhia das Letras, 1997.

A mulher que escreveu a Bíblia. São Paulo, Companhia das Letras, 1999.

Os leopardos de Kafka. São Paulo, Companhia das Letras, 2000.

Na Noite do Ventre, o Diamante. Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 2005.


Ficção infanto-juvenil

Cavalos e obeliscos. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1981; São Paulo, Ática, 2001.

A festa no castelo. Porto Alegre, L&PM, 1982.

Memórias de um aprendiz de escritor. São Paulo, Cia. Editora Nacional, 1984.*

No caminho dos sonhos. São Paulo, FTD, 1988.

O tio que flutuava. São Paulo, Ática, 1988.

Os cavalos da República. São Paulo, FTD, 1989.

Pra você eu conto. São Paulo, Atual, 1991.

Uma história só pra mim. São Paulo, Atual, 1994.

Um sonho no caroço do abacate. São Paulo, Global, 1995.

O Rio Grande farroupilha. São Paulo, Ática, 1995.

Câmera na mão, o Guarani no coração. São Paulo, Ática, 1998.

A colina dos suspiros. São Paulo, Moderna, 1999.

Livro da medicina. São Paulo, Companhia das Letrinhas, 2000.

O mistério da Casa Verde. São Paulo, Ática, 2000.

O ataque do comando P.Q. São Paulo, Ática, 2001.

O sertão vai virar mar, São Paulo, Ática, 2002.

Aquele estranho colega, o meu pai. São Paulo, Atual, 2002.

Éden-Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 2002.

O irmão que veio de longe. Idem, idem.

Nem uma coisa, nem outra. Rio, Rocco, 2003.

Navio das cores. São Paulo, Berlendis & Vertecchia, 2003.


Crônica

A massagista japonesa. Porto Alegre, L&PM, 1984.

Um país chamado infância. Porto Alegre, Sulina, 1989.

Dicionário do viajante insólito. Porto Alegre, L&PM, 1995.

Minha mãe não dorme enquanto eu não chegar. Porto Alegre, L&PM, 1996. Artes e Ofícios, 2001.

O imaginário cotidiano. São Paulo, Global, 2001.

A língua de três pontas: crônicas e citações sobre a arte de falar mal. Porto Alegre.


Ensaio

A condição judaica. Porto Alegre, L&PM, 1987.

Do mágico ao social: a trajetória da saúde pública. Porto Alegre, L&PM, 1987; SP, Senac, 2002.

Cenas médicas. Porto Alegre, Editora da Ufrgs, 1988. Artes&Ofícios, 2002.

Se eu fosse Rotschild. Porto Alegre, L&PM, 1993.

Judaísmo: dispersão e unidade. São Paulo, Ática, 1994.

Oswaldo Cruz. Rio, Relume-Dumará, 1996.

A paixão transformada: história da medicina na literatura. São Paulo, Companhia das Letras, 1996.

Meu filho, o doutor: medicina e judaísmo na história, na literatura e no humor. Porto Alegre, Artes Médicas, 2000.

Porto de histórias: mistérios e crepúsculos de Porto Alegre. Rio de Janeiro, Record, 2000.

A face oculta: inusitadas e reveladoras histórias da medicina. Porto Alegre, Artes e Ofícios, 2000.

A linguagem médica. São Paulo, Publifolha, 2002.

Oswaldo Cruz & Carlos Chagas: o nascimento da ciência no Brasil. São Paulo, Odysseus, 2002.

Saturno nos trópicos: a melancolia européia chega ao Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 2003.

Judaísmo. São Paulo, Abril, 2003.

Um olhar sobre a saúde pública. São Paulo, Scipione, 2003.


Obras traduzidas para outros idiomas
Inglês


The Centaur in the Garden (novel). New York, Ballantine Books, 1985. Pocket Edition, 1988; The University of Winscosin Press, 2003.

The Gods of Raquel (novel). New York, Ballantine Books, 1986. Pocket Edition, 1988).

The Carnival of the Animals (short stories). New York, Ballantine Books, 1986.

The Ballad of the False Messiah (short stories). New York, Ballantine Books, 1987.

The Strange Nation of Rafael Mendes (novel). New York, Crown Books, 1988.

The Volunteers (novel). New York, Ballantine Books, 1988.

The Enigmatic Eye (short stories). New York, Ballantine Books, 1989.

Max and the Cats (novel). New York, Ballantine Books, 1990; New York, Plume, 2003; Toronto, Key Porter Books, 2003.

The Collected Stories of Moacyr Scliar. Albuquerque, New Mexico University Press, 1999.

Espanhol

El Centauro en el Jardín (novela). Madrid , Editorial Swan, 1985; Barcelona, Círculo de Letras, 1986.

La Extraña Nación de Rafael Mendes (novela). Barcelona, Circe Ediciones, 1988.

El Ejercito de un Solo Hombre (novela). Buenos Aires, Contexto, 1987; Bogota, Tercer Mundo, 1988.

La Oreja de Van Gogh. La Habana, Casa de las Americas, 1989.

Las Plagas y Otros Relatos. Caracas, Editorial Memorias de Altagracia, 1996.

La Mujer que Escribió la Biblia. Mexico, Alfaguara, 2001.


Francês

Le Centaure dans le Jardin (roman). Paris, Presses de la Renaissance, 1985.

L'Étrange Naissance de Rafael Mendes (roman). Paris, Presses de la Renaissance, 1986.

Le Carnaval des Animaux (contes). Paris, Presse de la Renaissance, 1987; Le Serpent à Plumes, 1998.

Max et les Chats (roman). Paris, Presses de la Renaissance, 1991.

Oswaldo Cruz le Magnifique (roman). Paris, Belfond, 1994.

Sa Majesté des Indiens (roman). Paris, Albin Michel, 1998.

Max et les Félins (roman) Québec, Les Intouchables, 2003.
Alemão

Der Zentaur im Garten (Roman). Hamburg, Hoffman und Campe, 1985; Berlin (DDR), Verlages Volk und Welt, 1988; Hamburg, Rowolt, 1989.

Die Ein-Mann-Armee (Roman). Stuttgart, Edition Weitbrecht, 1987; Goldmann Verlag, 1989.

Das Seltsame Volk des Rafael Mendes (Roman). Stuttgat, Edition Weitbrecht, 1989.


(Todos os livros traduzidos por Karin von Schweder-Schreiner).
Português (Portugal)


O centauro no jardim (romance). Lisboa, Caminho Editorial, 1986.

A orelha de Van Gogh (Contos). Lisboa, Pergaminho, 1994.

A majestade do Xingu . Lisboa, Caminho Editorial, 2001.
Holandês

De Centaur in de Tuin (Roman). Amsterdam, Werldsbibliothek, 1994.
Hebraico

Hakentaur ba Gan. Tel Aviv, Maariv Book Guild, 1988.
Italiano

L'Orecchio di Van Gogh. Roma, Voland, 2000.

Il Centauro nel Giardino, Roma, Voland, 2002.
Tcheco

Leopardi Franze Kafky. Praha, Aurora, 2002.
Russo

(The Centaur in the Garden, O centauro no jardim). Moscow, Amphora, 2002.

Participação em Antologias (Exterior)

Opowidanic brazylijskie. Krakow, Widawinctwo Literackie, 1977.

Brazil - an Anthology of the Literary Review. New Jersey, Farleigh Dickinson University, 1978.

Unsere Freunde die Diktatoren. Munchen, Verlag Autoren Edition, 1980.

Humor and Satire. Varno, Bulgaria, Georgy Bakalov Publishing House, 1980.

Latin-America Forteller. Oslo, den Norske Booklusen, 1980.

Zitrongras. Köln, Kiepenheuser & Witsch, 1982.

Diser Tag Voller Vulkane. Bremen, Verlay Atelier, 1983.

Nouvelles brésiliennes. Montreal, Dérivés, 1983.

A posse da terra. Lisboa, Imprensa Nacional, 1985.

Contes et chroniques d'expression portugaise. Paris, Presses Pocket, 1986.

Ein neuer Name, ein Freundes fesicht. Sarmstad, Lunchterhand, 1987.

Cuentos judíos latinoamericanos. Buenos Aires, Raíces, 1989.

The Faber Book of Contemporary Latin American Short Stories. London, Faber and Faber, 1989.

Cuentos Brasileños Contemporáneos. La Habana, Editorial Arte y Literatura, 1991.

Der Lauf der Sonne in den Gemässigten Zonen. Berlin, Edition Dia, 1991.

A Hammock Beneath the Mangoes: Stories from Latin America. New York, Dutton, '99'.

Fallen die Perlen von Mond. München, Piper, 1992.

Nachdenken über Eine Reise Ohne Ende. Berlin, Babel Verlag, 1994.

Lire en Portugais (Contes). Paris, Le Livre de Poche, 1994.

Brasilien Erzählt. Frankfurt am Main, Fischer, 1994.

Nueva Antología del Cuento Brasileño Contemporaneo. Mexico, Unam, 1996.

Brasil Littéraire. Paris, Liberté, 1996.

Trettí Breh Reky. Praha, Dauphin, 1996.

Contes de Noël Brésiliens. Paris, Albin Michel, 1997.

The Picador Book of Latin American Stories (eds.: Carlos Fuentes & Julio Ortega). London, Picador, 1998.

Here I Am: Contemporary Jewish Stories from Around the World. Philadelphia and Jerusalem, The Jewish Publication Society, 1998.

Repercussão no exterior

"Scliar's voice is a fresh onde, his artistic roots as firmly fixed in Jewish tradition and mythology as they are in Brazil's literary history." (Alan Ryan: A Samba to the Music of Time: The Strange Nation of Rafael Mendes, by Moacyr Scliar. The Washington Post, 21.2.98).

"Consider this an 800-word petition, urging upon readers the pleasures of a novel by a Brazilian master." (Herbert Gold: Jonah was Claustrophobic: The Strange Nation of Rafael Mendes, by Moacyr Scliar. The New York Times Book Review, 21.2.88).

"Scliar's originality makes a striking impression on the American reader." (Duncan Robertson: Short Stories from a Brazilian Original: The Ballad of the False Messiah, by Moacyr Scliar. San Francisco Chronicle, 10.1.88).

"The Centaur in the Garden is a comedic novel, a regionalist novel, a bawdy erotic novel, a realistic novel of bourgeois alienation, a metaphoric novel, a fantastic phantasmagorical novel - a weaving of the common and the mythic, a mating of contrasts and opposites." (Jack Dann: Straight from the Centaur's Mouth: The Centaur in the Garden, by Moacyr Scliar. The Washington Post, 12.5.85).

"One of Brazil's finest fabulists." (Alberto Manguel, Ghostwriting for God: Moacyr Scliar's Divine Fables. Village Voice, 16.12.1986.

Os dados acima foram obtidos em livros diversos, no sítio da Academia Brasileira de Letras e na revista Entrelivros.
Fonte: http://www.releituras.com/biografias.asp

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