18 de outubro de 2008

A atração exercida pelo poder é enorme e maior para os que se sentem privados dele

CRIANCAS
Gladis Maia

Os pais usam o poder para controlar os filhos porque também foram controlados quando jovens. Tendo sido vítimas do poder, estão dispostos a exercê-lo mesmo sobre seus filhos, meio mais acessível para o exercício. Alexander Lowen

O poder é controlador e demolidor! Ergue uma parede entre o homem e o seu meio. Protege-o, mas também o isola! A teoria psicanalítica oferece vastas explicações sobre como este processo se desenvolve na vida dos indivíduos. Ela diz que é no relacionamento entre pais e filhos que os efeitos mais daninhos do poder são encontrados, porque ele sempre é utilizado para controlar as crianças, supostamente para seu próprio bem, mas, na verdade, está centrado absolutamente no interesse dos pais.

A teoria prega que o efeito do poder – e todo castigo é um exercício do poder, assim como as agressões verbais ou físicas – nega a individualidade da criança, reprime sua auto-expressão e anula seu direito de discordar. E o principal: é ali (e só ali) na tenra infância, que aprendemos a lidar com o poder que obtivermos – ou não - futuramente na vida.

Sempre que a criança se sente privada de prazer - e são inúmeros os momentos que isto acontece pois, no seu mundo, o importante é brincar com o que quiser, a hora que bem entender - lutará para continuar obtendo-o. Inúmeras também são as possibilidades disso acabar criando conflitos com seus pais. A solução do impasse criado entre ambos logo se transformará numa questão de poder, porque os pais percebendo ameaçado o seu direito de controlar a situação, não hesitam em usar mais poder para fortalecer a sua vontade.

Segundo Freud e seus seguidores, a briga entre pais e filhos se originaria da dificuldade daqueles em lidar com o senso de onipotência que o bebê traz ao nascer, derivado de sua vida intra-uterina, quando todas as suas necessidades são automaticamente satisfeitas e que é fortificado, durante o período de amamentação no peito. Para o bebê só existe o seio da mãe, ele é o mundo, e se o encontra sempre ao seu alcance, sentir-se-á como se fosse o dono do universo.

Só gradualmente a crescente consciência da criança fará perceber a mãe como um todo, independente de si. Mas enquanto ela responder às suas exigências sendo carregado e amamentado, ainda se sentirá onipotente em sua capacidade de comandar um mundo maior.

Nenhum outro contato entre filho e mãe pode ser tão íntimo e tão pleno como a amamentação e por isso o desmame representará uma experiência traumática, tão inevitável como o nascimento. A criança neste período entra num novo mundo, no qual lentamente reconhece não ser mais onipotente, percebe que outros indivíduos têm necessidade que devem ser satisfeitas e que a cooperação mútua é necessária. Dependendo do grau em que suas exigências orais foram satisfeitas, aceitará o novo mundo com condições diferentes e com perspectivas de novos prazeres.

A criança que nesse sentido não foi satisfeita será carente. Ao se encontrar emocionalmente privada do prazer a que tem direito como bebê, psicologicamente é despojada da sensação de onipotência e importância. A privação é amenizada se a mãe a carrega ninando-a com carinho e amor, mas de qualquer maneira a perda do prazer do seio constitui uma carência.
Embora seja impossível conciliar a vida moderna com as exigências psicológicas, o ideal é que a criança fosse amamentada até cerca de três anos ou mais...

Diz a Psicanálise ainda, que uma vez que a falta de poder está associada, na mente das crianças, à ausência de prazer, parece lógico que o prazer só possa ser obtido através do poder. Em conseqüência disto, a imagem do sucesso é a realização ilusória da criança que foi privada do seio materno. Quem procura o poder e luta pelo sucesso possui uma fixação em nível infantil. Seu sonho reside em conseguir poder ou sucesso, quando então poderá descansar, pois todos os seus desejos serão realizados pelos outros.Terá poder para comandar o ambiente a fim de que suas necessidades sejam satisfeitas. Será indulgente consigo mesmo, coisa que lhe foi negada quando pequeno.

Os únicos que conseguem lidar construtivamente com o poder são os que foram satisfeitos na infância e sabem aproveitar bem a vida. O poder deveria carregar consigo a enorme responsabilidade de não ser utilizado para propósitos do ego, pois em nossa ganância podemos destruir facilmente a beleza da terra. Na verdade não estamos muito longe disto.

Quando o poder está nas mãos de alguém carente, a situação torna-se perigosa. Não importa se esse poder signifique dinheiro, automóvel de grande desempenho ou uma arma, o risco do bem-estar humano é grande. Da mesma forma o poder político, que concede a um indivíduo mal formado sentar-se na cadeira que detém o poder, pois apenas com sua caneta poderá cometer verdadeiros crimes, imitando, na maioria das vezes seus ídolos de criança, que passa a personificar. Pelo poder sindicatos fazem greves, estudantes promovem desordens e nações entram em guerra.

Há um velho ditado que diz que o poder corrompe as pessoas, geralmente aplicado a governantes ou a indivíduos em posição de autoridade, mas que na realidade se expande a todo e qualquer manutenção de poder. Desconhecer a força inserida no poder destituído de responsabilidade e ética, é ignorância, pois infelizmente ele tanto pode ser conduzido para a construção como para a destruição, da terra e de tudo que ela contém, especialmente seu mais precioso bem: as vidas humanas.

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