18 de outubro de 2008

Saibam que enquanto as crianças brincam o universo conspira a favor delas

brincadeira 1
Gladis Maia

... não seria possível imaginar uma criança que não desejasse ser ativa,como o é quando brinca, pois o brincar representa a liberação de uma atividade que deseja se libertar do cerne do ser humano. Rudolf Steiner

Em nossa civilização, predominantemente técnica, as crianças estão perdendo cada vez mais a sua capacidade inerente de brincar. Num tempo em que já se denominou o vício do computador de transtorno mental - que atinge preferencialmente aos adolescentes que navegam incessantemente pela INTERNET - e para o qual já há remédios à venda e especialistas ao dispor, urge que deixemos, observemos e incentivemos a brincadeira entre as crianças. Em casa, nos pátios, nas praças, nas ruas, nos parques e nas escolas de Educação Infantil, salvaguardando, mais do que nunca a sua saúde e crescimento psíquico, emocional e social.

Tenham cuidado!!! Especialmente aqueles pais que orgulham-se de seus pequenos já entenderem mais do que eles de computação e que acham normal que eles não gostem muito de brincar, de sair, não possuem muitos amiguinhos e preferem ver TV ou brincar no computador... Quem pensa que presas em casa as crianças encontram-se mais seguras, longe da violência, por certo só entende de violência à mão-armada, que sem sombra de dúvidas não é a única e nem sempre a mais perigosa...

Criança que realmente curte o seu tempo gosta de brincar com areia, com barro, com pedrinhas, com flores e outros elementos, tanto que, não raro, gosta de trazer para casa alguns desses brinquedos nos bolsos ou nas mãos... Entregue à exploração do mundo não está, como nós adultos, preocupada com sujar-se ou não... Gosta de animais, como cachorro e gato e embriaga-se ao ver uma plantinha sair de dentro da semente, especialmente se foi ela quem plantou...

Brincar é nada mais nada menos, do que um processo natural e sábio de desenvolver a inteligência e a fantasia tão necessárias à infância. E, para que isso aconteça é necessário que a criança tenha liberdade para criar e mobilidade para ir ao encontro de seus objetivos, não sendo indicados para esta fase os brinquedos prontos,que reduzem as possibilidades por meio de uma pré-determinação de seu uso.
Qual o adulto que não traz na memória suas próprias recordações ou já observou outra criança, profundamente entretida em sua ação, numa poça d´água; num jardim, dançando por entre as árvores; trepando num monte de terra ou num resto de muro caído, amassando e rasgando papel num canto da sala, amontoando caixas vazias, fazendo andar rolos de papel higiênico e tantas outras peripécias?

Quem traz na retina dos olhos essas imagens, certamente, reconhecerá o que significa para as crianças esse brincar cheio de vida! São observações, descobertas de mundos que a criança contata e que a marcam de forma significativa para toda a sua vida.

Pelo contato com diversos materiais as crianças aprendem sozinhas, sem que lhe ensinem, importantes leis fundamentais, da vida e do mundo. Aprende o que significa, por exemplo: duro-mole; áspero-liso; maleável- elástico móvel; superior - inferior; direita - esquerda; perpendicular –horizontal - vertical; equilíbrio-desequilíbrio; alto-baixo; comprido-curto; forte-fraco,etc.

E,o que é mais importante: aprende brincando, livre da chatice das aulas tradicionais! Vivencia, com todo o seu ser, sem ter noção de conceitos abstratos ou de denominações esdrúxulas, que para nós adultos são corriqueiras, mas que, por dominá-las perdemos, ou pelo menos nos dificultam, a experiência pura e objetiva dos fatos.

Pelo manuseio ativo dos materiais a criança vivencia, elementarmente, o mundo, as formas e as qualidades de tudo o que existe. Ligada, intimamente, a tudo, a criança vê o mundo que a rodeia, sem distanciamento, em união com os objetos ou seres vivos. Livre, sem sentir-se confrontada com o mundo que a rodeia, como o sentem a maioria dos adultos.

O caminho da individualização será – ou pelo menos assim deve ser – feito, passo a passo, pela criança,lentamente, por si só, ao seu tempo. Devemos ter paciência – ou aprender a tê-la – ouvir e ver o que é expressado no brincar daquela criança pequena, em especial, sem interferir, sem julgar, sem dirigir, sem desencantar estes momentos com o nosso intelecto, derrubando os muros de fantasia que a separam de nós. Se não tivermos leveza e capacidade para transpô-lo e com ela brincar, pelos menos não metamos o nosso bedelho onde não fomos chamados, porque nós nos tornamos severos, secos e frios em relação a esse mundo criativo, original e cheio de forças plasmadoras dos cérebros em exercício de crescimento, que é por demais importante para a verdadeira vida infantil.

O auto-desenvolvimento da criança será sempre pelo brincar livre! Os adultos precoces apenas parecem pessoas felizes, jamais o serão, desajustados emocionalmente um dia pagarão muito caro por isso, eles e também nós, que os auxiliamos a crescer queimando etapas necessárias ao seu desenvolvimento sadio.

O brincar feliz na infância é a maior herança que pais e professores das escolas de Educação Infantil podem deixar aos pequenos. Por isso, criemos para elas um espaço - dentro do tempo e do próprio espaço físico, como em muitas culturas milenares elas possuem - para que elas possam encontrar, naturalmente, o seu caminho dentro do mundo e também encontrarem-se a si mesmas.

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