18 de outubro de 2008

O pensamento objetivo pouco ajuda nos conflitos que enfrentamos todos os dias


Gladis Maia

A mãe não consegue responder ao filho com base no pensamento objetivo. Se interpretar corretamente o choro e reage com sentimento às suas necessidades. A mãe que tenta ser objetiva em relação ao filho,rejeita sua função natural e, na verdade, abandona a criança. Deixa de ser mãe para se tornar uma força impessoal. Alexander Lowen

Não se pode manter relacionamentos objetivos, os relacionamentos objetivos reduzem as pessoas a meros objetos. O pensamento nunca pode - ou deve - vir divorciado do sentimento. Como tudo que fizemos é determinado pelo nosso desejo de prazer ou pelo medo da dor, medo de sofrer, nenhum ato nosso será totalmente imparcial, conterá sempre, no mínimo, um interesse pessoal.Segundo a Psicologia, todo pensamento relaciona-se a um sentimento, e percorre os caminhos de apoio ou de oposição ao sentimento. E isso acontece de acordo com o caráter de cada indivíduo.

Entre as pessoas tidas como sadias, os pensamentos e os sentimentos caminham paralelamente, refletindo a unidade da personalidade. Quando os pensamentos se opõem aos sentimentos, com muita freqüência, especialmente nas áreas de conflito, estamos diante de pessoas taxadas de neuróticas. E se os pensamentos e sentimentos são dissociados, estaríamos diante de psicóticos.

Portanto, o chamado pensamento objetivo nada mais representa do que uma resistência ao tratamento, à cura. Os pacientes mais difíceis de serem tratados são aqueles que mantém uma imparcialidade intelectual ao falar sobre seus problemas. A comunicação entre paciente e médico – ou psicólogo – se reduz a um exercício intelectual que não produz nenhum efeito sobre o comportamento do paciente.

Para sermos realmente objetivos devemos reconhecer e expressar em nossas atitudes pessoais os nossos sentimentos. Sem essa base subjetiva, a tentativa de ser objetivo acaba sendo pseudo-objetiva. O termo utilizado em Psicologia para a pseudo-objetividade é racionalização. Utilizamos o mecanismo da racionalização para negarmos nossos sentimentos subjetivos que motivam os pensamentos ou as ações e para justificar nossas atitudes ou comportamentos com razões causais. “Fiz isso porque...” É quando colocamos a responsabilidade de nossos comportamentos em algo ou alguém, alguma força exterior.

Evidentemente, que em algumas circunstâncias o motivo até poderá ser válido, mas geralmente constitui uma desculpa de fracasso ou de inadaptação... Raramente tais conjeturas satisfazem aos outros. Ao invés de oferecer razões, é muito melhor expressar sentimentos e desejos.

Diante destas considerações, dá para perceber o porquê do pensamento objetivo receber tamanha importância, sendo considerado como a mais alta realização da mente humana. A ênfase na Educação está dirigida, acima de tudo, para o desenvolvimento desta capacidade. Os teóricos de várias especialidades, em muitos lugares deste planeta, assim o consideram porque o pensamento objetivo, especialmente o abstrato, é visto por eles como a fonte primordial do conhecimento. E conhecimento é poder e a pessoa com esse poder - ou que possa fornecê-lo - ocupa uma posição superior nessas sociedades.

O poder do conhecimento é também uma das maiores vantagens para a segurança da comunidade, embora tenha pouco valor na determinação do bem-estar emocional do indivíduo. Já o pensamento criativo, ao contrário, encontra-se profundamente enraizado na atitude subjetiva. Os grandes pensamentos filosóficos contêm uma forte conotação subjetiva, perceptível ao leitor sensível. Essa tendência pessoal ou subjetiva, não só acrescenta um sabor ao escrito filosófico, como transforma o trabalho intelectual em um documento humano. Os trabalhos sem essa qualidade são áridos e sem atrativos. Os trabalhos criativos - sejam nas Artes, na Ciência, ou na vida - surgem da subjetividade.

Mas não pensem que a pessoa criativa é incapaz de pensar abstratamente, ao contrário. Suas abstrações, entretanto, surgem de seus sentimentos refletindo-as. As bases subjetivas e o desenvolvimento abstrato do pensamento criativo são uma unidade orgânica que não está presente no chamado pensamento puramente objetivo.

Segundo Lowem, as pessoas encontram dificuldades para pensar criativamente porque seu pensamento subjetivo encontra-se perturbado, por uma questão de formação. Elas aprenderam que deveriam considerar o pensamento subjetivo como inferior. Ensinaram-lhes que deveriam desconfiar de seus sentimentos e justificar seus atos com razões. E também que o prazer não é um objetivo suficiente forte para justificar a vida. Devido a essa distorção, sua capacidade intelectual é utilizada para racionalizar seu comportamento ou desviada para assuntos impessoais. Não é raro encontrar um bom pensador carente do chamado senso comum.

Nossos pensamentos comuns, em sua maioria, são subjetivos: pensamos sobre nós mesmos, como nos sentimos, o que vamos fazer, como o faremos e assim por diante... O pensar desempenha um duplo papel em relação ao sentir. Quando a pessoa tenta pensar objetivamente, o pensar se opõe ao sentir. Em outros momentos ele é subjetivo e altamente colorido de sentimentos.

Ao pensar subjetivamente a linha de pensamentos corre paralelamente a dos sentimentos, e ao se pensar objetivamente ela correrá em direção contrária a do sentimentos, isto é, a pessoa verá seus sentimentos criticamente. Faz-se mister um esforço da vontade para nos tornarmos objetivos em nosso processo de elaborar pensamentos.

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