15 de dezembro de 2008
Aos professores e pais, para refletirem com muito carinho.
Gladis Maia
Não pode haver diversão sem prazer, o que nem sempre
depende da razão, porém, mais freqüentemente, da imaginação;
faça a seu próprio modo. John Lock
Muitas vezes os adultos procuram impor medo às crianças ou conquistá-las com elogios. Há que se ter cuidado com estes dois elementos, pois estamos falando diretamente aos seus sentimentos, sem contar que esses procedimentos poderão ter uma grande influência na formação de sua personalidade, com conseqüências que podem durar uma vida inteira.
O que é bonitinho numa criança pode ser muito enjoado, para não dizer contraproducente, num adolescente ou num adulto ... A criança tem o direito de gostar do que gosta. É uma violência forçá-la a gostar do que os outros gostam ou daquilo que seria normal que ela gostasse. Forçada ela terá duas saídas; uma é aceitar a imposição, embora demonstrando má vontade, deixando claro que logo que puder voltará a fazer o contrário, ou poderá achar mais cômodo fingir que se rendeu à imposição, fazendo de conta que mudou seu gosto... Com isso poderá surgir a revolta, o distanciamento afetivo. É neste momento que ela aprende a ser desleal, falsa e dissimulada.
A criança tem o direito de obter uma resposta quando quiser saber o porquê daquilo que lhe está sendo ensinado. O exemplo mais extremado desse problema ocorre em nome da tradição, através da imposição de regras e de atitudes que retiram dela a realidade presente, fazendo-a querer alguma coisa imutável pelos séculos e séculos, amém.
É absurdo os educadores pretenderem que os alunos vivam hoje uma situação de ontem, até porque cada época tem suas características e suas exigências. Outra atitude perigosa, oposta à tradicional, é aquela que recusa qualquer regra no processo de educação, pretendendo que a própria criança, com seu querer livre, dirija inteiramente o processo. Essa atitude adotada por muitos educadores, pais ou professores, parte do equívoco de que qualquer ensinamento ou orientação já e uma agressão à liberdade. O que também poderá ser fruto do comodismo ou do desejo de fugir às responsabilidades.
O ideal é que não houvesse punições e sim uma educação preventiva, mas, se necessário, devemos tratar, externar, tanto a punição, a proibição como a advertência de modo inteligente, racional e lógico, pois assim a criança não a receberá como demonstração de raiva, intolerância ou incompreensão.
É evidente que a criança tende a recusar a maioria das tarefas que exijam dela muito esforço, preferindo fazer apenas o que é mais fácil e lhe dá maior prazer. Mas ao mesmo tempo, ela gosta de perceber que é capaz de vencer desafios e fazer descobertas. Quem já não viu uma criança que não sabe ainda nem pronunciar direito as palavras e diz, rejeitando a ajuda da gente: “Eu conchigo...” ?
Cabe ao educador criativamente descobrir meios de interessá-la nas tarefas necessárias à sua aprendizagem e ao seu desenvolvimento intelectual. Com firmeza e inteligência é preciso dizer à criança que ela está executando um trabalho importante e que se for persistente, se concentrar, conseguirá vencer com facilidade, a tarefa. Estabelecido o jogo, os progressos começam a aparecer.
Outro desafio: como dizer não? De forma não sistemática, para que a criança perceba que, quando houver possibilidade e conveniência, seus desejos serão atendidos. É preferível que a criança fique sabendo, ainda que minimamente, os motivos da negativa. É necessário que o ato se dê com tranqüilidade e firmeza, sem violência. Pais ou professores que levantarem a voz ou fizerem ameaças, por gestos ou palavras, jamais conseguirão convencê-la de que estão agindo com justiça e boa vontade.
Há educadores que recorrem ao seu poder de sedução para conquistar, em curto prazo, a confiança das crianças. Quando estão de bom humor, fazem questão de participar das brincadeiras infantis, complacência paternalista que é habitualmente intercalada por explanações de irritação, que os fazem ridículos aos olhos dos pequenos que não são bobos e percebem o seu jogo...
Há também aqueles ambiciosos que, com jactância, acreditam que é fácil transformar crianças – e mesmos adolescentes - por meio de palavras persuasivas e moralizantes. Na realidade o que acabam suscitando é tédio e mau-humor nos alunos.
E há ainda professores – e também pais - aparentemente bem intencionados, que recorrem a discursos hipócritas para convencer as crianças dos seus propósitos de solidariedade, justiça e honestidade , e que, felizmente, menos dia, mais dia acabam sendo desmascarados, vistos em sua falsidade e incoerência mostrada entre o discurso e a práxis.
Pena é que fica o sentimento de mágoa causada por aqueles em quem a criança confiava e, por isto mesmo elas acabam respondendo a isso com má vontade ou revolta.
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