24 de outubro de 2008

J.M.G. Le Clézio: O Nobel da errância




"Escritor da ruptura e da aventura poética", foi o distinguido.

SÉRGIO ALMEIDA


Indigitado há anos para o Nobel da Literatura, Jean-Marie Gustave Le Clézio foi finalmente o escolhido da Academia Sueca. O anúncio só foi surpreendente devido ao 'timing', já que, ao contrário de outros anos, Le Clézio não era um dos favoritos.

Vinte e três anos depois de Claude Simon, o Nobel da Literatura voltou a premiar um escritor francês. É certo que Gao Xingjian, distinguido em 2000, possui nacionalidade francesa, mas tal deveu-se à perseguição de que foi alvo no seu país, a China. No entanto, J.M.G. Le Clézio está longe também de ser o produto de uma só cultura Viajante incansável, o escritor não tardou a trocar a Nice natal por destinos mais remotos, como a Nigéria, Banguecoque, Estados Unidos ou México. Uma espécie de busca pelo paraíso perdido que os seus livros reflectem na perfeição.

No breve comunicado que justificou a atribuição, o porta-voz da Academia Sueca destacou "o escritor da ruptura, da aventura poética e da sensibilidade extasiada" que se assume como "o investigador de uma humanidade rara debaixo da civilização reinante".

Nos mais de 50 títulos escritos ao longo de uma carreira literária com 45 anos que se espraia pelo romance, ensaio e até livros infantis, há ideias recorrentes: a viagem, o exílio, a íntima harmonia com a Natureza e a nostalgia dos mundos primitivos estão entre as principais. A forte pulsão que percorre estes textos, a par do interesse por culturas díspares, levou-o a ser apodado de "escritor nómada", "índio citadino" ou "panteísta magnífico".

Tolhido pela surpresa com o anúncio, Le Clézio foi parco em palavras, embora tenha confessado sentir-se "emocionado e sensibilizado". "Como qualquer prémio literário, este representa tempo ganho", completou.

Por maior visibilidade que o prémio agora outorgado possa atribuir-lhe, Le Clézio, de 68 anos, é um consagrado de longa data. Logo com "Le procès-verbal", romance que publicou aos 23 anos, conquistou o prémio Renaudot. Em 1994, a revista "Lire" elegeu-o "o maior escritor vivo da língua francesa", mas o próprio Le Clézio confessou que teria sido mais justa a atribuição a Julien Gracq.

Questionado sobre as suas expectativas quanto ao impacto do prémio, o autor, de nacionalidade francesa e maurícia, diz esperar apenas que os romances continuem a merecer a preferência dos leitores, pois "são uma forma excelente de interrogar o mundo actual".

A entrega do prémio e o correspondente cheque superior a um milhão de euros está marcada para 10 de Dezembro, mas, já este mês, no dia 25, o autor do recente "Ritournelle de la faim" (ainda não traduzido para português) desloca-se a Estocolmo para receber o Prémio Stig Dagerman, com o qual foi agraciado em Junho.


Fonte : Jornal de Notícias Data: 2008-10-10
http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Cultura/Interior.aspx?content_id=1025201

Nenhum comentário: