7 de maio de 2009

COMO, EM PLENO SÉCULO XXI, DEIXAR DE DAR VISIBILIDADE ÀS DIFERENÇAS NA ESCOLA ?




Gladis Maia

Um dia, escola será só escola. Nem especial, nem integradora ou inclusiva. Sociedade? Sociedade. E ponto.Cláudia Werneck, in Sociedade Inclusiva: quem cabe no seu todos?, WVA, R.J., 1999.


Através da Resolução 45/91, de 1990, durante a Assembléia Geral das Nações Unidas, a ONU documentou o ideal de uma sociedade inclusiva, que, segundo esta mesma resolução, deverá ser implementada, no mundo todo, até o ano de 2010.

No Brasil, dentro destes parâmetros, a nova LDB, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, também prevê a construção da escola inclusiva, desde o ano de 2007, juntamente com outras determinações estabelecidas pela lei em questão.

Vemos então que - no papel pelo menos - esta dívida milenar com os excluídos, de todas as categorias, começa a ser paga. A dívida da diferença entre o que a sociedade oferece e o que deveria oferecer aos seus cidadãos em termos de: Saúde, Trabalho, Educação, Comunicação, etc...

Felizmente crescem avassaladoramente no mundo todo e mesmo no nosso meio, do Iapoque ao Chuí, além das ONGs , os grupos de protagonismo juvenil, embora pouco noticiado na mídia. Muitos são os jovens que se dispõem a trabalhar voluntariamente por causas sociais, as mais variadas. Há luz no fim do túnel, apesar da escuridão gerada pela violência que também cresce formidavelmente ...

Aliás, nem sei se cresce tanto ou se é a insistência com que este tema é veiculado na mídia, que nos transmite esta impressão... Percebo que as matérias que tratam deste tema são transmitidas com muitos holofotes e lentes de aumento – objetivando talvez, além de ibope (porque o ser humano em geral adora uma tragediazinha, desde que não seja na família dele), nos atemorizar e vender grades, cadeados, armas e congêneres...

Na verdade não o soubemos com certeza, trata-se apenas da observação e de alguns estudos de intelectuais preocupados com este assunto e outros semelhantes. Mas sabemos que se as grandes organizações da comunicação social brasileira fossem mais sérias, mais responsáveis e seguissem o exemplo de centenas de rádios comunitárias, pasquins e revistas alternativas - ecológicos, digamos assim – espalhados por este país continental, seriam elas também Arauto de um Novo Tempo, Abre-alas, Porta-bandeiras dos Direitos Humanos, dos Direitos Culturais, dos Direitos Educacionais... Se constituiriam na Comissão de Frente da Vida Humana, com todas as Alas desfilando com alegria e ginga, repletas de esplendor, pois quem não tem o seu brilho próprio, mesmo que muitas vezes ofuscado pela indiferença ou pelo desprezo dos seus semelhantes?!

A construção de um mundo inclusivo não deve ser luta restrita dos excluídos e das famílias de pessoas com deficiência... A diversidade humana no seu todo e, mais especificamente a deficiência, podem, e devem, se constituir em uma estratégia catalisadora da Justiça Social e do fomento das redes de pessoas, de profissionais, de conselhos, de entidades governamentais e não-governamentais, de instituições em geral, em prol de um mundo melhor, onde reine a harmonia, a paz, o amor, o respeito às diferenças, a ética, enfim o bem-estar geral de todos.

A escola brasileira precisa deixar de refletir, de reproduzir a nossa sociedade excludente, visualizada pelos escandalosos índices de reprovação e de evasão escolar...

A escola brasileira precisa tornar-se um bem público na acepção plena do termo, ou seja, servir a todos que a procuram, sem distinção, priorizando parcerias éticas entre crianças e adolescentes em geral, reproduzindo a humanidade como ela é, em toda a sua extensão. A escola inclusiva é a saída para a crise do Sistema de Ensino Brasileiro, de índole segregacionista e competitivo.

Precisamos, enquanto educadores, nos conscientizar de que talvez a raiz desta incompetência para resolver os problemas da educação brasileira de educar para a vida, para a cidadania, esteja localizada na farsa dos contextos educacionais, à semelhança de seus conteúdos desenvolvidos e valores cultivados, tanto na escola regular, como na especial.

A vida não é assim: só doentinhos e com problemas de aprendizagem nas APAES e classes especiais, pobres e pouco inteligentes nas escolas públicas, ricos e inteligentes nas escolas particulares... A vida é tudo isto junto e muito mais, é polifônica e multifacetada!

Nós os professores, a olhar para esta sociedade preconceituosa, excludente, temos um quinhão de culpa - nada pequeno, inclusive - pois ajudamos a formar estes cidadãos de quinta categoria que aí estão, tais quais os políticos inescrupulosos que ao invés do bem público, pensam no seu próprio bem, como se os votos que receberam da população lhe outorgassem o direito de se locupletar com o dinheiro arrecadado do suor dos trabalhadores, pois estes são os que menos sonegam impostos, que se não vem descontados de sua folha de pagamento, porque o salário é minguado, mas estão em cada produto que consomem...

Formar cidadãos, enquanto estudantes, não implica necessariamente trabalhar, ensinar - e praticar- ética, solidariedade, flexibilidade, intuição, sensibilidade, criatividade, entre outros valores, aliados à técnica e ao conhecimento acadêmico?

Se não é na Escola que devemos aprender a ser cidadão, aonde é então?

As dificuldades e limitações de cada aluno (reais e temporárias - ou não) não funcionariam como estímulo para o enfrentamento dos desafios da vida comunitária que transcendem o conteúdo e os demais ensinamentos que as salas de aula mal tem conseguido proporcionar aos alunos?

É difícil? É, muito! Até porque enquanto educadores temos que nos desnudar dos nossos preconceitos, dos nossos medos e receios de falhar, de não agüentar tanta dor tão perto de nós...

Mas lembrem-se que ninguém descansa de seus talentos, muito menos de suas deficiências – e as temos às vezes em número bem significativo - portanto, a sociedade em geral, e você que me lê especialmente , não tem direito ao descanso. À luta por um mundo inclusivo!Namastê!

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